Antônio Lopes atribui críticas a preconceito por sua idade
Gerente de futebol do Botafogo é o principal alvo de reclamações por ano ruim do clube
© Vitor Silva / SSpress / Botafogo
Esporte Carta
Após um início promissor, o Botafogo encerrou a temporada de 2017 com um melancólico 10º lugar no Brasileiro, fora, até mesmo, da pré-Libertadores. Na competição continental, eliminação para o Grêmio nas quartas. Sem título no Carioca ou Copa do Brasil, um ano que tinha tudo para ser bom, terminou rodeado de críticas. E um dos principais alvos no clube é o gerente de futebol, Antônio Lopes (esquerda na foto).
Irritado com as reclamações, Lopes escreveu uma carta rebatendo as críticas, além de ter ressaltado o preconceito por conta de sua idade.
+ Laís Souza: 'Não adiantaria ficar lamentando. Fui tocar minha vida'
Leia abaixo na íntegra a carta escrita pelo dirigente do alvinegro:
"Tenho visto algumas críticas em relação à mim, principalmente em redes sociais e parado para analisar a respeito. O que me surpreende é que na maioria absoluta das ocasiões não falam a respeito da competência (ou da falta de ) do meu trabalho. Só falam que sou velho e que já tenho que estar em casa cuidando dos meus netos, com grande dose de ironia. Em um país que se combate tanto o preconceito em relação à raça, cor, opção sexual, pouco se discute o preconceito em relação à idade.
Na minha visão, a idade (tanto para mais quanto para menos ) não interessa muito. Pelé foi campeão do mundo com 17 anos, Ronaldinho com 18 . Graças a Deus, tive a oportunidade de lançar inúmeros talentos por nunca ter medo de apostar em jovens, como Romário, Edmundo, Dener, Felipe, Pedrinho, Leonardo, Rafinha, Miranda, entre outros.
Tenho 76 anos muito bem vividos. Com muito orgulho e agradecimento à Deus de me dar bastante saúde e disposição para praticar todas as minhas atividades. No trabalho, quem vive o meu dia-a-dia sabe que sou o primeiro a chegar e último a sair do clube. Em relação a questão física pratico religiosamente a minha caminhada de 8 km na orla Ipanema-Leblon ou pelas viagens no Brasil afora acompanhando a delegação do Botafogo. Muitas vezes acordo seis horas da manhã para fazer essas atividades e antes das nove já estou no clube para trabalhar.
Não vou falar de todos os meus trabalhos e conquistas como treinador(quem quiser ter maiores detalhes acesse www.antoniolopes.com.br), pois a maioria das pessoas conhece minha história. Mas quero lembrar que no fim de 2011 resolvi aposentar como treinador e decidi me preparar ainda mais para a função que exerço hoje. Aos 70 anos de idade fui para uma sala de aula me preparar durante um ano inteiro fazendo o curso de gestão da IAJ ( conceituada empresa de gestão nos esportes). Tive vários convites para trabalhar como treinador em 2012 (mesmo depois disso quando já trabalhava como gestor) e nunca aceitei porque mudei definitivamente de função e não queria ficar “pulando de galho em galho” .
No fim de 2012 , o presidente Petraglia soube que havia concluído o curso de gestão e me convidou para iniciar essa nova fase em minha vida . Trabalhei lá por um ano e meio e foi maravilhoso. O Atlético Pr é um clube de vanguarda e fizemos um trabalho elogiado por todos, planejando pela primeira vez de uma equipe sub 23 disputar toda uma competição estadual, revelando vários jogadores, que renderam frutos financeiros para o clube e conquistas importantes como o vice campeonato da copa do Brasil e terceiro lugar no campeonato brasileiro, classificando para a Copa Libertadores.
Após sair do Atlético, com o reconhecimento do trabalho lá executado, fui convidado pelo presidente Carlos Eduardo Pereira a trabalhar no Botafogo. Eram tempos difíceis, o clube vindo de uma queda de divisão nacional, tendo feito a pior campanha da história em campeonatos estaduais e com apenas seis jogadores para o ano de 2015 . Com o trabalho fantástico do presidente, de toda a sua direção , atletas e funcionários conseguimos revitalizar o clube e conquistar resultados exemplares tanto dentro de campo como fora dele. No primeiro ano vencemos a taça Guanabara, chegamos a final do estadual e fomos campeões da série B com 3 rodadas de antecedência ( fato que alguns grandes clubes que disputaram a competição não conseguiram nos últimos anos). No segundo ano chegamos novamente à final do campeonato estadual e quando muitos achavam que tínhamos grandes chances de cair novamente de divisão em nível nacional, conseguimos classificar para a copa libertadores. No terceiro ano, as expectativas foram crescendo ao longo do ano, chegamos à semi final da copa do Brasil, quartas de finais da copa Libertadores (perdendo para o campeão e tendo sido o brasileiro que chegou mais longe na competição depois do Grêmio) e um décimo lugar no campeonato brasileiro, devido a uma queda brusca no fim da competição, que já conversamos bastante para detectar os motivos e tentar não repetí-los na próxima temporada.
Muitas pessoas acham que o trabalho do gestor é somente o de montar o elenco. A montagem do elenco passa por muitas pessoas e setores do clube. O trabalho do gestor vai muito além disso. O dia-a-dia, a convivência com os atletas, formar um bom ambiente de trabalho generalizado. Eu, como ex treinador, tenho orgulho em dizer que nesses 3 anos o clube só teve 3 treinadores (René Simôes, Ricardo Gomes e Jair. Dos 20 clubes de série A, acho difícil algum ter tido menos treinadores nesse período). Todos três desenvolveram trabalhos muito bons.Lógico que eles e suas comissões técnicas têm o grande mérito nisso, mas tenho a consciência do suporte que lhes proporcionei. Desses 3, apenas o René não deu continuidade ao trabalho por opção do clube, já que o Ricardo teve a opção de sair e o Jair tem contrato até o fim de 2018. Além de todos esses resultados quero ressaltar o excelente trabalho de integração feito com as categorias de base do clube, que gerou e ainda vai gerar muitos lucrosfinanceiros e no campo para o clube.
Em 2015 fui eleito o terceiro melhor executivo do Brasil e em 2016 o segundo pela CONAFUT (Conferência Nacional do Futebol), em votações realizadas com 40 membros da imprensa de todo o país e 40 executivos do futebol (20 da série A e 20 da série B) .
Vale lembrar ainda que exercí essa mesma função na seleção brasileira por dois anos e que teve como auge a conquista do pentacampeonato mundial 2002.
Me desculpem por esse desabafo, quem me conhece sabe que não costumo falar das minhas conquistas, mas precisava fazer esses esclarecimentos e acima de tudo (principal objetivo deste texto) tentar fazer com que as pessoas reflitam e assim como fazem em relação à cor, raça e opção sexual, tentem minimizar também o preconceito em relação à idade.
Excelente 2018 para todos !
Antonio Lopes "