'Está mais fácil ser negro na Globo', diz ator do 'Fora de Hora'
Paulo Vieira e Renata Gaspar são os âncoras do novo programa de humor da Globo
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Paulo Vieira aparece na televisão desde, pelo menos, 2014, quando venceu a quinta edição do Prêmio Multishow de Humor. Desde então, passou por Globo e Record, e voltou à primeira em 2019, quando entrou para os elencos dos humorísticos "Zorra" e "Escolinha do Professor Raimundo".
Também ganhou um quadro próprio no vespertino Se Joga, Isso É Muito Minha Vida, em que faz uma mulher pobre conhecida apenas como Mãe. Mesmo assim, seu nome ainda não é automaticamente reconhecido pelo público.
"Eu sou muito ninguém", diz Vieira, rindo em entrevista pelo telefone. "Alguém pode comprar um ingresso para o meu show achando que vai ver a palestra de um coach que tem o mesmo nome que eu e é muito mais famoso."
Isso pode mudar em breve. Nesta terça (21), estreia "Fora de Hora", uma sátira ao telejornalismo criada pela mesma equipe responsável pelo extinto "Tá no Ar". Paulo Vieira e Renata Gaspar são os âncoras do novo programa, que ainda tem Marcelo Adnet, Marcius Melhem, Júlia Rabello e muitos outros no elenco.
Vieira alcançou uma façanha e tanto para alguém que não só não se encaixa nos padrões estéticos vigentes, como vem de longe dos grandes centros. Nascido há 27 anos em Trindade, interior de Goiás, se mudou aos 12 anos para Palmas, no Tocantins, onde mora toda a sua família.
"É o meu lugar favorito do mundo", diz ele sobre a cidade onde cresceu. "Vou todo mês para lá, às vezes mais de uma vez. Hoje eu tenho um apartamento em São Paulo e passo a maior parte do tempo no Rio, mas meu endereço oficial ainda é em Palmas."
Vieira chegou a vender salgadinho na rua para ajudar no orçamento doméstico, e só teve acesso à internet quando chegou à adolescência. "Na primeira vez em que eu fui a uma lan house, quis saber quando ia ter show de uma cantora que eu tinha acabado de conhecer, a Elis Regina", conta Vieira. "Chorei quando descobri que ela já tinha morrido. Aí fui pesquisar sobre o Tom Jobim, o Dorival Caymmi... Chorei pela MPB inteira naquele dia."
As dificuldades econômicas não impediram que Vieira, por volta dos 15 anos, abrisse com a mãe uma empresa produtora de eventos. "Nós trouxemos muita gente legal para se apresentar em Palmas, que é um lugar meio inóspito à cultura. Criamos o Festival Internacional de Teatro de Bonecos e a Mico, Mostra Internacional de Comédia."
Foi nessa época que ele também começou a fazer números de comédia stand-up, algo que nem sabia que tinha esse nome. Acabou chamando a atenção dos próprios humoristas que levava para Palmas e foi convidado a se apresentar em São Paulo.
A vitória no Prêmio Multishow rendeu a ele um contrato com a Globo, em 2015, para fazer esquetes de humor no "Domingão do Faustão", ao lado de Tirulipa e Gabriel Louchard. O trio acabou entrando poucas vezes no ar e o contrato não foi renovado, mas Vieira se sente grato pela experiência. Especialmente por ter tido a chance de estudar com Wilson Gava, um preparador de comunicadores.
Depois de um ano de penúria, o comediante viu sua sorte virar em 2017, quando entrou para o elenco fixo do Programa do Porchat, o talk show que Fabio Porchat comandou na Record durante dois anos. Quando a atração terminou, ainda tentou ficar na emissora. Ouviu que não tinha perfil de apresentador.
Mas logo chegaram convites da Netflix, para um especial e duas séries, e de Marcius Melhem, que dirige o departamento de humor da Globo. Vieira aceitou o segundo, pela possibilidade de falar a um público maior.
"Está mais fácil ser negro na Globo", afirma ele. "A representatividade está aumentando. Há mais atores e roteiristas negros." E espaço para fazer o tipo de humor que Vieira gosta. "Não faço só palhaçada. Eu quero falar da essência do ser humano", diz Vieira. "Minha primeira função é fazer rir, é claro. Mas a segunda é avisar que existem coisas como a pobreza, a desigualdade. Se trocar a música de fundo, vira uma tragédia."
FORA DE HORA
Quando: Estreia nesta terça, às 23h10, na Globo
Elenco: Paulo Vieira, Renata Gaspar, Marcelo Adnet e Júlia Rabello
Direção: artística Lílian Amarante