Mãe de duas filhas negras, Samara Felippo fala de racismo e engajamento
A atriz conta que procurou blogs, reportagens específicas e ativistas negras para entender questões como apropriação cultural e racismo
Samara Felippo e filhas
© Reprodução/ Instagram
Fama Maternidade
Samara Felippo, 38 anos, é mãe de duas meninas negras, Alícia, 8 e Lara, 4 anos. Ela afirma, em entrevista ao site da Uol, que o engajamento social, especialmente contra o racismo, tem sido um processo enriquecedor, abraçado de maneira intrínseca por conta das filhas.
A atriz explica que foi a partir de dilemas levantados pela mais velha, Alícia, que percebeu que precisava passar maior confiança como progenitora. "Por que não existem meninas com o cabelo cacheado na minha escola? Eu não gosto do meu cabelo", chegou a perguntar a pequena.
Samara também notou, nesse momento, que necessitava aprender a cuidar dos cachos da filha. "Não tinha parado para pensar nos cachos, até que vi que existia xampu específico, cronograma capilar, óleos que podem e que não podem ser usados. Achava que entendia tudo, mas somos tão arraigados com racismo, machismo e todos esses preconceitos, que cometemos erros sem perceber. Como manter o cabelo amarrado para abaixar o volume ou pentear e fazer comentários do tipo ‘como dá trabalho’. A criança cresce pensando que o cabelo dela é um fardo", relata ela.
+ Filha de Deh Secco brinca com batom e mãe diz: 'Coração não aguenta'
Apesar do esforço da mamãe, a ausência de semelhança física com as filhas pesa no dia a dia. "Elas não se veem representadas em lugar nenhum. E é muito óbvio, pois não existe representatividade negra na mídia, na moda, nos desenhos animados, nos brinquedos. Uma criança negra crescer com um monte de Barbie loira ao redor é doído. Na sala dela, só tem um menino negro, mas ela não se vê ali”, desabafa a atriz, que precisou procurar blogs, reportagens específicas e ativistas negras, como a Djamila Ribeiro e a blogger Raiza Nicácio, para entender questões como apropriação cultural e racismo.
O engajamento
A atriz está aprendendo na marra, se questionando e também se divertindo. "Junto com isso vem a identidade, a segurança. Esse processo tem sido enriquecedor. Mudou a minha postura como ser humano. Uma mãe branca com uma filha branca jamais vai parar para escutar a luta negra e mostrar para filha que um cabelo black, cheio, crespo, encaracolado não é estranho, é apenas diferente", reflete.
Aos 38 anos, o amadurecimento de Samara também está interligado com a transformação profissional pela qual a atriz que cresceu diante das câmeras passou. "Quando eu parei de atuar na Globo, virei outra pessoa. Foram 16 anos seguidos fazendo novela, uma atrás da outra. Quando meu contrato acabou, meu mundo caiu, parecia que não tinha mais vida. O que me despertou foi descobrir que existia e existe um mundo cheio de possibilidades", comenta.
Prestes a lançar um blog (ainda sem nome e data definidos) sobre questões raciais e representatividade infantil, Samara adianta que pretende entrevistar personalidades negras acompanhada da filha mais velha, Alícia. A atriz Sheron Menezes, que está grávida e já escreveu um livro infantil sobre uma princesa negra, deve ser uma das primeiras convidadas.