Líder do PCC e do tráfico em Paraisópolis deve ser solto nesta quinta
Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, conseguiu diminuir sua pena de extorsão mediante sequestro graças a leitura de livros e a participação em cursos dentro da prisão
© iStock
Justiça Crime organizado
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um homem apontado pela polícia paulista como um dos principais chefes do PCC e como líder do tráfico de drogas na favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, deve ser posto em liberdade nesta quinta-feira (9).
Preso atualmente na penitenciária de segurança máxima de Catanduvas (PR), Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, conseguiu diminuir sua pena de extorsão mediante sequestro graças a leitura de livros e a participação em cursos dentro da prisão.
Preso desde agosto de 2008, Silva cumpre pena no sistema federal desde 2012. Na ocasião, ele foi transferido a pedido governo paulista depois que órgãos de inteligência o apontaram como mandante do assassinato de policiais.
A ordem judicial para sua soltura já foi encaminhada para a unidade paranaense, que deve soltá-lo ainda nesta quinta. Ele não será o primeiro líder do PCC a deixar uma prisão pela porta da frente. A lista inclui, entre outros, André de Oliveira Macedo, 43, o André do Rap, e Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue -o primeiro está foragido, enquanto o segundo foi morto durante em uma guerra interna da facção.
O promotor Lincoln Gakiya, especialista em PCC, disse que Piauí é uma liderança importante do PCC, sendo o primeiro preso paulista enviado para o sistema federal.
"A soltura dele representa um perigo muito grande. É um indivíduo que teve e tem contato com a liderança do PCC, com Marcola e demais lideranças da facção que estavam no sistema federal. Agora, solto, poderá assumir novas funções na rua para o PCC", disse ele.
"Ele tem um poder econômico elevado, atendido por dezenas de advogados particulares", afirmou o promotor. Ainda segundo Gakiya, o Ministério Público de São Paulo desconhece outra condenação de Piauí -ou seja, não há nenhum impedimento legal para que ele seja solto.
De acordo com o colunista do UOL Josmar Jozino, especialista em crime organizado, a Justiça Federal informou em 2019 que Piauí recebeu 44 visitas de advogados no período entre maio de 2015 e janeiro de 2017 , mesmo sem possuir fonte de renda na época.
O texto também afirmava que ele tinha cometido cinco faltas graves durante o período que esteve preso. Além de Catanduvas, Piauí passou pelos presídios de Mossoró (RN), Porto Velho (RO) e Campo Grande (MS). Nos dois últimos, chegou a liderar greves de fome dos presos, o que fez com que fosse colocado no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), o mais rigoroso do sistema prisional brasileiro.
Para o sociólogo Luis Flavio Sapori, professor da PUC Minas e especialista em segurança pública, a legislação de execução penal no Brasil é muito mais leniente do que em outros países e coloca poucos empecilhos para a progressão de regime.
"A perspectiva da lei prevalecente é favorecer o máximo possível o retorno do preso ao convívio social. Isso é relevante e justificável, mas para presos com trajetória criminal menos grave, e não para presos ligados a organizações criminosas", afirma ele.
"A segurança pública paga um preço muito alto por essa ausência de critérios legais mais rigorosos para a liberação de indivíduos envolvidos no crime organizado", finaliza Sapori.
Além das ordens para o assassinato de policiais em 2012, a polícia também afirma que, Piauí também teria ordenado de dentro da prisão um tumulto na favela de Paraisópolis que durou ao menos três dias em 2009 .
A Folha de S.Paulo não conseguiu contato com o advogado de Piauí.