Sítio usado por PMs em São Paulo tinha cal e munição
No local, foram encontrados os corpos de cinco jovens
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Justiça Mogi das Cruzes
A Corregedoria da Polícia Militar encontrou munição e cal durante cumprimento de mandado de busca e apreensão em um sítio frequentado por policiais militares próximo do terreno em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, onde os corpos de cinco jovens foram encontrados com sinais de execução. Eles estavam desaparecidos desde o dia 21 de outubro.
Os corpos estavam enterrados em covas rasas e cobertos com cal. Cartuchos de calibre .40 de um lote comprado pela Polícia Militar também foram encontrados no local onde os cadáveres foram achados, em avançado estado de decomposição. A descoberta reforça a hipótese de participação de policiais militares na morte dos jovens.
O mandado de busca e apreensão havia sido requisitado ao Tribunal de Justiça Militar (TJM), que atendeu o pedido feito pela Corregedoria. O Inquérito Policial Militar (IPM) aberto para investigar o caso corre em segredo de justiça por determinação do TJM.
Até o começo da noite desta terça-feira, 8, o secretário estadual da Segurança Pública, Mágino Alves, aguardava o relatório das diligências e não fez comentários. Ele não descarta a participação de policiais no caso mas, pela manhã, em entrevista à Radio Estadão, disse que "existem outras duas linhas de investigação que estão sendo levadas a cabo tanto pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) quanto pela Corregedoria da Polícia Militar" e que a participação de policiais "não é a principal linha (de investigação)".
Um dos pontos ainda em apuração é que, segundo a análise dos peritos que fizeram a necropsia nas vítimas, os corpos tinham balas de revólver calibre 38 - diferentes, portanto, do calibre .40 das cápsulas encontradas ao lado dos cadáveres em Mogi.
Vítimas.
O Instituto Médico-Legal identificou nesta terça-feira o corpo de César Augusto Gomes da Silva, de 19 anos. Segundo familiares, ele estava sendo ameaçado pelo irmão de um guarda-civil municipal de Santo André, no ABC paulista, que foi assassinado. O rapaz foi identificado pela impressão digital, que pôde ser colhida mesmo com o estado de decomposição do corpo.
Na segunda-feira, 7, os peritos do IML já haviam identificado Caíque Henrique Machado Silva, de 18 anos, e Robson Fernando Donato de Paula, de 16. A Secretaria da Segurança Pública informou que os corpos serão liberados às famílias. Integrantes do Conselho Estadual de Proteção aos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) que acompanham o caso disseram que os familiares das vítimas pretendem fazer uma cerimônia coletiva para o velório dos jovens, mas não havia confirmação se seria nesta quarta-feira.
Proteção.
O Condepe estuda ainda pedir a inclusão de ao menos uma das famílias das vítimas no programa de proteção às testemunhas. Familiares teriam relatado ameaças de policiais. "A família disse que foi procurada por policiais, que perguntaram para eles 'quando vai ser o enterro dos noias'. Eles estão com medo", disse a conselheira Cheila Olalla. "O pedido não foi feito porque a família ainda não nos pediu isso expressamente", disse.
Cheila afirmou que o medo da polícia seria um dos motivos de os familiares preferirem a realização de um enterro coletivo, mas eles insistem na liberação dos corpos para que peritos externos possam analisar os cadáveres antes do enterro. "Eles não confiam na polícia." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.