Morte de jovens ainda é 'quebra-cabeça de mil peças', diz delegada
A polícia ainda não sabe quantas pessoas participaram da execução dos jovens
© Rovena Rosa / Agência Brasil
Justiça Chacina
Mesmo com a prisão, na noite de quinta-feira, 10, de um guarda-civil municipal de Santo André acusado de participação na morte de cinco jovens da zona leste em Mogi das Cruzes, a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) avalia que o caso ainda está longe de ser esclarecido. A polícia ainda não sabe quantas pessoas participaram da execução dos jovens, mas tem certeza que o GCM Rodrigo Gonçalves Oliveira não agiu sozinho.
"É um quebra cabeça de mil peças, que nos estamos começando a juntar", disse a delegada Elisabeth Sato, diretora do DHPP. A polícia informou que o local do encontro dos jovens havia sido adulterado antes da realização das perícias.
O que a Polícia Civil já sabe: Oliveira é instrutor de tiro da GCM de Santo André e tido como um dos líderes naturais da organização. Diante da morte de outro guarda, Rodrigo Sabino, em 24 de setembro, ele passou a investigar o caso. Sabino morreu em um latrocínio em Santo André. Seu carro foi roubado no crime. Oliveira localizou o veículo, queimado, na zona leste e, a partir dele, identificou dois dos jovens envolvidos no crime - eram dois dos rapazes mortos.
Oliveira tem 17 anos de Guarda Civil Municipal e já esteve envolvido em dois casos de resistência seguida de morte. Tinha acesso a centros de treinamento de tiro da PM, da Polícia Civil e da fabricante CBC, fornecedora exclusiva de munição para o Estado.
Com o nome dos suspeitos, o guarda usou um perfil falso no Facebook, que ele já tinha, para investigar os rapazes. Cesar Augusto Gomes da Silva, de 18 anos, e Caíque Henrique Machado Silva, de 19, aceitaram a solicitação de amizade. Oliveira se passava por uma jovem bonita, de nome Terezinha.
Com os rapazes "fisgados", Oliveira propôs um churrasco em um sítio em Ribeirão Pires e sugeriu que eles levassem amigos. Marcou ponto de encontro em uma frutaria da cidade. "Na versão dele, os rapazes não foram ao encontro e ele terminou a noite indo se encontrar com uma mulher", disse a delegada. "Essa versão nos parece inverossímil", pontuou.
À polícia, o GCM afirmou que iria prendê-los caso tivessem ido ao encontro.
O que ainda falta saber: A principal dúvida é sobre o número de assassinos no caso. A polícia não tem dúvida que Oliveira teve ajuda. Outros dois guardas civis municipais de Santo André estão sendo ouvidos na tarde desta sexta-feira, 11.
O papel da PM no caso: Uma das linhas de investigação do DHPP estava relacionada ao encontro de cápsulas de balas calibre .40 encontradas pela PM.
As cápsulas estavam no local do encontro dos corpos, em Mogi. Nesta sexta-feira, 11, em entrevista coletiva, o secretário da segurança, Mágino Alves, afirmou que esse local foi adulterado antes da chegada da polícia.
O sitiante que localizou os corpos os achou, na verdade, no dia 29 - e não no dia 6, como vinha sendo divulgado. Ele chamou a polícia dois dias depois de encontrar os cadáveres, pois avisou primeiro seu patrão. Entretanto, quando a PM esteve no local, o sitiante já não estava lá para indicar exatamente o ponto e os policiais não fizeram a localização. Somente numa segunda tentativa, já no dia 6, é que os corpos foram achadas.
Ao DHPP, o sitiante informou que, entre a primeira e a segunda visita, o local mudou: foi colocado cal nas covas e as cápsulas da PM foram deixadas lá.
O tenente-coronel da PM Levi Felix, comandante da Corregedoria, informou que o lote das balas encontradas foi distribuído entre agentes da Academia da PM, de batalhões da zona leste e da Polícia Militar Rodoviária. "Entre janeiro de 2015 até aqui, houve 60 casos relatados de extravio de balas desse lote", disse o coronel.