Elize Matsunaga escreve carta para filha que ficou proibida de ver
Hoje com cinco anos, menina vive com os avós paternos
© Arquivo pessoal
Justiça São Paulo
Presa desde junho de 2012 sob acusação de ter matado e esquartejado o marido, Elize Matsunaga escreveu uma carta para a filha antes de ser levada a júri popular pelo crime, a partir da próxima segunda-feira (28).
O texto, obtido pelo G1, foi enviado por Elize a partir do presídio de Trembembé, no interior de São Paulo, à menina que tem hoje cinco anos e que vive com os avós paternos.
Com a divulgação da carta, Elize espera que a filha saiba o que ela gostaria de ter dito à criança antes julgada pelo assassinato do pai dela, o empresário Marcos Kitano Matsunaga. À época do crime, a menina tinha um ano.
Apesar de a legislação prever que pais tenham direito de receber visita dos filhos menores na prisão, o desembargador Antonio Carlos Malheiros, consultor na Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), diz que em alguns casos esse direito é perdido.
“Isto vai depender da situação psicológica desses filhos. Se aquele crime cometido abalou profundamente as crianças, os jovens da casa, colocando em situação de risco o psicológico, essas crianças e esses jovens, é claro que essas visitas não poderão ser permitidas”, explica Malheiros.
“Conheço muitos casos de pessoas com crimes variadíssimos, que na verdade tinham um excelente relacionamento familiar, com filhos, e que, apesar de presos, receberam sim, enquanto estavam presos, as visitas dos filhos. E quando saíram assumiram a guarda desses filhos”, afirmou o consultor.
Leia abaixo a íntegra da carta
8 de março de 2016
À minha amada filha (*) ...
Daqui exatos 38 dias você fará 05 aninhos. Imagino quantas descobertas você fez nesse tempo, quantas palavras aprendeu, quantos desafios enfrentou e venceu, mesmo tão pequena e tão frágil.
(*) era a mulher mais linda de Esparta, e você, com certeza é a mais linda dessa época, imagino agora como está seu rostinho, seu sorriso... Mágico... daqueles que nos faz bater a poeira e esquecer as feridas.
Hoje faz 03 anos, 09 meses e 04 dias que não a vejo filha querida, mas todos os dias te envio por pensamento todo amor que uma mãe pode sentir e todo pedido de perdão. Desejo que você se torne uma mulher incrível e forte. Aliás, não só desejo como tenho certeza que você irá superar todas as experiências difíceis.
Se eu pudesse te dizer algo hoje, olhando p/ você, eu diria: - Te amo de uma forma que nunca imaginei amar, incondicionalmente e te agradeço por me mostrar o que é isso. Diria que você mudou minha vida, trouxe luz, conforto no coração, a certeza de que Deus existe.
Enfrentaria qualquer coisa para ver seu sorriso, para te ver em paz, para ouvir pelo mesmo 01 vez a palavra mãe, tão curta, mas faz meu coração tremer.
Como há tempo para tudo, procurei o tempo para minhas palavras serem eternas e encontrei aqui. Sei que esse papel não é capaz de transmitir o que eu sinto de forma plena, mas toda energia que posso enviar com ele está aqui.
Mesmo não estando ao seu lado agora filha, quero que saiba que você tem uma mãe que te ama muito, não só no plano físico, e que respeitará suas escolhas e um dia, se você quiser, conversaremos sobre tudo o que houve, a situação lamentável e infelizmente irrevercível que nos afastou fisicamente, apenas fisicamente, pois meu coração está contigo, com a criança que me ensinou verdadeiramente o que é amor.
Mesmo que você não me perdoe filha querida, não esqueça que te amarei além da vida. Porque esse amor não vem dos olhos, vem de Deus.
Sua mãe, Elize"
* para preservar o nome da criança, o nome foi substituído por um asterisco