Após 30 assassinatos em um dia, Belém vive clima de medo
A Secretaria da Segurança do Pará trabalha com a hipótese de que a "onda" de homicídios tenha relação com a morte do policial militar Rafael da Silva Costa na sexta-feira (20)
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Justiça Pará
Portas trancadas, comércio fechado e famílias apreensivas. Um dia após 30 pessoas serem assassinadas em menos de 24 horas em Belém, o clima é de medo nos bairros da periferia da capital paraense.
Famílias que foram ao IML (Instituto Médico Legal) reconhecer os corpos das vítimas evitaram comentar sobre as mortes. A Secretaria da Segurança do Pará trabalha com a hipótese de que a "onda" de homicídios tenha relação com a morte do policial militar Rafael da Silva Costa na sexta-feira (20).
Dos 30 assassinatos registrados pela polícia entre sexta (20) e sábado (21), 25 tinham características de execução. O número de mortes foi quase dez vezes superior à média diária de homicídios em Belém, que é de três casos.
Testemunhas dos crimes descrevem ações características de grupos de milícias que atuam na periferia de Belém. Os crimes foram praticados por homens encapuzados em carros pretos e prateados.
O governo do Pará não informou os nomes das vítimas, alegando que a divulgação poderia atrapalhar as investigações. A secretaria de Segurança informou que apenas parte das vítimas tinha envolvimento com o crime.
Assassinado na porta de casa no bairro do Guamá, periferia de Belém, Flávio Oliveira Maciel, 23, trabalhava como taxista. Familiares afirmam que ele não era criminoso e pedem justiça.
"Ele trabalhava no táxi do pai dele. Era um rapaz direito, não mexia com ninguém. Ninguém sabe por que mataram ele", disse uma prima da vítima, que preferiu não se identificar.
No bairro do Guamá, parte do comércio ficou fechada desde sexta-feira, quando aconteceram os primeiros assassinatos. O mecânico José Henrique Nunes, 35, evitou abrir sua borracharia: "A gente fica com medo porque pode sobrar para qualquer um. De um lado, temos os bandidos que são dessa área e que a gente já conhece. Do outro, há os milicianos que passam de carro matando as pessoas".
No bairro do Benguí, onde um homem foi assassinado com 13 tiros na tarde de sexta, moradores relatam o clima de intranquilidade. "A gente fica com medo e até evita sair de casa. Estamos cercados pela violência de todos os lados", conta a estudante Bianca Alice Viana, 21, vizinha de uma das vítimas.
Ela afirma que não é a primeira vez que acontecem crimes com características de execução no bairro. Em novembro de 2014, 11 pessoas foram assassinadas em Belém após a morte de um policial.
INVESTIGAÇÕES
O governo do Pará informou que segue com as investigações para apurar os responsáveis pelos assassinatos e que considera que a situação foi controlada.
Entre as 12h de sábado (21) e as 12h deste domingo (22), foram registrados seis assassinatos na região metropolitana de Belém. O número é considerado dentro da média para um dia de fim de semana.
Em nota, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), seccional do Pará, cobrou celeridade na investigação dos assassinatos e classificou os crimes como uma "onda de extrema violência". A OAB ainda citou dados do Conselho Nacional do Ministério Público que apontam o Pará como o quarto Estado com mais mortes por intervenção policial em 2016, com 237 mortes.
Nazareno Lobato, presidente da ONG Pará Vida, que reúne famílias de vítimas de crimes violentos no Pará, cobra punição para os envolvidos nas mortes e amparo às famílias das vítimas. "No Pará há milhares de famílias vítimas de violência e nenhuma foi indenizada. Nossos familiares são mortos e nós temos que provar que não somos bandidos", afirma. Com informações da Folhapress.