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Júri do 'crime do Papai Noel' condena pai por ordenar morte da filha

O julgamento ocorreu no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo

Júri do 'crime do Papai Noel' condena pai por ordenar morte da filha
Notícias ao Minuto Brasil

20:26 - 02/02/17 por Folhapress

Justiça São Pulo

A publicitária Renata Guimarães Archilla esperou até os 37 anos de idade para ficar dois dias próxima ao pai, o empresário criador de cavalos Renato Grembecki Archila, 58, que só confirmou a paternidade da filha após um processo judicial que se arrastou por 12 anos.

Ambos nunca estiveram tanto tempo juntos. Nesta quinta-feira (2), o encontro terminou com ele sendo condenado a dez anos e dez meses em regime fechado por ter encomendado a morte dela, há 16 anos.

O julgamento ocorreu no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

Os defensores apelaram da decisão porque, para a defesa, o veredicto contraria as provas do processo criminal. Archila recorre da sentença em liberdade porque, segundo a juíza Débora Faitarone, ele é réu primário, tem bons antecedentes e nunca deixou de se apresentar à Justiça.

No dia 17 de dezembro de 2001, a vítima foi baleada no rosto e no braço, no que ficou conhecido como o "Crime do Papai Noel". O autor dos disparos, o ex-policial militar José Benedito da Silva que cumpriu 13 anos e quatro meses de sentença, vestiu a fantasia natalina para tentar executar a publicitária. Renato, junto com o pai, o também empresário Nicolau Archilla Galan -morto antes udo julgamento- foi apontado como o mentor do crime.

As principais provas apresentadas pelo Ministério Público contra o criador de cavalos dono de um haras no interior paulista foram uma agenda telefônica, encontrada na casa de Silva, contendo o telefone da fazenda e a declaração em cartório de um outro PM que trabalhava como segurança da propriedade comprovando que a família contratava agentes para fazer a segurança privada do local no município de Votorantim (a 99 km de SP).

Em 2008, pai e filho foram presos preventivamente pelo crime, mas 60 dias depois do encarceramento um habeas corpus os colocou em liberdade.

"Há um vínculo muito próximo estabelecido entre o executor, que já foi condenado definitivamente anteriormente, um PM expulso da corporação, e os mandantes", afirmou o promotor Felipe Zilberman, após a leitura da sentença.

Durante a fase de debates entre acusação e defesa, o membro do MP usou uma afirmação do réu perante aos júris para sensibilizar os sete jurados. "Um pai com exame de DNA se referir a isso [o atentado] como 'fato lamentável, como um incidente, eu nunca vi em 20 anos de profissão. É sangue do mesmo sangue".

Ainda segundo o promotor, Renato tentou convencer a mãe de Renata, Iara Lúcia Chinaglia Guimarães, a não ter a criança. "Eles [réu e avô] pressionaram para que ela fizesse um aborto. Foi a primeira tentativa de por fim à vida de Renata", afirmou Zilmerman.

Renata, que teve pouco contato com o pai, saiu satisfeita do fórum.

"Eu esperava justiça e isso aconteceu, a impunidade acabou, o que é a minha maior satisfação, maior alegria. Vou seguir minha vida em frente e muito feliz", comemorou. Os tiros que ela recebeu destruíram sua arcada dentária. Foram dez anos de recuperação e oito cirurgias para reconstruir parte do rosto. "Senti tudo explodindo na minha boca", disse, ao relembrar do dia do atentado. "Minha língua ficou parecendo uma couve-flor".

Renata não perdeu a consciência e conseguir ver pelo retrovisor do carro o atirador fugir fantasiado. Ela ainda tentou pegar os dentes que se soltaram de sua boca após os disparos.

JULGAMENTO

No primeiro dia de julgamento o réu manteve-se calmo e chegou a pedir para o promotor se "informar melhor sobre o caso". No interrogatório de quarta-feira (1º), realizado pela juíza, promotor e advogados, o empresário só se recusou a responder a apenas uma pergunta. Ele foi o último a ser ouvido. A filha dele não permaneceu no plenário para ouvir o que o pai dizia.

Para não perder o que o pai falava, ela se manteve por duas horas atrás de uma porta, onde chorou, se revoltou e protestou em silêncio às alegações de Renato, que chegou a dizer que tinha baixa fertilidade.

O RÉU

Ao início de seu depoimento, o réu se disse "totalmente inocente". "Sou uma pessoa culta e tenho respeito e educação pelas pessoas", disse. "Eu nunca vi uma filha querer tanto o mal do pai como ela quer o meu. Eu não me ligo a bandidos".

A postura dele durante o júri foi criticada pelo promotor. Renato disse que era "um criador de vida" por comercializar cavalos e também afirmou que "não se liga a bandidos". Zilmerman o chamou de "príncipe dos cavalos" em tom irônico e foi além na fase final do plenário.

"É muita hipocrisia se sentar aqui de pernas cruzadas, como um deputado federal, e dizer que foi rejeitado pela filha. É revoltante", protestou o promotor.

LITÍGIO

A mãe de Renata, Lara Lúcia Chinaglia Guimarães, também vítima fatal de câncer, conheceu o pai da vítima na década de 70, em Guarujá, no litoral sul de São Paulo.

Ambos são de famílias tradicionais. Iara estudou no colégio católico Sacre Cour de Marrie. O empresário era estudante do Rio Branco e morava em um mansão na rua Colômbia, no bairro Jardim América, na zona sul.

Lara ficou grávida de Renato aos 17 anos. A família do condenado não quis que ele reconhecesse a paternidade da criança e os dois se separaram. Eles nunca chegaram a ser casados. Foi então que se deu o início de um extenso processo familiar com os principais advogados do país.

Um dos representantes da família materna foi o ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo e ex-presidente dos conselhos Federal e Estadual da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) -o advogado Mário Sérgio Duarte Garcia. No júri, o assistente de acusação foi o ex-desembargador do TJ de São Paulo, Marcial Herculino de Hollanda. Renato também teve os maiores escritórios de advocacia ao seu lado e um ex-desembargador.

OUTRO LADO

O advogado de defesa do condenado Rodrigo Senzi afirmou que "a decisão dos jurados contrariam as provas apresentadas nos autos".

Ele alega que o ex-PM Silva não indicou o pai e o avô de Renata como mandantes da tentativa de homicídio. Ainda de acordo com ele, o telefone da fazenda encontrado na agenda do policial não indica a ligação entre o seu cliente e o autor dos disparos.

A justificativa é de que o haras é conhecido é que muitas pessoas podem ter o número anotado em suas agendas. Com informações da Folhapress.

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