Caso Marielle: ex-PM delatado está preso por ordenar execução similar
A morte do presidente da escola de samba União do Parque Curicica ocorreu em 2015
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Justiça Rio de Janeiro
Um crime ocorrido em 2015 teve como mandante o miliciano Orlando Oliveira Araújo. A denúncia foi obtida pelo G1 e, conforme a descrição, se assemelha muito ao ocorrido contra a vereadora Marielle Franco (PSOL) em março deste ano.
De acordo com uma testemunha chave, divulgada pelo Globo nesta terça-feira (8), ele foi apontado como responsável pela execução da parlamentar.
Ainda segundo essa pessoa, o vereador Marcelo Sicilliano (PHS) também está por trás da idealização do assassinato da vereadora do PSOL. Ele, no entanto, nega envolvimento com o crime.
Em 2015, o assassinato com dinâmica muito similar ocorreu em Curicica. Orlando é tido como miliciano da região e é conhecido como "Orlando Curicica". Há três anos, um "segurança" dele e outros dois homens teriam participado da perseguição e do crime contra Wagner Raphael de Souza, então presidente da escola de samba União do Parque Curicica.
"Consta (...) que o denunciado Orlando Oliveira de Araújo foi o mandado do crime. (...) As vítimas estavam no interior do veículo (...) quando os denunciados Renato Nascimento dos Santos e William da Silva Sant'Anna chegaram em um veículo Kia/Cerato, branco, conduzido por um comparsa ainda não identificado", diz o inquérito citado pela Justiça.
A única diferença entre a execução de Wagner da de Marielle foi que, em 2015, os assassinos desceram do carro para efetuar os disparos, de 10 a 12 tiros. Já no caso da parlamentar, os autores apenas colocaram a submetralhadora para fora da janela.
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A autoria do crime do presidente da escola de samba foi atribuída a Orlando por um dos passageiros do veículo atacado, que sobreviveu graças ao atendimento médico. Após cirurgia e perder um braço, a testemunha apontou Orlando como o mandante em depoimentos no hospital e na delegacia. Depois, em juízo, voltou atrás e negou tudo.
Tal mudança de opinião no depoimento provocou uma reviravolta na investigação no Tribunal do Júri. Antes de julgamento, o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira pediu a suspensão do processo para o "segurança" William, por falta de provas. O magistrado é o mesmo que causou polêmica, em abril do ano passado, ao libertar PM's flagrados, em vídeo, executando traficantes deitados, com as mãos para trás. À época, o juiz justificou estar "ouvindo as vozes das ruas".
O pedido de habeas corpus em favor de Orlando foi negado pela desembargadora Monica Tolledo de Oliveira. Ela presume que a testemunha mudou de discurso por medo da milícia.
Em outro detalhe do caso, o pedido de liberdade que não foi atendido é assinado por Rodrigo Roca, advogado de Sérgio Cabral na Lava Jato. Roca já não cuida do caso do miliciano. Renato Darlan, atual advogado do ex-PM, aposta que o caso vai ser arquivado já que todas as versões foram alteradas.
"Todos os autores foram impronunciados [quando a ação é interrompida por falta de provas]. Ele [Orlando] também será. Mãe e irmã da vítima e a testemunha deram novas versões, a única versão que o implica é a do investigador", argumenta.
O juiz também minimizou a versão policial. "Em que pese o respeito que tenho pelos investigadores, constato, com total clareza, o isolamento da versão policial", escreveu o magistrado.
Miliciano, como atestam inquéritos policiais, Orlando teria encomendado a execução em Curicica porque a vítima não pediu "autorização" para alugar um terreno de um circo. O acusado ficou foragido por um ano e foi preso em outubro por esse crime.
Segundo a testemunha que ligou Orlando ao caso de Marielle, o miliciano, mesmo estando preso, comanda regiões da Zona Oeste. Da cadeia, teria o ameaçado ao responsabilizá-lo pela prisão. Esta foi a razão de o delator ter procurado a polícia e contado tudo o que sabia.