Um terço dos sobreviventes do coronavírus tem distúrbios, mostra estudo
Problemas neurológicos ou mentais foram observados por pesquisadores
© REUTERS/Ricardo Moraes
Lifestyle Covid-19
Estudo com mais de 230 mil pacientes, a maioria deles norte-americanos, mostrou que um, em cada três sobreviventes do novo coronavírus, foi diagnosticado com distúrbio cerebral ou psiquiátrico dentro de seis meses, indicando que a pandemia pode levar a uma onda de problemas mentais e neurológicos, afirmaram cientistas nessa terça-feira (6).
Os pesquisadores que conduziram a análise disseram que não está claro como o vírus está ligado a condições psiquiátricas como a ansiedade e a depressão, mas que esses são os diagnósticos mais comuns entre os 14 distúrbios que foram considerados.
Casos de derrame, demência e outros distúrbios neurológicos após a Covid-19 são mais raros, segundo os pesquisadores, mas ainda assim são significativos, especialmente em pacientes que tiveram quadros graves da doença.
“Nossos resultados indicam que doenças cerebrais e distúrbios psiquiátricos são mais comuns após a Covid-19 do que após a gripe ou outras infecções respiratórias”, disse Max Taquet, psiquiatra da Universidade britânica de Oxford, um dos coautores do trabalho.
O estudo não pôde determinar os mecanismos biológicos ou psicológicos envolvidos, afirmou Taquet, mas pesquisas urgentes são necessárias para identificá-los “com uma visão para prevenir e tratá-los”.
Especialistas de saúde estão cada vez mais preocupados com evidências de riscos mais altos de distúrbios neurológicos e mentais entre sobreviventes da Covid-19. Um estudo anterior, feito pelos mesmos pesquisadores, concluiu no ano passado que 20% dos que resistiram à doença foram diagnosticados com algum problema psiquiátrico dentro de um período de três meses.
O novo estudo, publicado na revista Lancet Psychiatry, analisou registros de saúde de 236.379 pacientes, a maioria nos Estados Unidos, e concluiu que 34% deles foram diagnosticados com doenças psiquiátricas ou neurológicas em seis meses.
Os distúrbios são significativamente mais comuns em pacientes infectados do que em grupos de comparação com pessoas que se recuperaram da gripe ou de outras infecções respiratórias no mesmo período de tempo, disseram os cientistas, sugerindo que a covid-19 tenha impacto específico.
A ansiedade, com 17%, e distúrbios de humor, com 14%, são os mais comuns, e não parecem estar relacionados ao fato de a infecção ter sido leve ou grave no paciente.
Entre os que foram internados em unidades de tratamento intensivo com quadro grave de coronavírus, no entanto, 7% apresentaram derrame dentro de seis meses, e cerca de 2% foram diagnosticados com demência.
“Embora os riscos individuais para a maioria dos distúrbios tenha sido pequeno, o efeito por toda a população pode ser substancial”, disse Paul Harrison, professor de psiquiatria de Oxford que também participou do estudo.