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Ceratocone é mais perigoso em crianças

No primeiro trimestre do ano mais de uma criança/dia foi inscrita na fila de transplante de córnea no Brasil

Ceratocone é mais perigoso em crianças
Notícias ao Minuto Brasil

21:00 - 08/08/23 por Rafael Damas

Lifestyle Saúde

O relatório da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) mostra que nos primeiros 90 dias do ano ingressaram na lista de espera por transplante de córnea mais de uma criança/dia.  Foram 106 inscrições. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier, o ceratocone responde no Brasil por 70% dos transplantes de córnea. Isso porque, a doença é um distúrbio progressivo, geralmente bilateral. que afina e aumenta a curvatura da córnea, causando alterações biomecânicas nas fibras de colágeno. Estudos mostram que quando a doença surge na infância este processo tende a ser mais rápido do que em adultos. Provoca miopia, astigmatismo irregular e grave comprometimento visual   Por isso, a detecção e o tratamento precoces são fundamentais para evitar deficiências visuais que seguramente afetam o desenvolvimento e o futuro da criança.

Como barrar a progressão

Para se ter ideia, o oftalmologista afirma que normalmente nossa córnea, lente externa do olho que responde por 2/3 da refração, tem uma espessura que varia de 470 a 550 micras (milésimos de milímetros). O mais frequente, pontua, é o ceratocone surgir entre 12 e 18 anos, mas pode estar latente desde a infância, embora esta não seja a regra.  Alguns pacientes só desenvolvem a doença aos 30 ou 40 anos.  “Uma criança com ceratocone pode perder 180 micras da córnea em meses. Por isso, o tratamento tem de ser diferenciado para impedir o transplante de córnea”, salienta.

Queiroz Neto afirma que geralmente a indicação do crosslink, único tratamento que interrompe a progressão do ceratocone, só é indicado após alguns meses de acompanhamento da doença, visando confirmar a progressão.  Na infância, observa, requer aplicação imediata de croslinking caso a córnea ainda tenha a espessura mínima de 400 micras. Isso porque, explica, abaixo desta espessura o procedimento é contraindicado. “A cirurgia é ambulatorial e consiste na reticulação das fibras de colágeno da córnea através da aplicação de luz ultravioleta associada à riboflavina (vitamina B2) que aumenta em até 3 vezes a resistência da córnea, explica. A criança ressalta, responde melhor ao crosslinking e frequentemente ganha algumas linhas de visão, embora não seja este o objetivo do tratamento. Em jovens adultos, nem sempre o procedimento impede a progressão. Em um levantamento realizado por Queiroz Neto com 315 pacientes de 16 a mais de 26 anos 88% afirmaram que o crosslink interrompeu a progressão e 45% também tiveram melhora da acuidade visual.

Sintomas e sinal de alerta

Queiroz Neto afirma que os sintomas do ceratocone são: perda progressiva da visão, grande sensibilidade à luz, olhos irritados, troca frequente dos óculos, visão embaçada e desfocada. O oftalmologista ressalta que nem todos apresentam sintomas logo no início. Por isso, alerta os pais que o astigmatismo em crianças pode progredir para ceratocone. Por isso, devem passar por uma bateria completa de exames mesmo que não apresente qualquer sintoma. Isso porque, detectar o ceratocone ainda insipiente pode permitir enxergar bem sem óculos ou lente de contato.

O diagnóstico, ressalta inclui exame de refração, análise do globo ocular com lâmpada de fenda, tomografia, topografia, tomografia de coerência óptica (OCT), estudo biomecânico da córnea e aberrometria ocular que faz a varredura de aberrações ou pequenas imperfeições na córnea.

Tratamento e prevenção

O oftalmologista afirma que na fase inicial o tratamento é feito com óculos. Conforme a doença progride é indicado o uso de lente de contato rígida para aplanar o formato da córnea e melhorar a refração.

Evitar coçar os olhos é a principal recomendação do oftalmologista para prevenir o ceratocone. “A fricção dos olhos fragiliza as fibras de colágeno. Isso porque, estimula a liberação de proteinases que afinam a córnea”, explica. Por isso, a Síndrome de Down e a atopia são fatores de risco para desenvolver a doença. A hereditariedade, citada em alguns ensaios, só é encontrada em 20% dos casos.

Outras terapias

Queiroz Neto ressalta que o implante de anel intraestromal que aplana o formato da córnea também pode evitar o transplante. “Outra terapia nada invasiva é a lente escleral que fica apoiada na esclera, parte branca do olho, invés de se apoiar na borda da córnea. Por isso,  em alguns casos pode evitar o transplante, mas só o crosslinking interrompe a progressão da doença, conclui.

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