É possível ser feliz sozinho?
Um terço da população sente solidão, mesmo em um mundo hiperconectado
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Lifestyle Solidão
“Quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho? Vivo tranquilo, a liberdade é quem me faz carinho”, diz a letra da canção “Satisfeito”, composição de Arnaldo Antunes, interpretada por Marisa Monte. De acordo com John T. Cacioppo, autor de “Loneliness” (“Solidão”, em português), diversos estudos internacionais apontam que uma a cada três pessoas sente-se sozinha. O número é alto e o assunto tabu, aspecto que o torna difícil de ser combatido. Então, o que fazer?
Para o terapeuta comportamental Ghoeber Morales, primeiramente, é preciso saber viver bem e feliz sozinho, sem depender ou depositar a felicidade em outra pessoa. “Grosso modo, podemos pensar em duas visões diferentes de formas de se relacionar: uma visão complementar e outra suplementar”, sugere. O psicólogo explica que a primeira está relacionada ao ideal romântico da cultura ocidental. “A ideia é a da ‘metade da laranja’, em que uma pessoa só se completará e será plenamente feliz quando encontrar alguém para ocupar esse vazio”.
Já pela visão suplementar, o indivíduo sente-se bem consigo mesmo, independente da presença de um parceiro. “Nesse caso, a felicidade não é depositada no outro, mas a companhia de um alguém especial pode fazer com que a pessoa se sinta mais feliz”, resume.
Para Morales, é possível aprender a se relacionar consigo mesmo. Ele recomenda que, a princípio, sejam escolhidas atividades que proporcionam prazer sem precisar de companhia, como ir ao cinema sozinho para ver um filme que gostaria muito de assistir. “São pequenos passos que aumentam as chances de você não se sentir tão deslocado e começar a gostar de se estar consigo mesmo. Afinal, encontrar prazer em sua própria companhia pode ser um desafio”, pondera. Ele indica, ainda, que o indivíduo procure mudar os hábitos aos poucos. Passar umas horas sozinho em um sábado, por exemplo, tem menos risco de causar frustração do que uma viagem que dura uma semana inteira.
Esconde-esconde
Problemas de relacionamento são, muitas vezes, os grandes responsáveis por causar solidão. “Alguns jogos amorosos criados, principalmente, no início das relações resultam em laços superficiais, que facilmente se quebram”, pontua o terapeuta comportamental Ghoeber Morales. Esconder o que se sente ou pensa sobre o parceiro é, para ele, o erro mais comum nesse sentido. “Ficamos receosos de demonstrar quem realmente somos, trata-se de um mecanismo clássico de defesa”, frisa.
O resultado, para o especialista, é perda de tempo e sofrimento desnecessário. “Ninguém encontra uma pessoa que concorde com tudo. Mas, se precisarmos ficar nos escondendo numa relação, a chance de ela chegar ao fim ou de você se manter nela infeliz é grande”, diz. Morales ainda pondera que quando se trata de amor e relacionamento afetivo “não existe uma regra única, que funcione bem para todos”. E pergunta: “esconde-esconde é jogo de criança. Vai jogar até quando?”.