Documentário discute recepção das ideias de Freud no Brasil
Para o crítico Alexandre Agabiti Fernandez, documentário tem discurso monolítico
© Reprodução/Youtube
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As ideias de Freud logo ultrapassaram os limites da clínica e do debate psicanalítico para marcar profundamente a cultura ocidental. Dirigido pelo psicanalista Francisco Capoulade, este documentário pretende oferecer uma visão abrangente do ideário freudiano e de sua recepção no Brasil, enfatizando sua dimensão cultural.
Assim, ganham destaque temas como a linguagem, a identidade, o contexto histórico e cultural da Viena de Freud e do Brasil do século 20.
O título tem um neologismo que une as palavras "história" e "estória", apontando para o lugar central que a narrativa -representada pela literatura e o mito- ocupa na construção do arcabouço teórico-clínico da psicanálise.
O documentário se baseia em entrevistas com 23 leitores de Freud. São psicanalistas, filósofos, escritores e tradutores como Sérgio Paulo Rouanet, Christian Dunker, Lucia Valladares, Claire Gillie, Joel Birman, Luiz Alberto Hanns, Terêncio Hill, Miriam Chnaiderman, André Carone, Monique David-Ménard, Paulo César Souza, Ricardo Goldenberg, entre outros. Até um cineasta, Marcelo Masagão, faz parte do grupo.
Mas a desmedida ambição de Capoulade em tudo abarcar num filme de uma hora e meia impede maiores aprofundamentos. Temas muito interessantes como a chegada da psicanálise ao Brasil, sua recepção pelos modernistas de 1922 e a discussão em torno das problemáticas traduções brasileiras da obra de Freud não avançam muito.
As falas dos entrevistados são algumas vezes excessivamente laudatórias. Pior do que isso, nenhuma ideia de Freud é alvo de crítica; como se questionar a ênfase na sexualidade -para citar apenas um aspecto passível de exame- fosse uma heresia. O que se tem é um discurso monolítico e reverente, alheio à controvérsia.Do ponto de vista formal, Capoulade simplesmente ignora a linguagem cinematográfica.
Os entrevistados são enquadrados sem originalidade, como numa banal reportagem de televisão. Muitos deles aparecem diante de estantes repletas de livros, uma maneira escolar de indicar erudição. A sucessão de falas -que só é interrompida aleatoriamente por planos de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Paris- instala um ritmo de aula enfadonha.
Esses problemas afastam o documentário do grande público. É um filme de vulgarização científica que deve interessar principalmente estudantes. Com informações da FolhaPress.
Crítica de Alexandre Agabiti Fernandez.