Todo dia você se cerca dos seus companheiros no trabalho. Chega em casa e corre para conversar com a família. Nos finais de semana, sai e se diverte: mas sempre acompanhado. Se você não vai à esquina sem uma companhia, é bom começar a procurar ajuda: você está fugindo de si mesmo. "Quando não tem ninguém ao redor, a pessoa é obrigada a estar com ela. E se há um desconforto de estar só, ela não vai conseguir ficar esse tempo sozinha e vai precisar de outras pessoas, porque há uma projeção e toda aquela diluição e, então, ela não entra em contato com ela mesma", destaca a psicoterapeuta Maura de Albanesi. "Porque a solidão é a ausência de contato com a própria essência", completa.

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Segundo a especialista, fugir de si mesmo seria como se imaginar convidando alguém que você não suporta para passar um final de semana na sua casa de campo. "Você faria isso? Claro que não! Seria uma chatice. Da mesma forma, imagine ir sozinho a sua casa de campo. Se você não é uma boa companhia para si mesmo, você também acharia um absurdo fazer isso ou teria agonia só de pensar", compara.

De acordo com a psicoterapeuta, isso ocorre porque a pessoa não gosta de si mesma e não quer entrar em contato consigo. "Eu não gosto nada daquela pessoa que eu não quero o menor contato, então, não quero papo com ela. Comparando: então não quero o menor papo comigo. Deixa eu conversar com deus e o mundo que eu fico bem e me espalho e não entro em contato com aquela pessoa que sou eu mesma", exemplifica. "E daí a gente vai fugindo e é nisso que vai criando dependências. Então, essas dependências a gente cria porque depende do outro para não estar consigo mesmo. Seria como se ela falasse: ‘Não me abandone, porque se você for eu tenho que ficar’".

A psicoterapeuta pondera que, obviamente, há momentos em que você sente vontade de ficar com outras pessoas, ter essa troca. "E isso não necessariamente é porque você não quer ficar com você; são momentos e momentos. O problema é quando eu sempre só preciso estar com alguém e nunca posso estar sozinho", enfatiza.

E como sair dessa? Maura de Albanesi explica que para sair dessa, é necessário ter em mente que, querendo ou não, você está fadado a ficar só com você. "E se você não se gostar, você vai se carregar pelo resto da eternidade. Você pode estar sem ninguém, mas sem você, você não existe. E daí que a gente fala: qual a pessoa mais importante para você? Você mesmo", pontua. "Se eu estiver em contato com o outro, sem ter contato comigo, eu me sinto só, porque a solidão é a ausência de contato consigo mesmo". E para começar a gostar de si mesmo, a psicoterapeuta enumera quatro caminhos:

1 - Dê quatro motivos porque alguém gostaria de estar do seu lado

"Cite quatro coisas que você acha muito legal do porque alguém sairia do seu espaço e estaria com você. O que você agregaria para essa pessoa?"

2 - Fale quatro itens que você costuma fazer e as pessoas não gostam

"O que você faz ou deixa de fazer que você tem certeza que as pessoas não vão gostar desse seu jeito. Porque na realidade é você que não gosta desse seu jeito."

3 - Pergunte a si mesmo o que você sugeriria para essa pessoa fazer junto?

"Ir no cinema, no teatro... o que você iria propor? E o que você propõe, você observa se gostaria ou não de estar fazendo isso.

4 - Marque um encontro com você mesmo

"Na hora que essa pessoa faz essas três perguntas, é como se ela pudesse pegar isso e falar: ‘Bom, então, eu marco um encontro com você’. A pessoa vai marcar um encontro consigo mesmo sabendo que vai ter essas coisas boas, essas coisas desagradáveis e o que vai fazer. E ela vai fazer tudo isso sozinha, vai pegar um final de semana e ter a experiência de viajar com ela mesma. Ela pode até comprar duas passagens!", brinca.

Fobia social: o outro lado da história

Mas nem sempre quem faz as coisas sozinho está bem. É o que pondera a psicoterapeuta Maura de Albanesi: "Como também é um problema quando a pessoa só quer estar sozinha e nunca quer estar com ninguém. Chamamos de fobia social. Então o exagero dos dois lados é que é ruim", explica. Ela acrescenta que nem sempre as pessoas que querem ficar o tempo todo sozinhas tem a auto estima elevada. "Tudo depende de com que qualidade ela fica a só. Porque se todas as vezes que você for a algum lugar, você só quer ir sozinho e nunca com alguém, aí a gente pode se perguntar se é porque durante a semana você está rodeado de gente, precisa de um retiro... Mas existem pessoas que ficam sozinhas e às vezes com muita angústia, então, precisa ver com que qualidade elas ficam sozinhas".

Portanto, a psicoterapeuta avalia que é necessário viver os dois momentos, em equilíbrio. "Se não entra em problemas: um foge de si e o outro foge dos outros. É porque na relação com o outro eu me vejo, eu me exponho. Assim como na relação com o outro eu projeto, às vezes eu não quero me ver no outro e por isso prefiro só ficar sozinho. Uma pessoa que gosta de ficar sozinha não significa que ela é bem trabalhada com ela mesma", finaliza.