EUA cobram 'postura mais agressiva' do BR contra imigração irregular
O índice do ano passado representa um aumento de 600% em relação ao pico, registrado em 2016, de 3.252 brasileiros barrados.
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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Uma autoridade da administração Donald Trump cobrou nesta segunda-feira (27) o governo Bolsonaro por ações mais duras para diminuir o número de imigrantes irregulares, com origem no Brasil, que tentam entrar nos EUA.
Em uma conferência telefônica com jornalistas, Ken Cuccinelli, número dois do DHS (Departamento de Segurança Interna), afirmou que Washington gostaria que o Brasil adotasse uma postura "mais agressiva" no tema.
"Há um grande número de ilegais [do Brasil] vindo aos Estados Unidos e é preciso encarar isso. E [as autoridades brasileiras] precisam começar a lidar com a situação de forma mais agressiva do que no passado", disse Cuccinelli.
A quantidade de brasileiros apreendidos ao tentar atravessar de forma irregular a fronteira dos Estados Unidos bateu o recorde de 18 mil em 2019.
O índice do ano passado representa um aumento de 600% em relação ao pico, registrado em 2016, de 3.252 brasileiros barrados.
Cuccinelli participou da conferência nesta segunda para falar sobre medidas adotadas pela gestão Trump para combater a imigração irregular na fronteira do país com o México.
Segundo a autoridade, as ações do governo dos EUA fizeram com que as pessoas da América Latina se dessem conta de que, atualmente, tentar entrar ilegalmente em território americano se converteu numa viagem fútil.
Apesar da cobrança, o sub-secretário interino do DHS destacou que o atual governo brasileiro tem adotado medidas positivas para desencorajar a imigração irregular.
Ele citou como exemplo a expedição de documentos que facilitam os processos de deportação. A administração Bolsonaro retomou uma prática iniciada no governo Michel Temer de conceder atestados de nacionalidade a imigrantes em processo de devolução que não dispõem de um documento de viagem válido.
Como no Brasil existe uma regra que só permite a emissão de identificação de viagem com pedido expresso do interessado, muitos brasileiros nos EUA preferiam não solicitar o documento, na esperança de que o movimento atrasasse a deportação.
Os consulados brasileiros passaram então a expedir os atestados mesmo sem a solicitação do interessado.
O subsecretário afirmou ainda que, diante do aumento do número de brasileiros apreendidos na fronteira, o governo Trump está avaliando medidas adicionais além das deportações.
Ele citou, por exemplo, que Washington atualmente mantém conversas com o governo mexicano sobre o MPP (Protocolo de Proteção de Migrantes), programa pelo qual imigrantes detidos tentando entrar de forma ilegal nos EUA pelo território mexicano são enviados de volta ao país latino-americano.
Eles então esperam no México a análise das suas solicitações de asilo pelas autoridades americanas e só são autorizados a entrar nos EUA caso recebam luz verde de uma corte de imigração.
Ao comentar sobre as conversas com o México sobre o MPP, Cuccinelli indicou que brasileiros podem passar a receber o mesmo tratamento.
Também preocupam os americanos, segundo Cuccinelli, casos de cidadãos de outros continentes que têm usado o Brasil como um ponto de partida para tentar entrar de forma irregular nos EUA.
"O Brasil tem sido uma espécie de conduíte para pessoas de fora do hemisfério ocidental que vêm aos Estados Unidos", declarou.
"Nós esperamos ver um policiamento melhor e mais segurança, na forma como falamos sobre medidas de segurança de nações da América Central", complementou, citando políticas de controle migratório tomadas por países como El Salvador, Guatemala e Honduras, além do próprio México.
"Eles estão policiando as suas próprias fronteiras, estão buscando e protegendo melhor a sua soberania. Nós gostaríamos de ver o Brasil fazendo mais isso. Além de acelerar o retorno dos seus nacionais que estão vindo ilegalmente para o nosso país. É uma parte importante de ser um bom aliado."
Em viagem oficial à Índia, o presidente Jair Bolsonaro comentou o tratamento dispensado aos brasileiros que tentam entrar ilegalmente nos Estados Unidos.
O presidente afirmou que jamais pediria a Trump, de quem é aliado, para mudar o tratamento empregado nos casos de brasileiros deportados. "Jamais pediria. Você acha que vou pedir isso pra ele, pedir para descumprir a lei dele?", disse.
Questionado sobre a necessidade de colocar algemas nos pés e nas mãos dos imigrantes brasileiros deportados, Bolsonaro respondeu: "Tenha santa paciência, a lei americana diz isso, é só você não ir para os Estados Unidos de forma ilegal".
Em outra frente para lidar com o crescimento do fluxo de imigrantes aos EUA, o governo Trump solicitou formalmente a Brasília a autorização para fretar mais voos para deportar brasileiros que tentam entrar pela fronteira sem autorização.
Foram realizados dois voos desse tipo desde outubro de 2019.
Na conferência telefônica desta segunda, Cuccinelli afirmou que os EUA gostariam que o Brasil se responsabilizasse por esses voos -atualmente o aluguel de aeronaves para essa finalidade é pago pelo governo americano.