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Operação para tirar Maduro racha oposição e traz alívio a ditador

A liderança de Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional (AN), de maioria opositora, e reconhecido por mais de 50 países como presidente interino da Venezuela, está abalada

Operação para tirar Maduro racha oposição e traz alívio a ditador
Notícias ao Minuto Brasil

06:34 - 22/05/20 por Folhapress

Mundo VENEZUELA-GOVERNO

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - A frustrada tentativa de invasão à Venezuela por mercenários, no início de maio, abriu um racha na oposição e serviu de alívio para Nicolás Maduro, que encontrou na operação a desculpa ideal para distrair o país de seus principais problemas: as crises econômica e humanitária e a pandemia de coronavírus.

A liderança de Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional (AN), de maioria opositora, e reconhecido por mais de 50 países como presidente interino da Venezuela, está abalada. Foram necessários 15 dias após o episódio para que o Parlamento debatesse e, ao final, aceitasse assinar uma carta de apoio a ele.Ainda assim, sob críticas de membros de partidos aliados, como a Ação Democrática e Primeiro Justiça.

O incômodo gerado pelo possível envolvimento da principal figura da oposição venezuelana na operação que buscava capturar Maduro e levá-lo aos EUA persiste. No contrato com o grupo mercenário, exibido pelo chefe da investida, o ex-militar das Forças Armadas dos EUA Jordan Goudreau, há uma suposta assinatura de Guaidó –ele nega que seja verdadeira.

O presidente da AN passou as últimas duas semanas desviando do episódio, enquanto comentava outras diversas questões da Venezuela. Denunciou, numa teleconferência da ONU, a chegada de barcos e aviões enviados pelo Irã com combustível para tentar sanar a falta de gasolina em postos de todo o país.Disse que os veículos trariam também armas encomendadas por Maduro e pagas com dinheiro do narcotráfico. Também conversou com os chefes de Estado de Peru, Equador e Honduras e atacou a saída da Venezuela do serviço de TV a cabo DirecTV, provido pela companhia americana AT&T.

A empresa tomou a decisão a pedido do presidente Donald Trump como parte das sanções impostas pelos EUA ao regime venezuelano. O serviço exibia os canais governistas da PDVSA (Petróleos de Venezuela) e Globovisión, que pertence a um amigo de Maduro e tem linha editorial favorável ao governo.

Guaidó culpou o ditador por deixar o país ainda mais isolado com a saída da empresa, que tinha 45% do mercado de canais a cabo na Venezuela.

Por outro lado, Maduro e membros do regime não param de falar da Operação Gideon, batizada assim em referência a um personagem bíblico do Velho Testamento, Gideão, na versão em português. Com um Exército de apenas 300 homens, ele executou um ataque surpresa e derrotou os midianitas –grupo que oprimia os israelitas e roubava suas colheitas e gado.

Após o episódio, o ministro das Comunicações, Jorge Rodríguez, fez vários pronunciamentos nos quais afirma que dia após dia aparecem mais evidências de que o desembarque dos mercenários foi contratado por Guaidó.

Também envolve a ex-procuradora-geral Luisa Ortega Díaz, uma dissidente do chavismo vivendo no exílio, que teria ajudado no planejamento da ação.A primeira-dama do país, Cilia Flores, com grande influência no poder Judiciário, também foi à TV estatal para dizer que "dificilmente Guaidó sairá dessa". Maduro não perde a chance de usar a palavra "terroristas" e aproveitou para conectar o rival a uma rede conspiratória liderada por EUA, CIA e Colômbia. Os governos dos dois países negam participação no caso.

Por fim, o procurador-geral, Tarek William Saab, diz que a operação teria custado o equivalente a R$ 1,1 bilhão, pagos parcialmente com recursos da petrolífera estatal congelados nos EUA. O restante do dinheiro teria vindo de contas venezuelanas bloqueadas por outros países.Assim, reapareceu o fantasma de uma possível prisão de Guaidó, aventada várias vezes desde que ele se proclamou presidente, em janeiro de 2019. Para Luis Vicente León, do instituto Datanálisis, o episódio "certamente significará um desgaste na imagem do líder opositor, esteja ele ligado à Operação Gideon ou não". "Porque, no final, o desenlace da ação foi vergonhoso."

Não faltaram vozes da própria oposição para apontar uma fragmentação entre os contrários ao regime. Uma delas é a de María Corina Machado, líder do Vente Venezuela. "Chegou a hora de formar uma aliança mais ampla com a comunidade internacional e de mostrar uma real atitude de força contra o regime."

Já Adriana Pichardo, do Voluntad Popular, disse que "não é o momento de nos desunir". "Guaidó é uma luz de esperança nesses tempos tão difíceis, temos de permanecer a seu lado."Questionado durante a teleconferência da ONU sobre a operação, Guaidó disse que sua equipe está realizando uma investigação paralela do ocorrido e que "não é uma característica de seu governo apostar em ações violentas, ainda mais contratando serviço de mercenários".De todo modo, pouco se sabe sobre o episódio além do espetáculo algo amador exibido na mídia local.

Duas lanchas desembarcaram na costa venezuelana e caíram numa emboscada das Forças Armadas. Oito pessoas foram mortas e outras 40 foram detidas, entre as quais dois norte-americanos, Alexander Denman e Airan Berry, ex-combatentes do Exército dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

Maduro disse que surpreendeu os invasores por meio de espiões, que teriam se infiltrado no grupo.Além da assinatura de Guaidó, o contrato exibido pelo mercenário Goudreau, dono da empresa Silvercorp, estaria firmado também por Sergio Vergara, um dos braços direitos do opositor, e J.J. Rendón, marqueteiro conhecido pelo envolvimento em casos de corrupção e de conexão com o narcotráfico.

Rendón foi o responsável pelas campanhas exitosas à Presidência de Juan Orlando Hernández (Honduras), Enrique Peña Nieto (México) e Juan Manuel Santos (Colômbia).Vergara e Rendón se afastaram de Guaidó, segundo quem os dois aliados tinham autorização apenas para realizar uma investigação de cenários para provocar a saída de Maduro. Rendón devolveu a acusação, afirmando em entrevistas ao Washington Post e à CNN em Espanhol que o autoproclamado presidente da Venezuela tinha conhecimento da ação.

Exilado em Miami, o marqueteiro diz que as ações previstas no acordo nunca foram realizadas e que, após a assinatura, Goudreau passou a agir de forma errática e não foi capaz de provar que tinha a estrutura prometida. O mercenário, por sua vez, afirma que resolveu seguir com o plano porque "era o certo a fazer".

Nos últimos dias, um deputado do partido Ação Democrática, Hernán Alemán, veio à público dizer que havia ajudado no planejamento da operação e que fazia parte de um grupo, dentro da Assembleia Nacional, que "aprova o uso da força para a retirada de Maduro".

A lógica do parlamentar é que, se o Estado se transformou "em uma gangue de delinquentes, apenas com outra gangue podemos tirá-los do poder". Guaidó não respondeu ao comentário do colega, mas seu vice, Juan Pablo Guanipa, sim.

"Sabemos que há vozes no nosso grupo que defendem uma ação violenta, mas não nós. Já estamos realizando nossa própria investigação e logo explicaremos aos venezuelanos o que ocorreu."

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