Em reunião, Ernesto se refere à China como país não democrático
Embora não tenha citado a China na reunião, Ernesto é defensor de um alinhamento aos EUA e crítico do país asiático.
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Mundo ERNESTO-ARAÚJO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou na reunião ministerial de 22 de abril que o novo coronavírus causará uma "nova globalização" e, sem citar diretamente a China, referiu-se ao país asiático como "não democrático" e que "não respeita os direitos humanos".
"Que que aconteceu nesses 30 anos? Foi uma globalização cega para o tema dos valores, para o tema da democracia, da liberdade. Foi uma globalização que, a gente tá vendo agora, criou um modelo onde no centro da economia internacional está um país que não é democrático, que não respeita direitos humanos, né? Essa nova globalização acho que não pode ser cega", declarou.
Embora não tenha citado a China na reunião, Ernesto é defensor de um alinhamento aos EUA e crítico do país asiático. Ele se contrapõe à ala moderada do governo, que destaca o fato de a China ser o principal comprador de exportações brasileiras para pregar uma abordagem pragmática com os asiáticos.
A China é governada, em regime ditatorial, desde 1949 pelo Partido Comunista.
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, decidiu tornar pública a íntegra do vídeo da reunião ministerial, citada pelo ex-ministro Sergio Moro como indício de que o presidente Jair Bolsonaro desejava interferir na autonomia da Polícia Federal.
Em sua rápida intervenção no encontro, Ernesto disse que o Brasil tem a oportunidade de estar presente num conselho de países que, segundo ele, desenhará a nova realidade no pós-coronavírus.
"Eu estou cada vez mais convencido de que o Brasil tem hoje as condições, tem a oportunidade de se sentar na mesa de quatro, cinco, seis países que vão definir a nova ordem mundial", diz na gravação.
O chanceler relatou uma conversa de Bolsonaro com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. O líder indiano disse, segundo o chanceler, que o mundo após a pandemia será tão diferente do atual quanto os cenários anterior e posterior à Segunda Guerra.
"Eu acho que é verdade, e assim como houve um conselho de segurança que definiu a ordem mundial, cinco países depois da Segunda Guerra, vai haver uma espécie de novo conselho de segurança e nós temos, dessa vez, a oportunidade de estar nele e acreditar na possibilidade de o Brasil influenciar e ajudar a formatar um novo cenário", disse.
"E esse cenário, eu acho que ele tem que levar em conta o seguinte: estamos aí revendo os últimos 30 anos de globalização. Vai haver uma nova globalização. E essa nova globalização acho que não pode ser cega, né? Tem que ser uma estrutura que leva em conta, claro, a dimensão econômica, mas também essa dimensão da liberdade, dos valores."
O Brasil enfrenta episódios de uma crise diplomática com a China desde que o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, comparou a pandemia ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986. "A culpa é da China [pela crise da Covid-19] e liberdade seria a solução", escreveu ele.
O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, reagiu duramente à publicação, e o presidente brasileiro precisou telefonar ao dirigente da China, Xi Jinping, para aparar as arestas na relação bilateral.
Em seguida, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ironizou o modo como a fala dos chineses costuma ser retratada, comparando-a à do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica. Ele não pediu desculpas, o que também gerou forte reação chinesa.