Britânicos continuam divididos mesmo depois de optarem pelo Brexit
Quando questionados sobre se apoiariam uma nova adesão ao bloco europeu, só 47% dos britânicos são a favor e 53% são contra.
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Mundo Brexit
As sondagens indicam que os britânicos continuam divididos sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), quatro anos depois do referendo que ditou o Brexit, afirmou hoje o acadêmico John Curtisse, que analisou sondagens desde 2016. "Muito poucos mudaram a sua opinião, apesar da intensidade do debate sobre o 'Brexit' nos últimos quatro anos", afirmou, durante um evento virtual organizado pelo instituto "UK in a Changing Europe" da universidade King's College London.
O Reino Unido formalizou a 31 de janeiro a saída da UE, organização à qual pertencia desde 1973, na sequência de um referendo popular a 23 de junho de 2016, no qual 51,9% dos eleitores votaram a favor pelo 'Brexit'.
Analisando várias sondagens desde 2016, Curtice disse que as eleições legislativas de 2017 foram decisivas na história do 'Brexit' não só porque o Partido Conservador perdeu a maioria absoluta e o parlamento ficou dividido, mas também em termos de opinião pública.
Até janeiro de 2017, a média das sondagens manteve uma maioria 51% - 49% a favor da saída, mas a partir das legislativas de junho de 2017, os valores inverteram-se a favor da permanência.
"Parecem ter provocado uma mudança de atitude entre as pessoas que não votaram em 2016, o que levantou dúvidas sobre se existiu uma maioria para sair", explicou Curtice, um dos analistas mais respeitados dos estudos de opinião.
Desde 2018, as sondagens mostraram consistentemente uma pequena maioria a favor de permanência, mas desde a saída formal da UE, a 31 de janeiro, mesmo os pró-europeus parecem ter aceite a situação.
Quando questionados sobre se apoiariam uma nova adesão ao bloco europeu, só 47% dos britânicos são a favor e 53% são contra.
"Podemos estar nos acomodando um pouco à mudança, mas não muito. A esta altura, o 'Brexit' divide as pessoas na mesma medida que há quatro anos atrás", concluiu Curtice.
O professor na universidade de Strathclyde, na Escócia, considera que esta questão vai continuar a ser estudada pelos acadêmicos devido ao interesse pela percepção popular sobre o processo do 'Brexit', mas também do exercício de democracia direta e o potencial impacto na realização de futuros referendos.
Recordou também que a relação com a UE tem influenciado a política britânica e dividido os partidos Trabalhista e Conservador em diferentes épocas da história do Reino Unido.
"O referendo realizado em 1975 era para ter acabado com o debate sobre a participação no mercado interno e não o fez. Não demorou muitos anos até o Partido Trabalhista fazer campanha eleitoral a defender a saída [da UE] e pouco depois foi formado o [partido eurocético] UKIP", lembrou.
"O resto", acrescentou, "é história".