OMS chama guru de Barack Obama para combater atitudes 'espalha-vírus'
Um dos principais alvos das medidas da OMS devem ser os jovens, já que festas lotadas sem nenhuma preocupação com distanciamento são uma das causas de novos surtos de coronavírus
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BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - Preocupada com o repique de surtos do novo coronavírus durante as férias de verão na Europa e com a longa duração dos platôs da doença em países como o Brasil, a OMS (Organização Mundial da Saúde) montou um grupo de cientistas comportamentais que vão propor formas de influenciar o comportamento das pessoas para prevenir o contágio.
À frente da equipe de 22 especialistas de 16 países está um dos principais conselheiros do ex-presidente americano, Barack Obama, o professor americano Cass Sunstein. A premissa é a de que, embora informações confiáveis e didáticas sejam muito importantes, elas não bastam para deter atitudes "espalha-vírus", porque as pessoas tomam decisões com base em suas crenças, no exemplo dos vizinhos, nas circunstâncias econômicas, nos valores culturais ou na percepção sobre os sistemas nacionais de saúde.
O Grupo Consultivo Técnico sobre Comportamentos e Ciências da Saúde, com especialistas de áreas como antropologia, psicologia, neurociência e promoção da saúde, vai estudar como as pessoas tomam decisões sobre riscos e saúde e como usar esse conhecimento nas ações contra a pandemia.
"Nosso ponto de partida é que a saúde envolve comportamento. E se estamos falando de Covid-19 ou da saúde sexual e reprodutiva, do fumo ou de outras doenças não transmissíveis, o comportamento humano está na raiz dele ", disse Sunstein, fundador e diretor do Programa de Economia Comportamental e Políticas Públicas da Escola de Direito de Harvard.Ele é conhecido por propor, com o Nobel de Economia Richard Thaller, os chamados "cutucões" ("nudges"): intervenções na arquitetura das políticas públicas que mudem o comportamento das pessoas de forma previsível, sem vetar qualquer escolha nem alterar de forma significativa os incentivos econômicos.
Cutucão, por exemplo, é fazer com que a adesão a um sistema de previdência já venha clicada no formulário. O cidadão pode optar por não aderir, se quiser, mas o empurrão aumenta significativamente a taxa de participação.
Outra intervenção já comprovada por experimentos é a que muda a posição dos alimentos na cafeteria das escolas públicas, com frutas ao alcance dos olhos e doces no fim da fila, o que leva os alunos a escolher opções mais saudáveis. "Sabemos que os hábitos são persistentes, mesmo que não sejam saudáveis. E sabemos com muito trabalho que hábitos podem ser alterados -e que podem salvar vidas", afirmou o Sunstein.
Um dos principais alvos das medidas da OMS devem ser os jovens, já que festas lotadas sem nenhuma preocupação com distanciamento são uma das causas de novos surtos de coronavírus. Nesta quinta (30), ao anunciar o novo grupo de pesquisa, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, deu o recado: "Vamos repetir: os jovens não são invencíveis. Os jovens podem ser infectados, podem morrer e podem transmitir o vírus para outras pessoas".