Na ONU, Xi Jinping critica politização da pandemia e diz não querer 'guerra fria ou quente'
Repetindo afirmação feita durante a Assembleia Geral da OMS, em maio, Xi declarou que as vacinas contra o coronavírus desenvolvidas na China serão um bem público mundial.
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Mundo XI-JINPING
BAURU, SP (FOLHAPRESS) - Em discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça (22), o líder chinês, Xi Jinping, criticou a politização em torno da crise de coronavírus e pediu união para enfrentar os desafios do pós-pandemia.
Alvo de críticas dos EUA e de parte da comunidade internacional devido à resposta à Covid-19, Xi instou os países a seguirem diretrizes com base em evidências científicas e a coordenarem uma resposta conjunta sob a tutela da Organização Mundial de Saúde (OMS), colocando as pessoas e as vidas em primeiro lugar.
"Nenhum caso deve ser esquecido e nenhum paciente pode ficar sem tratamento. O vírus será derrotado, e a humanidade vencerá essa batalha", disse o dirigente chinês, louvando esforços dos governos em todo o mundo, a dedicação de cientistas, o trabalho de profissionais de saúde e a perseverança da população.
A relação entre China e OMS foi o principal motivo alegado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para cortar o financiamento à entidade e, mais tarde, retirar o país da lista de membros do órgão.
Segundo o líder americano, que em seu discurso na Assembleia Geral da ONU voltou a culpar o regime chinês pela pandemia, a OMS é um "fantoche da China". Em várias ocasiões, Trump se referiu ao coronavírus como "vírus chinês", e o governo americano chegou a acusar o país de espalhar o patógeno a partir de um laboratório em Wuhan, onde foi detectado o primeiro caso da Covid-19.
Estudos independentes desmentiram a teoria e, em seu discurso, Xi defendeu que "qualquer tentativa de politização ou estigmatização [da pandemia] deve ser rejeitada". A China encara o combate ao coronavírus com o "mesmo senso de responsabilidade" que teve, há 75 anos, durante a Segunda Guerra, disse.
Embora não tenha citado os EUA, com quem a China vive uma espécie de Guerra Fria 2.0 em frentes que vão além das respostas dos dois países à pandemia, Xi afirmou que seu país não tem interesse em buscar hegemonia ou expansão de sua esfera de influência.
"Nós não temos intenção de travar uma guerra fria ou quente com nenhum país", afirmou o dirigente, argumentando que o plano de desenvolvimento da China é "aberto, cooperativo e pacífico".
Repetindo afirmação feita durante a Assembleia Geral da OMS, em maio, Xi declarou que as vacinas contra o coronavírus desenvolvidas na China serão um bem público mundial. Também anunciou que o país deve investir US$ 2 bilhões (R$ 11 bilhões) em assistência a países em desenvolvimento nos próximos dois anos.
Xi dedicou a maior parte do seu discurso a listar quatro lições obtidas a partir da pandemia. A primeira seria que o mundo é "uma aldeia global interconectada com um interesse comum". Seguindo essa lógica, nenhum país deveria obter vantagens da dificuldade de outro.
A segunda lição, de acordo com o líder chinês, seria a percepção de que a globalização econômica é uma realidade indiscutível. "Enterrar a cabeça na areia como um avestruz diante da globalização econômica ou tentar combatê-la com a lança de Dom Quixote vai contra a tendência da história", disse, em referência ao clássico personagem da literatura espanhola que lutava contra monstros e inimigos imaginários.
Xi ainda defendeu que os países comecem uma revolução verde, com o objetivo de alcançar um desenvolvimento verdadeiramente sustentável e para "fazer da Mãe Terra um lugar melhor para todos".
Por último, discorreu sobre a evolução da dinâmica política e econômica da comunidade internacional. Ele criticou o protecionismo e o unilateralismo e defendeu que o "sistema global" precisa de reformas coordenadas por entidades como a ONU e a OMC (Organização Mundial do Comércio).
Esta foi a segunda vez que o dirigente discursou na Assembleia Geral desde que assumiu o poder na China, em 2013. Nos dois primeiros anos à frente do regime, seu representante foi Wang Yi, ministro das Relações Exteriores. Em 2015, Xi falou pela primeira vez na conferência e, no ano seguinte, enviou o premiê, Li Keqiang. Nas últimas três edições, o chanceler chinês voltou a falar em nome do regime.
Nesta terça-feira, Xi foi o quarto chefe de Estado a fazer seu pronunciamento, depois do turco Recep Tayyip Erdogan, do americano Donald Trump e do brasileiro Jair Bolsonaro, que abriu o evento -tradicionalmente, o chefe de Estado do Brasil é o primeiro a falar na conferência.
É na Assembleia Geral que os representantes dos 193 países-membros da organização se reúnem para discutir assuntos que afetam a comunidade internacional, e todos têm direito a voto.
Neste ano, os líderes concordaram em enviar vídeos com os pronunciamentos em vez de se reunir presencialmente na sede da ONU em Nova York, como forma de evitar a propagação do coronavírus.