Na 1ª conversa com Putin, Biden confirma acordo nuclear e lista temas incômodos
Também nesta terça o americano falou com Jens Stoltenberg, o secretário-geral da Otan.
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Mundo EUA-RÚSSIA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em sua primeira ligação ao presidente Vladimir Putin desde que assumiu a Casa Branca, Joe Biden confirmou a extensão de um importante acordo de armas nucleares e listou uma série de temas incômodos a seu colega russo.
Segundo a porta-voz de Biden, Jen Psaki, o americano questionou Putin acerca do envenenamento e prisão do opositor Alexei Navalni, que provocou os maiores protestos na Rússia desde 2017 no sábado passado (23).
Biden também quis saber se o Kremlin tinha envolvimento com o grande ataque de hackers a órgãos governamentais americanos, ocorrido no fim de 2020 e atribuído aos russos pela gestão Donald Trump.
O americano fez perguntas sobre os relatos de que a Rússia teria pago mercenários no Afeganistão para atacar alvos de Washington no país, algo já negado pelo Kremlin, e expressou seu desejo de uma Ucrânia soberana.
Desde 2014, quando um golpe derrubou o governo pró-Kremlin em Kiev, Putin anexou a Crimeia e mantém apoio a rebeldes no leste ucraniano, causando uma instabilidade que impede a absorção do vizinho por estruturas ocidentais como a Otan (aliança militar ocidental).
A relação de Moscou com o Ocidente deteriorou desde então, com sanções aplicadas aos russos e o maior nível de tensão militar desde a Guerra Fria. Embora Trump fosse visto como simpático a Putin, nada avançou neste campo.
Também nesta terça o americano falou com Jens Stoltenberg, o secretário-geral da Otan. Reafirmou o comprometimento com o princípio de defesa coletiva do clube caso algum de seus membros sofra uma agressão, um recado à Rússia após anos de desprezo de Trump pela aliança.
O democrata Biden, como seu ex-chefe Barack Obama, tem fala de ser mais duro com a Rússia do que os republicanos. Por isso a lista de roupa suja enunciada por sua porta-voz.
Mas falar grosso é uma coisa. Na prática, o que houve de concreto na conversa foi a confirmação de uma boa notícia: a extensão por cinco anos do acordo de limitação de armas nucleares estratégicas Novo Start, que coloca um teto de 1.550 ogivas operacionais para cada lado.
Ele venceria em 5 de fevereiro, e estava prestes a caducar porque Trump manteve uma política agressiva no campo da bomba atômica: ordenou o emprego de um novo modelo menos potente e em tese mais facilmente utilizável e deixou dois outros acordos que visavam reduzir um confronto com Moscou.
Para Biden, estender o Novo Start é uma saída fácil para limpar a mesa antes de enfrentar problemas mais complexos no campo externo, como sua relação cheia de conflitos com a China, e internos, acima de tudo a crise da pandemia.
Desta forma, é preciso tomar a valentia expressa pela Casa Branca com cautela. O comunicado do Kremlin sobre o caso, divulgado pela agência Tass, foi bastante mais lacônico.
Analistas militares veem uma vitória para Putin com o Novo Start renovado, dado que os americanos estavam pressionando para ampliar o regime de inspeções de armas nucleares, de olho nos novos modelos desenvolvidos por Moscou nos últimos anos.