Mourão sinaliza que Ernesto Araújo pode ser trocado em reforma ministerial
O vice-presidente também criticou a comunicação do Palácio do Planalto, hoje sob o guarda-chuva do ministro Fábio Faria.
© Roque de Sá/Agência Senado
Política ERNESTO-ARAÚJO
BRASÍLIA, DF, E WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) sinalizou nesta quarta-feira (27) que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pode ser trocado na reforma ministerial que deve ocorrer após as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, na segunda-feira (1º).
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Mourão foi indagado sobre a situação de Ernesto, alvo de críticas por causa das dificuldades para trazer vacinas da Índia e insumos para imunizantes da China, país atacado inúmeras vezes pelo chanceler de forma virulenta.
O vice-presidente fez uma série de ponderações de que não tem participado das discussões sobre troca de ministros, mas sinalizou a saída do chanceler como uma possibilidade.
"Não resta dúvida que tem alguns ministros que são destaque inconteste pela sua capacidade gerencial e sua visão estratégica. Não preciso citar nomes. Mas o caso específico que você colocou [Ernesto Araújo], na questão das Relações Exteriores, isso é algo que fica na alçada do presidente, né? Eu acho, julgo, não tenho bola de cristal para isso, nem esse assunto foi discutido comigo, que, num futuro próximo aí, após essa questão das eleições dos novos presidentes das duas Casas do Congresso, poderá ocorrer uma reorganização do governo para que seja acomodada a nova composição política que emergir deste processo", disse Mourão.
"Então, talvez, nisso aí, alguns ministros sejam trocados e, entre eles, o próprio das Ministério das Relações Exteriores. Então, prefiro aguardar. Até porque esse assunto não foi discutido comigo em nenhum momento, e tudo o que eu puder falar aqui será pura especulação", concluiu.
Na semana passada, houve rumores entre diplomatas brasileiros de que o ex-presidente Michel Temer poderia ser o substituto de Ernesto, mas a chegada do carregamento de vacinas da Índia ao Brasil pareceram, nos bastidores, dar uma sobrevida ao ministro.
Nesta semana, porém, parte do núcleo militar do governo passou a dizer que o desconforto com a figura do chanceler havia chegado "ao limite" por causa de seus embates com a China num momento crucial da pandemia e, de acordo com esses militares, a saída de Ernesto havia se tornado inevitável.
As declarações de Mourão nesta quarta foram interpretadas como forma de externar o sentimento que já dominava parte do setor militar e dos técnicos do Itamaraty.
O nome de Temer, no entanto, é visto de maneira cética entre os diplomatas. Um dos motivos é o fato de o escritório de advocacia do ex-presidente atuar no processo de instalação das redes 5G no país, o que seria considerado um conflito de interesse muito grande.
Na entrevista à Rádio Bandeirantes, Mourão também reclamou da pouca participação que tem tido nas decisões do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
"Na minha visão, acho que o presidente poderia me utilizar mais para a discussão de determinados assuntos, de modo que a gente pudesse chegar às decisões que fossem as mais adequadas às situações que têm sido vividas. Sempre estou pronto para auxiliar, tenho procurado fazer isso dentro dos limites estabelecidos para a minha atuação, mas é óbvio que eu gostaria de ter uma participação maior", afirmou.
O vice-presidente também criticou a comunicação do Palácio do Planalto, hoje sob o guarda-chuva do ministro Fábio Faria. "Nossa comunicação tem deixado a desejar. Temos feito muita coisa e isso não consegue ser divulgado porque, na maioria das vezes, perdemos naquilo que eu chamo da briga de varejo", declarou Mourão.