EUA fazem primeiro movimento oficial para voltar a acordo nuclear com Irã
A gestão Joe Biden deverá retornar ao acordo se o Irã cumprir sua parte em reduzir enriquecimento de urânio
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Mundo Irã
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os EUA afirmaram nesta quinta-feira (18) que estão prontos para sentar à mesa com o Irã e negociar o retorno do país ao acordo nuclear, abandonado por Donald Trump em 2018.
Teerã reagiu friamente à iniciativa americana, informada a alguns parceiros do tratado em uma videoconferência entre o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e ministros das Relações Exteriores do Reino Unido, da França e da Alemanha.
Blinken reiterou a posição da gestão de Joe Biden de retornar ao acordo, se o Irã cumprir sua parte -que inclui diminuir em dois terços as centrífugas de enriquecimento de urânio, reduzir em 98% o estoque do material, impedir o uso de plutônio e limitar o funcionamento das instalações nucleares, sujeitas a inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica.
O secretário americano afirmou que voltar ao acordo "é uma conquista fundamental da diplomacia multilateral", segundo comunicado do Departamento de Estado dos EUA.
Uma autoridade americana falou à agência de notícias Reuters, sob condição de anonimato, que Washington deve aceitar o convite da União Europeia para dialogar com o Irã e outras cinco potências que negociaram o acordo original, em 2015 -Reino Unido, China, França, Alemanha e Rússia.
Já um funcionário da gestão Biden, também falando sob condição de anonimato ao New York Times, afirmou que as negociações aconteceriam se outras potências, incluindo China e Rússia, sentassem à mesa, o que deixa aberta a questão se lideranças regionais excluídas do último acordo -Arábia Saudita, Israel e Emirados Árabes Unidos- desempenhariam algum papel.
Londres, Paris e Berlim saudaram a intenção de Biden de retomar as relações diplomáticas com o Irã, mas o chanceler do país do Oriente Médio, Mohammad Javad Zarif, jogou para Washington a responsabilidade de dar o primeiro passo.
Teerã começou a violar o acordo em 2019, depois que os EUA saíram e o então presidente, Donald Trump, reimpôs sanções econômicas. O Irã subiu o tom, anunciou sua saída do pacto em janeiro de 2020 e, nos últimos meses, acelerou o descumprimento, travando um impasse com o governo Biden sobre quem deveria agir primeiro para salvar o tratado.
"Em vez de sofismas e colocar o ônus no Irã, a E3/UE deve cumprir seus próprios compromissos e exigir o fim do legado de Trump de #TerrorismoEconômico contra o Irã", escreveu Zarif no Twitter, referindo-se a Reino Unido, França e Alemanha como E3. "Nossas medidas remediadoras são uma resposta às violações de EUA/E3. Remova a causa se você teme o efeito", prosseguiu. "Respondemos AÇÃO com ação."
Interlocutores ligados às negociações ouvidos pela Reuters e pelo New York Times afirmam que a mudança de Washington marcou uma abertura para o Irã, mas o caminho a seguir será cheio de obstáculos.
O primeiro é o ultimato de Teerã para que Biden remova as sanções impostas por Trump até o fim da próxima semana. Se nada for feito, o país do Oriente Médio ameaçou com sua maior violação do acordo: banir inspeções de última hora.
O presidente americano já afirmou que retiraria as medidas se o Irã cumprisse sua parte do pacto. Para Teerã, no entanto, foram os EUA os primeiros a violar os termos do acordo, e, como reafirmado por Zarif nesta quinta, o país só agiria depois que Washington permitir a venda de petróleo e as operações bancárias em todo o mundo.
Reino Unido, França, Alemanha e EUA pediram que o Irã não tome nenhuma medida adicional. Os representantes dos quatro países disseram estar determinados em garantir que Teerã não receba nenhuma arma nuclear e "expressaram suas preocupações sobre as ações recentes para produzir urânio enriquecido até 20% e urânio metálico", afirmaram em comunicado conjunto.
O acordo determina um limite de 3,67% para o enriquecimento de urânio, ainda que o nível atual esteja longe dos 90% necessários para produção de armas.
Outro impasse é a eleição presidencial prevista para ser realizada em quatro meses no Irã. Não está claro se o líder supremo, o aiatolá Ali Khamanei, e outros líderes políticos e militares do país apoiariam uma retomada das relações com os EUA.
Até que consigam superar as dificuldades e, de fato, sentar à mesa de negociação, a gestão Biden já deu alguns passos para mostrar sua disposição. O governo americano retirou um pedido feito pelo antecessor ao Conselho de Segurança da ONU para impor sanções internacionais ao Irã devido à violação do acordo -o que foi rejeitado por quase todos os países.
Além disso, também foram removidas as restrições de entrada de autoridades iranianas nos EUA para reuniões da ONU, afirmou uma autoridade ao New York Times, sob condição de anonimato.