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Eleitos para Constituinte do Chile defendem redução de poder presidencial

De acordo com os resultados, maioria dos eleitos defendem igualdade de gênero

Eleitos para Constituinte do Chile defendem redução de poder presidencial
Notícias ao Minuto Brasil

20:45 - 18/05/21 por Folhapress

Mundo Eleições

BAURU, SP (FOLHAPRESS) - Um levantamento realizado pelo jornal La Tercera indica que a eleição dos 155 legisladores que serão responsáveis pela elaboração da nova Constituição do Chile deixou o país mais próximo de incorporar questões e direitos fundamentais à Carta, ao mesmo tempo em que sinaliza destinos diferentes para instituições chilenas como o Banco Central, o Tribunal Constitucional e a própria Presidência.

Durante mais de três meses, o jornal ouviu mais de mil candidatos à Assembleia Constituinte, dos quais 120 foram eleitos na votação do último final de semana, número que representa 78% do total de assentos e que, portanto, funciona como amostra do direcionamento dos legisladores.

A partir das entrevistas com os candidatos, o levantamento identificou que o perfil dos constituintes é, em sua maioria, jovem (média de idade de 45 anos), advogado (a maior parte dos eleitos tem o direito como profissão) e independente (não pertencem a um partido político.)

De acordo com os resultados, quase nove em cada dez eleitos são favoráveis à redução de poder da Presidência do Chile. Os que propõem a adoção de sistema semipresidencialista, com um primeiro-ministro como chefe de Estado, são 46,8%, enquanto outros 40% disseram preferir o modelo atual com algumas atenuações ao poder do presidente.

Só 6,6% preferem manter o presidencialismo como ele é hoje, o que é exatamente o mesmo percentual dos que são favoráveis a um modelo parlamentarista. Os números indicam ainda que não há consenso em relação ao mandato presidencial, mas 58,3% dos entrevistados se disseram mais próximos de estabelecer mandatos de quatro anos e 62,5% se opuseram à possibilidade de reeleição imediata.

O Congresso chileno, que desde 1822 é dividido em duas câmaras –uma para deputados, outra para senadores– também pode estar perto de uma mudança. Pouco mais da metade dos entrevistados (51%) afirmam preferir um Parlamento unificado.

A outra metade se divide entre os 18,3% que manteriam o modelo atual e os 30,7% que gostariam de manter duas Casas, mas em uma configuração que estabeleça uma como formada por representação política e outra por representação territorial.

Outra instituição chilena que pode passar por uma reforma ou até deixar de existir é o Tribunal Constitucional (TC) –equivalente ao Supremo Tribunal Federal do Brasil. Segundo o levantamento do La Tercera, apenas 3% dos constituintes entrevistados desejam manter o TC como é hoje.

Quase dois terços (65%) planejam reformá-lo, mudando, entre outros aspectos, a forma como os ministros que o compõem são indicados e a prerrogativa de controlar projetos de lei durante sua tramitação no Congresso. Outros 31% dizem acreditar que a melhor solução é eliminar o TC e criar um novo órgão.

A atual Constituição chilena prevê que cada lei precisa ter dois terços dos votos dos legisladores para ser aprovada, mas apenas 13,3% dos constituintes eleitos ouvidos no levantamento concordam que esse modelo conhecido localmente como "supermaioria" deve permanecer exatamente como é hoje.

A maior parte (45,83%) diz que as supermaiorias devem ser exigidas apenas na votação de alguns projetos específicos, e os que desejam suprimir completamente esse modelo são 40,83%. Para estes, a maioria simples e absoluta das votações deve ser suficiente para a aprovação de novas leis a partir da promulgação da nova Constituição.

O La Tercera também ouviu os candidatos sobre suas posições em relação ao funcionamento do Banco Central do Chile. Atualmente, a instituição é autônoma, ou seja, tem liberdade para delimitar sua atuação para o cumprimento de metas, sem interferências políticas.

Para 86,7% dos entrevistados, é assim que o Banco Central deve continuar nos termos da nova Carta. A cifra é a soma dos 49,2% que buscarão manter a autonomia, mas se disseram a favor de introduzir reformas e dos 37,5% que não querem nenhuma alteração. Os 13,3% restantes defendem o fim da autonomia constitucional do BC.

O La Terceira também investigou o tipo de estabelecimento de ensino em que estudaram os eleitos. Dos 132 legisladores dos quais foi possível obter os dados escolares, 67% estudaram em instituições públicas ou foram bolsistas em particulares (49 e 40 constituintes, respectivamente). Os 43 restantes (33%) vieram de escolas de elite.

As respostas dos constituintes indicam que a nova Constituição chilena deve contemplar direitos mais específicos em seus artigos. Dos entrevistados, 91,6% defendem, por exemplo, a inclusão do acesso, proteção e distribuição de água como um direito fundamental e um bem nacional de uso público.

De forma semelhante, 69,2% sustentam que deve ser responsabilidade do Estado oferecer acesso igualitário e universal à moradia digna de acordo com o tamanho dos núcleos familiares.

Também há consenso em garantir na Carta o acesso à energia como direito fundamental, embora existam diferenças nas modalidades: 41,7% sugerem que seja consagrado um modelo em que o Estado garanta igualdade de acesso às fontes de energia renováveis, limpas, verdes, não poluentes e de baixo custo, e 33,33% defendem que o Estado deve atuar como o principal fornecedor de energia.

Dos 120 eleitos ouvidos pelo La Tercera, apenas um disse que não deveria haver reconhecimento dos povos indígenas na redação da nova Constituição, embora a própria composição da Assembleia tenha garantido uma cota de 17 assentos a membros dessas comunidades.

Por outro lado, 70% se disseram a favor de, não apenas reconhecer os povos originários, como também a diversidade cultural do Chile e a definição do país como um Estado plurinacional.

Em termos de perspectiva de gênero, 73,33% dos entrevistados concordam que a Constituição deve conter medidas específicas que considerem como dever do Estado a igualdade efetiva entre homens e mulheres, regras de não discriminação e igualdade salarial.

A redação da nova Carta começa em junho e levará até um ano. Depois, haverá novo plebiscito, no qual a população decidirá se aprova ou não a reformulação. Em um recado ao governo do presidente Sebastián Piñera e aos partidos tradicionais, candidatos independentes foram os mais votados e formarão 42% do novo órgão, com 65 das 155 cadeiras.

A aliança governista, que concorreu em uma lista única, conseguiu apenas 37 das 155 cadeiras (24%) do órgão constituinte. Já a esquerda, dividida em duas relações, conquistou 53 assentos (34%).

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