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Angola teme que Crivella transforme embaixada na África em posto da Universal

A igreja comandada pelo bispo Edir Macedo passou a cobrar de Jair Bolsonaro um maior envolvimento do Itamaraty na defesa dos interesses da instituição no país africano

Angola teme que Crivella transforme embaixada na África em posto da Universal
Notícias ao Minuto Brasil

09:28 - 05/07/21 por Folhapress

Mundo MARCELO-CRIVELLA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A indicação de Marcelo Crivella (Republicanos) para ser embaixador do Brasil na África do Sul gerou queixas de autoridades do governo de Angola, que temem que o ex-prefeito do Rio transforme a missão diplomática num posto avançado da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no continente africano.

A Universal atravessa uma crise em Angola, com a rebelião de religiosos locais e o envolvimento de lideranças brasileiras da instituição em acusações de crimes financeiros. Assim, o racha da IURD converteu-se num ponto de tensão entre os governos de Brasil e Angola. Um dos capítulos mais tensos dessa crise ocorreu em meados de maio, quando 34 brasileiros ligados ao trabalho missionário receberam a notificação de autoridades em Luanda de que seriam deportados.

A igreja comandada pelo bispo Edir Macedo passou a cobrar de Jair Bolsonaro um maior envolvimento do Itamaraty na defesa dos interesses da instituição no país africano. Num aceno à bancada evangélica, o presidente então decidiu nomear Crivella –bispo licenciado na IURD– como embaixador em Pretória.

O Ministério das Relações Exteriores já enviou a consulta oficial sobre a designação, chamada agrément, um procedimento anterior ao encaminhamento do indicado para análise do Senado Federal.

O agrément é uma comunicação sigilosa em que um país solicita a anuência do outro para o envio de um novo embaixador. A praxe é que a consulta só seja devolvida caso a resposta seja positiva. Se o país a receber o nome selecionado tiver alguma objeção, o pedido é ignorado, em sinal de recusa.

As críticas sobre a indicação de Crivella foram apresentadas, em conversas reservadas, por membros do governo de Angola a interlocutores no Itamaraty e a autoridades sul-africanas. Procurados, tanto o ministério brasileiro quanto a embaixada de Angola em Brasília não responderam.

O incômodo também foi manifestado por representantes do governo de Moçambique, de acordo com relatos feitos à reportagem, já que a IURD também está presente em território moçambicano.

O medo desses países é que Crivella use a estrutura da missão brasileira para defender os interesses da Universal em toda a região. Além da oposição dos dois países, a escolha causou constrangimento no Itamaraty e criou uma saia justa para o governo sul-africano liderado por Cyril Ramaphosa.

Por um lado, a África do Sul não quer criar rusgas com duas nações africanas com as quais mantêm fortes laços econômicos e políticos. Mas tampouco gostaria de se indispor com o governo Bolsonaro, um dos parceiros no Brics, bloco também formado por Rússia, Índia e China.

Uma pessoa que acompanha o tema disse, em condição de anonimato, que a África do Sul tende a tolerar Crivella para evitar um choque direto com o presidente brasileiro, uma vez que, na praxe diplomática, a rejeição a um indicado a embaixador é considerada um sinal de forte descontentamento.

Na África do Sul, a Universal também atravessa uma crise, com situações semelhantes às registradas em Angola. Mas o cisma sul-africano tem proporções menores, disse à reportagem um interlocutor. No Itamaraty, a designação de Crivella causa desconforto em razão do atual chefe da missão brasileira em Pretória, o embaixador Sérgio Danese. Diplomata de carreira, ele está há menos de um ano no posto.

Danese é um dos diplomatas da ativa mais graduados no Itamaraty. Na década de 1990, ocupou cargos de destaque nos ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente e foi chefe das embaixadas do Brasil em Argel e em Buenos Aires. Entre 2015 e 2016, Danese também foi secretário-geral do Itamaraty, o segundo cargo mais importante na hierarquia do Ministério de Relações Exteriores.

Mesmo que o governo da África do Sul dê luz verde para Crivella, a ida do político para o posto ainda depende do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes. Em fevereiro, o magistrado revogou a prisão que havia sido decretada ao ex-prefeito do Rio, mas estabeleceu medidas cautelares, como a proibição de sair do país e o recolhimento de passaporte.

Em maio, a defesa do político pediu ao ministro a reconsideração da decisão e a liberação para sair do Brasil. Gilmar pode analisar a solicitação sozinho ou remeter o tema à Segunda Turma da corte.

Crivella foi preso em dezembro por ordem da desembargadora Rosa Macedo Guita, do Tribunal de Justiça do Rio. Ele foi detido em operação da Polícia Civil e do Ministério Público que denunciou o político e outras 25 pessoas por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva e ativa.

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