Uruguai anuncia avanço de acordo de livre-comércio com a China fora do Mercosul
Lacalle Pou afirmou que conversou com o líder chinês, Xi Jinping, e que a previsão de ambos é que o documento esteja pronto em novembro
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Economia Uruguai
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, anunciou na noite de terça-feira (7) que o país realiza "avanços concretos" para um acordo de livre-comércio com a China.
Trata-se do primeiro anúncio de negociações fora do Mercosul desde que o Uruguai comunicou a seus parceiros do bloco que, ao não poder avançar com a proposta de flexibilização do grupo, apostaria em iniciar conversas unilaterais com outros países com o objetivo de obter mais acordos comerciais.
O mandatário convocou líderes de todos os partidos políticos para transmitir a notícia sobre as negociações. O país passará agora a um período de análise sobre as possibilidades de o acordo ir adiante, e para isso, segundo afirmou o presidente, seria necessário o empenho das demais forças políticas, assim como de empresários e sindicatos.
Lacalle Pou afirmou que conversou com o líder chinês, Xi Jinping, e que a previsão de ambos é que o documento esteja pronto em novembro.
Indagado em uma entrevista a jornalistas locais se isso causaria problemas com os demais membros do Mercosul, o uruguaio respondeu que acreditava que não.
"Se houver algum incômodo, não passará disso", afirmou. E acrescentou: "Temos uma vocação histórica de pertencer ao Mercosul e, ao mesmo tempo, de abrir nossas fronteiras ao mercado mundial. Já tínhamos dito a nossos sócios que iríamos avançar com relação a esse acordo, e isso fizemos."
Lacalle Pou disse ainda que os ministros das relações exteriores de Paraguai, Brasil e Argentina já estão a par dos avanços da negociação com a China.
O governo do Uruguai entende que não precisa do aval dos demais sócios do bloco para avançar com esse acordo, algo que vem sendo contestado pela Argentina, o membro mais protecionista do Mercosul.
Na entrevista, Lacalle Pou afirmou que o Uruguai tem a intenção de fazer outros acordos de livre-comércio. "Queremos fazer com todos. Se os EUA quiserem, nós queremos fazer com eles também. Estamos passando da palavra à ação porque queremos a prosperidade para nossos compatriotas".
Num encontro comemorativo dos 30 anos do Mercosul, em março, o presidente argentino, Alberto Fernández, afirmou que o país não queria ser "um peso para ninguém, se somos um peso, que tomem outro barco" em resposta a uma colocação de Lacalle Pou sobre a necessidade de flexibilizar o Mercosul.
Lacalle Pou e Fernández tiveram dois encontros depois dessa ocasião, um no Uruguai e outro em Buenos Aires. Segundo o uruguaio, o argentino, apesar de contrariado, havia aceito a posição do vizinho. Apesar disso, na quarta-feira (8), o governo argentino se disse "surpreendido" pelo avanço do Uruguai.
A China é o principal parceiro comercial do país -27% dos produtos uruguaios, principalmente do setor agropecuário, como lácteos, carne e soja, são exportados para o gigante asiático.
Enquanto isso, continua o impasse com relação à proposta de redução da Tarifa Externa Comum por parte do Brasil. A Argentina afirma ser contra uma redução radical, defendendo uma transição gradual. A gestão de Fernández afirma querer proteger alguns setores da indústria, como o automobilísitico, a metalurgia e a indústria têxtil.
"O Uruguai pode fazer um acordo bilateral com a China por fora do Mercosul ou seguir no Mercosul", afirmou, nesta quarta-feira (8), o ministro de desenvolvimento produtivo argentino, Matías Kulfas, após uma reunião de gabinete na Casa Rosada. "O Mercosul se rege pela regra do consenso, se negocia em bloco, não individualmente", disse. O governo argentino recebeu a notícia sobre a negociação uruguaia na terça-feira (7), por meio de uma comunicação do chanceler Francisco Bustillo a seu par Felipe Solá.
Kulfas afirmou ainda que "está claro que o Uruguai é um país soberano e pode tomar a decisão que pareça mais conveniente. Mas a normativa do bloco é muito clara, os acordos se fazem em conjunto e não de modo bilateral". Sobre uma resposta oficial ao país, Kulfas afirmou que o governo argentino irá "observar para ver o que fazer".