União Europeia processa Polônia por questionar primazia do direito europeu
A Polônia terá dois meses para responder à carta de notificação e cumprir o que foi solicitado pela UE
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Comissão Europeia, Poder Executivo da UE, entrou nesta quarta-feira (22) com um processo de infração contra a Polônia devido à decisão do Tribunal Constitucional polonês que, em outubro, afirmou que tratados do bloco ferem a soberania do país e são incompatíveis com a legislação nacional.
O comissário europeu de Economia, o italiano Paolo Gentiloni, disse que a comissão considera que a decisão viola os princípios gerais de autonomia, aplicação uniforme do direito da União Europeia e das decisões vinculantes da principal corte do bloco, o Tribunal de Justiça.
Afirmou, ainda, que o bloco considera que o Tribunal Constitucional polonês já não responde às exigências de um tribunal independente e imparcial, referindo-se à controversa reforma do Judiciário votada no país em 2019 e implementada no ano passado.
Entre as mudanças, está a criação de uma câmara disciplinar para juízes da Suprema Corte, com poderes para tirar a imunidade, suspender e reduzir salários dos integrantes da corte, medida que tem levado à suspensão de magistrados críticos ao governo. O Judiciário, assim, tornou-se um braço do partido nacionalista conservador Lei e Justiça (PiS), que está no poder.
A UE já vinha aplicando sanções e pressionando o governo polonês para suspender a câmara disciplinar -no final de outubro, condenou a Polônia a pagar multa de 1 milhão de euros (cerca de R$ 6,5 milhões) por dia em que continuar descumprindo a ordem, por exemplo.
A crise entre o bloco e o país da Europa central escalou com a decisão de que os tratados da UE feriam e eram inferiores às decisões nacionais. O tema chegou ao Tribunal Constitucional depois de o premiê Mateusz Morawiecki questionar se o regramento da UE poderia impedir a Polônia de reorganizar seu Judiciário.
Morawiecki chamou o processo de infração iniciado pela Comissão Europeia nesta quarta de centralismo burocrático e disse que a UE tem interpretado mal os poderes conferidos ao bloco. "Acho que cada vez mais Estados europeus estão vendo que deve haver um limite para as competências da UE", afirmou o premiê.
O vice-ministro polonês da Justiça, Sebastian Kaleta, classificou o processo como um ataque à Constituição e à soberania do país. "A operação de subordinação da UE aos tribunais constitucionais está em curso; o Tribunal de Justiça da UE quer julgar a nossa Constituição", escreveu Kaleta em uma rede social.
A Polônia terá dois meses para responder à carta de notificação e cumprir o que foi solicitado pela UE. Se a Comissão Europeia não ficar satisfeita com a resposta de Varsóvia, poderá enviar novo parecer, solicitando que se faça cumprir a legislação da UE, novamente com período de resposta de dois meses.
Depois disso, a Comissão pode processar a Polônia no Tribunal de Justiça do bloco, o que poderia levar a novas multas diárias para o país.
O confronto entre a Polônia e a UE, que o país integra ao lado de outros 26 Estados-membros, tem atrasado também a liberação de milhões de euros de fundos de recuperação do bloco para a Polônia, uma vez que a Comissão Europeia diz que é preciso proteger o dinheiro de usos políticos indevidos.
As discussões levantaram a possibilidade e o temor de que a situação culminasse em um o 'polexit' -um divórcio da União Europeia semelhante ao brexit. A possibilidade, no entanto, é vista como improvável por analista por vários motivos, entre os quais o fato de que a maior parte dos poloneses é a favor da integração com a UE, e a atual conjuntura interna, na qual a coalizão do partido governante, o PiS, tem uma margem estreita de maioria no Parlamento.
Ainda assim, os especialistas temem que a disputa e o comportamento da Polônia possam abrir brechas para outros países do bloco questionarem e ameaçarem os fundamentos da UE impunemente.