Rússia e Ucrânia fazem novas negociações em meio a ataques em Kiev
A segunda-feira começou com um ataque contra um edifício residencial em Kiev, que deixou ao menos uma pessoa morta e 12 feridos, segundo equipes de emergência.
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Autoridades russas e ucranianas fazem nesta segunda-feira (14) uma nova rodada de negociações, desta vez por videoconferência, em meio a denúncias de novos ataques à capital ucraniana, Kiev, e um constante bombardeio em Mariupol, no sul do país.
A segunda-feira começou com um ataque contra um edifício residencial em Kiev, que deixou ao menos uma pessoa morta e 12 feridos, segundo equipes de emergência. Três dos feridos foram hospitalizados.
As equipes de resgate afirmaram que o prédio fica na zona norte da capital ucraniana e que um incêndio foi controlado pelos bombeiros depois de um disparo de artilharia durante a madrugada.
O governo local também afirmou que houve bombardeios contra a fábrica de aviões Antonov, onde duas pessoas morreram, segundo as autoridades ucranianas.
Além de Kiev, sirenes de alertas de ataque aéreo soaram antes do amanhecer em diferentes regiões da Ucrânia, como Lviv, Odessa, Ivano-Frankivsk e Tcherkássi.
Separatistas pró-Rússia de Donetsk, no leste da Ucrânia, afirmaram nesta segunda-feira que um ataque ucraniano deixou 16 mortos e 23 feridos no centro da cidade. No Telegram, forças de defesa de Donetsk publicaram fotos que mostram corpos ensanguentados entre escombros.
A mensagem afirma que a defesa aérea da região interceptou um míssil ucraniano e que estilhaços atingiram a população.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, insistiu no domingo que a Otan deve impor uma zona de exclusão aérea após o ataque à cidade de Lviv, a 25 quilômetros da fronteira com a Polônia, deixando 35 mortos, na contagem ucraniana -os russos falam em 180 mercenários estrangeiros mortos.
Até aqui, os Estados Unidos descartaram intervir militarmente no conflito, e o presidente Joe Biden alertou que, se a Otan entrar para combater a Rússia, será a Terceira Guerra Mundial. No domingo (13), Biden conversou com o presidente francês, Emmanuel Macron, e ambos "destacaram seu compromisso de responsabilizar a Rússia por suas ações e de apoiar o governo e o povo da Ucrânia", disse a Casa Branca.
Russos e ucranianos dispararam mensagens otimistas sobre o andamento das negociações e chegaram a sinalizar no domingo que um acordo poderia chegar nos próximos dias.
Enquanto outras negociações focaram em assuntos humanitários, nesta segunda autoridades dos dois países discutirão um cessar-fogo, segundo o negociador ucraniano Mikhailo Podoliak. "Negociações. 4ª rodada. Discutirá paz, cessar-fogo, retirada imediata das tropas e garantias de segurança. Discussão difícil", escreveu nas redes sociais.
As negociações em meio ao constante bombardeio ao porto de Mariupol, no sul do país, onde quase 2.200 pessoas foram mortas nos ataques, segundo autoridades ucranianas. Uma coluna humanitária que se dirige ao local teve que voltar no domingo, disse um funcionário da cidade à AFP, depois que os russos "não pararam de atirar". Zelenski acusa Moscou de bloquear e atacar comboios humanitários, embora tenha dito no domingo que 125 mil pessoas puderam deixar o país.
O último relatório de inteligência do Ministério da Defesa da Grã-Bretanha aponta que a Rússia teria estabelecido um bloqueio naval do mar Negro para isolar a Ucrânia do comércio marítimo internacional.
Enquanto isso, um dos aliados mais próximos de Putin reconheceu que o avanço russo não é tão rápido quanto o Kremlin esperava. "Gostaria de dizer que sim, nem tudo está indo tão rápido quanto gostaríamos", disse Viktor Zolotov, chefe da Guarda Nacional russa, que já foi responsável pela segurança pessoal de Putin. "Mas estamos indo em direção ao nosso objetivo passo a passo e a vitória será para nós", afirmou, durante cerimônia religiosa liderado pelo patriarca da Igreja Ortodoxa, Cirilo, no domingo.
O progresso mais lento do que o esperado se dá pelo que ele chamou de forças de extrema-direita escondidas por trás de civis, acusação repetida por autoridades na Rússia. Na sexta-feira (11), o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, disse a Putin que "tudo está indo de acordo com o planejado".
Em meio ao progresso mais lento, a Rússia teria pedido à China equipamento militar para atuar no conflito, afirmaram autoridades americanas à imprensa dos EUA, provocando preocupação na Casa Branca de que Pequim possa intervir mais diretamente na guerra. Moscou também pediu a Pequim assistência econômica para enfrentar as sanções impostas por boa parte do mundo ocidental, informou o jornal New York Times, que citou fontes do governo que pediram anonimato.
O conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, que se encontra com o principal diplomata da China, Yang Jiechi, em Roma nesta segunda-feira, afirmou que "haverá consequências no caso de esforços em larga escala para evitar sanções".
Questionado sobre o pedido de ajuda militar da Rússia, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em Pequim negou e acusou os Estados Unidos de "desinformação". "Apoiamos e encorajamos todos os esforços que conduzam a uma solução pacífica da crise", disse.
A ONU estima que quase 2,7 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia desde a invasão, principalmente para a Polônia. O papa Francisco pediu no domingo pelo fim do que chamou de massacre. "Em nome de Deus, peço que parem com este massacre", afirmou o pontífice.