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Rússia diz que mais de mil soldados da Ucrânia se renderam em Mariupol

A Rússia também ameaçou atacar centros de controle da capital Kiev, região que assistiu ao recuo das tropas de Putin há duas semanas

Rússia diz que mais de mil soldados da Ucrânia se renderam em Mariupol
Notícias ao Minuto Brasil

05:34 - 14/04/22 por Folhapress

Mundo Guerra

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Ministério da Defesa da Rússia afirmou nesta quarta (13) que mais de mil fuzileiros navais da Ucrânia, incluindo 162 oficiais, renderam-se na cidade portuária de Mariupol, um dos principais símbolos do conflito que se desenrola no Leste Europeu. A defesa ucraniana, por sua vez, nega ter informações sobre a rendição.

O porto de Mariupol, o principal do mar de Azov, está em disputa há semanas, levando a cidade de 400 mil habitantes ao caos humanitário.

De localização estratégia, ela representa para as tropas de Vladimir Putin a possibilidade de construir uma ponte terrestre entre a península da Crimeia, anexada em 2014, e a região do Donbass, onde estão as duas autoproclamadas repúblicas separatistas de maioria russa que Moscou reconheceu pouco antes de dar início à invasão -região onde, agora, as forças russas concentram seus efetivos.

A mídia estatal divulgou imagens do que seria a rendição dos ucranianos, muitos deles com ferimentos, mas a alegação da defesa russa não pôde ser confirmada de maneira independente. Jornalistas da agência de notícias Reuters no local relataram ter visto chamas na usina siderúrgica de Azovstal, criada na época soviética, também em Mariupol, na noite de terça (12).

Uma publicação na página oficial dos fuzileiros navais ucranianos feita na segunda (11) dizia que eles estavam praticamente sem munição e que se preparavam para a batalha final, mas o conteúdo foi depois desmentido por autoridades locais, segundo as quais a página havia sido hackeada anteriormente.

O governo de Mariupol afirma que cerca de 100 mil pessoas ainda aguardam para serem retiradas da cidade, alvo de intensos bombardeios. Mas nenhum corredor humanitário será aberto nesta quarta, informou a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Irina Vereschuk, em um aplicativo de mensagens.

Ela atribuiu a impossibilidade da retirada de civis às ações russas, que, seguiu, "violam as normas do direito internacional", tornando a situação perigosa para a população. A política afirma que em Zaporíjia, região central do país, tropas russas bloquearam a passagem de ônibus e, em Lugansk, no Donbass, violaram o cessar-fogo. "Os ocupantes não conseguem controlar de maneira efetiva seus homens."

Imagens de satélite divulgadas pela empresa americana Maxar Technologies mostram centenas de veículos militares russos, incluindo tanques, blindados e artilharia, posicionando-se no leste ucraniano, em uma estrada perto da vila de Vilkhuvatka, nos arredores de Kharkiv. Ao longo das últimas semanas, os próprios russos afirmaram que concentrariam tropas na porção leste.

Em Kharkiv, ao menos sete pessoas teriam morrido e 22 teriam ficado feridas após bombardeios que o governador Oleg Sinegubov atribui a Moscou. Ele afirmou que uma criança de dois anos estava entre as vítimas e que ao menos 53 ataques de artilharia foram realizados.

A Rússia também ameaçou atacar centros de controle da capital Kiev, região que assistiu ao recuo das tropas de Putin há duas semanas. O porta-voz da pasta da Defesa, Igor Konachenkov, disse que isso ocorrerá caso as forças ucranianas ataquem o território russo. O comentário veio horas após autoridades regionais de Kursk, cidade russa perto da fronteira com a Ucrânia, relatarem tiroteios -ainda que sem registro de feridos; uma mensagem sobre o caso foi apagada horas depois.

Na frente diplomática, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, recebeu em Kiev a visita dos presidentes da Polônia e dos países bálticos -Lituânia, Letônia e Estônia.

O líder lituano, Gitanas Nauseda, disse em uma mensagem no Twitter que o objetivo da visita era levar uma mensagem consistente de apoio político, mas também discutir maior assistência militar, no que foi ecoado pelo letão Egils Levits. "É nosso dever ajudar a Ucrânia com todo tipo de armas."

Depois de visitar Butcha e a capital, o polonês Andrzej Duda reforçou as acusações de crimes de guerra por parte da Rússia. "Isso não é guerra, é terrorismo", disse o presidente do membro da Otan de retórica mais agressiva contra Putin. "Não estamos falando só sobre soldados, mas sobre aqueles que emitiram as ordens. Todos devem ser julgados."

Moscou nega mirar civis e usar armas proibidas, mas Kiev manteve o tom de acusação. Ao Parlamento da Estônia, Zelenski voltou a dizer que os russos têm usado munições de fósforo branco, tipo de arma similar às incendiárias, que causa graves ferimentos por queimar a carne humana profundamente.

"O Exército russo está usando todos os tipos de artilharia, mísseis e bombas, em especial as de fósforo, contra distritos residenciais e infraestrutura civil; isso é terrorismo contra a população civil", disse o ucraniano, que semanalmente tem discursado a parlamentares de diferentes nações na tentativa de angariar apoio internacional.

A acusação também cresce por parte dos fóruns internacionais. Em relatório divulgado nesta quarta, a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que criou uma missão especial com 45 dos 57 países-membros para monitorar o assunto, diz ter encontrado evidências de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

A OSCE menciona, entre outros, o ataque a uma maternidade de Mariupol em 9 de março e o ataque a um teatro da mesma cidade que servia de abrigo para deslocados internos do conflito uma semana depois como crimes de guerra evidentes, ainda que Moscou negue atacar civis.

Já o procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, disse ter motivos razoáveis para acreditar que crimes dentro da jurisdição do tribunal -ou seja, de guerra, de agressão, de genocídio ou contra a humanidade- estão sendo cometidos na guerra.

Ele esteve nesta quarta em Butcha, cidade nos arredores de Kiev onde centenas de corpos foram encontrados nas ruas após o recuo russo, e se encontrou com a procuradora-geral ucraniana, Irina Venediktova.

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