Adolescente ucraniana engravida após estupro coletivo cometido pelo exército russo
Nesta quinta-feira (28), a invasão da Ucrânia completa 64 dias, com o Ministério da Defesa da Ucrânia dizendo, em seu relatório, que as forças russas estão "aumentando o ritmo da operação ofensiva".
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SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Uma adolescente de 14 anos, vítima de um estupro coletivo cometido por membros do exército russo, em Bucha, na Ucrânia, engravidou após os abusos, disse a psicóloga Oleksandra Kvitko, que contou a história à rádio Svoboda, com consentimento dos pais da garota. Ela trabalha na linha direta da ouvidoria para atendimento psicológico.
Nesta quinta-feira (28), a invasão da Ucrânia completa 64 dias, com o Ministério da Defesa da Ucrânia dizendo, em seu relatório, que as forças russas estão "aumentando o ritmo da operação ofensiva".
Conforme a psicóloga, a família da vítima planeja manter a gestação após os médicos que a atenderam alertarem que um aborto agora poderia impedir que ela engravidasse no futuro.
No total, a psicóloga diz trabalhar atualmente com cinco adolescentes de 14 a 18 anos que engravidaram devido a estupros cometidos por soldados russos.
Até a última terça-feira (26), a linha direta de atendimento para casos deste tipo havia recebido 103 denúncias nos territórios recém-libertados, disse ela. As vítimas incluem não apenas mulheres, mas também homens e crianças pequenas. A vítima mais jovem com quem ela trabalha tem 10 anos.
Diretora do Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, Oleksandra Matviychuk, apontou nas redes sociais outro problema. Segundo ela, na Polônia, onde muitas ucranianas vão como refugiadas em meio ao conflito, a legislação sobre aborto é muito rígida.
"Mulheres ucranianas que foram estupradas por russos e deixadas na Polônia não podem fazer abortos lá. Sob a lei polonesa, o aborto é permitido em caso de estupro, mas ainda não há processo criminal. Psicólogos na Polônia estão convencendo-a de que uma nova vida é maravilhosa. Eles destroem a vida de ambos", afirmou ela.
No início de abril, as autoridades polonesas anunciaram que havia recebido mais de 2,5 milhões de refugiados da Ucrânia, a maioria mulheres e crianças. É impossível saber com certeza quantas delas foram estupradas pelos ocupantes russos e ficaram grávidas, mas existem casos assim, disse Oleksandra à rádio.
A deputada Kira Rudyk, membro do Parlamento da Ucrânia, afirmou, no dia 13 deste mês, em entrevista à CBS News, que a violência sexual é "sistemática em todas as áreas ocupadas pelos russos" e que ouviu relatos de mulheres que engravidaram de seus estupradores.
Kira disse que as forças russas usaram o estupro como uma ferramenta para aterrorizar as pessoas, porque os ucranianos estavam resistindo à invasão. Ela contou que trabalha na coleta de dados na tentativa de responsabilizar os criminosos.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também relatou, em discurso ao Parlamento da Lituânia, que "centenas de casos de estupros foram registrados" desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro. Segundo Zelensky, entre as vítimas estão meninas adolescentes e crianças pequenas, além de um bebê.
Hoje, Zelensky recebe o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres. Na terça (26), Guterres esteve com o presidente russo, Vladimir Putin, e com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, a quem pediu cessar-fogo em busca do fim da guerra.
Guterres já visitou hoje cidades próximas a Kiev que chegaram a ser ocupadas pelas forças russas até março, como Borodianka, Irpin e Bucha, que ficou marcada pelo massacre de civis.
"Quando vemos este lugar horrível, entendo como é importante ter uma investigação completa e estabelecer as responsabilidades", declarou Guterres em Bucha. "Peço à Rússia que aceite cooperar com o TPI [Tribunal Penal Internacional, que abriu investigação sobre os ocorridos]." Os russos negam ter matado civis em Bucha.