China simula 'cerco total' a Taiwan após presidente da ilha visitar EUA
A movimentação foi detectada após Pequim iniciar três dias de exercícios militares próximos da ilha, o que inclui o treinamento de um cerco total à região. O regime chinês informou que as manobras têm o objetivo de dissuadir os esforços separatistas de Taiwan.
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Ministério da Defesa de Taiwan identificou neste sábado (8) nove navios e 71 aviões de guerra da China ao redor de seu território. Segundo Taipé, as aeronaves chegaram a cruzar a chamada linha mediana, que separa extraoficialmente os espaços territoriais no mar e no ar entre as partes.
A movimentação foi detectada após Pequim iniciar três dias de exercícios militares próximos da ilha, o que inclui o treinamento de um cerco total à região. O regime chinês informou que as manobras têm o objetivo de dissuadir os esforços separatistas de Taiwan.
"Eles são uma advertência severa contra o conluio entre as forças separatistas que querem a independência de Taiwan e as forças externas", disse o porta-voz militar chinês, Shi Yin.
Contratorpedeiros, navios com lança-mísseis, caças e navios-tanque foram mobilizados durante a atividade deste sábado, segundo a emissora estatal chinesa CCTV. "O exercício de hoje se concentra na capacidade de tomar o controle do mar e do espaço aéreo para criar um cerco total a Taiwan", informou.
O exercício é uma reação ao encontro do presidente da Câmara de Representantes dos EUA, o republicano Kevin McCarthy, com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, na quarta (5), na Califórnia. Ele se tornou o político mais importante a se encontrar com um líder de Taiwan em solo americano desde 1979, quando a Casa Branca restabeleceu relações diplomáticas com Pequim.
Os líderes não anunciaram acordos políticos ou econômicos no encontro, que teve peso simbólico ao transmitir a mensagem de que Taipé tem respaldo internacional diante das ameaças frequentes feitas por Pequim.
O regime chinês considera a ilha de Taiwan uma província rebelde e promete retomá-la pela força, se necessário. Autoridades do gigante asiático descreveram o encontro na Califórnia como uma provocação e prometeram respostas.
O governo taiwanês, por sua vez, criticou o exercício militar, afirmando que a movimentação traz impactos negativos para a segurança e o desenvolvimento econômico da comunidade internacional. Tsai descreveu o treinamento como parte do "contínuo expansionismo autoritário da China" e disse que continuará trabalhando com os EUA para defender a liberdade e a democracia.
Um dia antes, ela já havia dito que que as pressões de Pequim não iriam interromper o relacionamento da ilha com aliados estrangeiros. "Mostramos à comunidade internacional que, diante das pressões e ameaças, Taiwan estará ainda mais unida e absolutamente não cederá à repressão".
A presidente taiwanesa fez uma escala nos Estados Unidos depois de visitar Guatemala e Belize, dois dos últimos aliados oficiais da ilha, que recentemente perdeu o apoio de Honduras. O país centro-americano rompeu laços diplomáticas com Taiwan, agora alegando que a ilha faz parte do território chinês.
Atualmente, apenas 13 países reconhecem Taipé. A lista não inclui o governo dos Estados Unidos, que, no entanto, é um dos principais aliados e fornecedores de armas para Taiwan. Neste sábado, Washington informou que monitora a situação de perto e pediu à China moderação.
"Estamos confiantes de que temos recursos e capacidades suficientes para garantir a paz e a estabilidade na região, cumprindo nossos compromissos de segurança nacional", informou o Departamento de Estado.
No ano passado, uma visita de Nancy Pelosi, que comandou a Câmara antes de McCarthy, levou ao cerco da ilha pelos militares chineses. O apoio à ilha é um dos poucos consensos bipartidários no Congresso dos Estados Unidos e, durante o mandato de Tsai, essa relação se fortaleceu.
Os exercícios deste sábado repercutiram ainda em outros governos da região. O Ministério das Relações Exteriores da Malásia divulgou comunicado declarando estar "firmemente comprometido em proteger a soberania, direito e interesses do país em suas áreas marítimas no mar do Sul da China".
O comentário veio depois que Pequim expressou preocupações com projetos da Petronas, a estatal da Malásia que opera campos de petróleo e gás. A China reivindica soberania sobre quase toda a porção marítima, onde cerca de US$ 3 trilhões (R$ 15 trilhões) em comércio passam anualmente. Malásia, Brunei, Filipinas, Taiwan e Vietnã também reivindicam áreas.
A Petronas alega que atua na zona econômica exclusiva da Malásia e que, nos últimos anos, teve vários encontros com embarcações chinesas, cada vez mais frequentes na região. As discussões entre os dois países facilitam o aumento da influência dos EUA na Ásia: no ano passado, por exemplo, o presidente americano, Joe Biden, assumiu compromissos de longo prazo com os países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), da qual a Malásia é membro.