França prende 875 em 3ª noite de protestos; Macron sai às pressas de Bruxelas
Durante a noite desta quinta (29) e madrugada de sexta-feira, 875 pessoas foram presas, sendo metade delas em Paris, sendo dados do Palácio do Eliseu
© GEOFFROY VAN DER HASSELT/AFP via Getty Images
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A onda de protestos na França após a morte de um adolescente pela polícia levou o presidente francês, Emmanuel Macron, a deixar antecipadamente a cúpula de chefes de Estado e Governo da União Europeia, que ocorre em Bruxelas, nesta sexta-feira (30).
De maneira incomum, o líder francês cancelou uma entrevista coletiva e partiu de volta a Paris para uma reunião interministerial sobre as manifestações, algumas das quais com episódios violentos. Em casos assim, ele costuma ser substituído pelo líder alemão, Olaf Scholz.
Durante a noite desta quinta (29) e madrugada de sexta-feira, 875 pessoas foram presas, sendo metade delas em Paris, sendo dados do Palácio do Eliseu. Anteriormente, o Ministério do Interior havia falado em 667 prisões, a maioria de pessoas de 14 a 18 anos.
Ainda segundo cifras do governo, mais de 490 edifícios foram de alguma forma afetados nos protestos, 2.000 carros foram queimados e mais de 3.880 incêndios foram contabilizados em vias públicas.
Em Paris, a primeira-ministra Élisabeth Borne afirmou que o governo examina todas as opções para frear os recentes acontecimentos, "com uma prioridade em mente: o regresso à ordem". Ela foi questionada se declarar estado de emergência seria uma possibilidade e, de imediato, não descartou a hipótese.
Figuras da direita e da ultradireita francesa têm pressionado o governo de Macron por medida do tipo. O deputado Sébastien Chenu, do Reunião Nacional, o mesmo partido de Marine Le Pen -que disputou o segundo turno contra Macron- foi um dos que fez coro e demandou que o país seja "extremamente firme".
A situação também levou a ONU a se manifestar. "Este é o momento para que o país enfrente seriamente os profundos problemas de racismo e discriminação racial entre em suas forças de segurança", disse uma porta-voz do Alto Comissariado de Direitos Humanos.
"Instamos as autoridades a garantirem que o uso da força por parte da polícia contra elementos violentos nas manifestações siga respeitando os princípios da proporcionalidade e da não discriminação", disse Ravina Shamdasani durante uma entrevista coletiva em Genebra.
O estopim para a atual onda de protestos em solo francês foi a morte de Nahel, 17, de origem argelina, no subúrbio de Paris em meio a uma abordagem policial na última terça (27). A cena foi filmada por uma testemunha, e o vídeo se espalhou rapidamente pelas redes sociais.
No vídeo, dois policiais de capacete se aproximam da janela do motorista de um carro de luxo. Um deles aparentemente conversa com o adolescente, enquanto o outro aponta a arma. Após alguns segundos, o motorista acelera, ao que o policial armado reage atirando uma vez. Poucos metros à frente, sem direção, o Mercedes AMG sobe numa calçada e bate num poste. O adolescente morreu uma hora depois.
Segundo o promotor público de Nanterre, o adolescente morreu depois de receber um único tiro que o atingiu no braço esquerdo e no peito. O policial alega que queria evitar uma perseguição de carro por temer que outras pessoas se ferissem -o adolescente teria cometido várias infrações de trânsito antes de ser parado.
Nesta quinta-feira, o policial teria pedido desculpas à família de Nahel, segundo disse sua defesa. O advogado afirma que o agente de 38 anos teria mirado na perna dele, mas, após ser atingido pelo carro, atirou em direção ao peito.
O agente está detido após a Justiça decretar sua prisão preventiva por homicídio doloso. O Ministério Público considerou que o uso de sua arma não foi legalmente justificável.
Após uma reunião com a primeira-ministra Borne, o prefeito de Nanterre, onde o caso ocorreu, informou que o funeral de Nahel deve ser realizado neste sábado (1º). Ele disse ainda não ter palavras para descrever o que aconteceu. "A emoção e a raiva sentidas pela morte de Nahel ainda é muito forte e é compartilhada por toda a população", afirmou Patrick Jarry, segundo o jornal Le Monde.
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