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Risco de prisão tira Putin da reunião dos Brics na África do Sul

A Rússia será representada no evento, que terá presença prevista de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

Risco de prisão tira Putin da reunião dos Brics na África do Sul
Notícias ao Minuto Brasil

18:36 - 19/07/23 por Folhapress

Mundo Reunião

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ordem de prisão emitida em março pelo TPI (Tribunal Penal Internacional) contra Vladimir Putin causou o primeiro grande constrangimento internacional ao presidente russo. A África do Sul anunciou que, em comum acordo com o Kremlin, ele não irá participar da reunião dos Brics no país no mês que vem.

A Rússia será representada no evento, que terá presença prevista de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pelo chanceler do país, Serguei Lavrov, o decano da diplomacia internacional, no cargo desde 2004.

É o fim de uma longa novela. O bloco integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul já tinha sua reunião de cúpula marcada para o país africano antes da decisão do TPI, e Pretória vinha manobrando para tentar permitir a presença de Putin.

O problema é que a África do Sul é signatária do tratado que criou o TPI, logo por lei internacional precisa cumprir ordens da corte. E ela decidiu pela prisão de Putin devido à acusação de deportação forçada de crianças ucranianas para a Rússia.

O Kremlin nega a acusação, considerando a ordem o resultado de pressão do Ocidente para constranger o líder russo devido à oposição dos países liderados pelos Estados Unidos à invasão da Ucrânia, ocorrida em fevereiro do ano passado.

A questão é controversa. Segundo a ONU, há cerca de 1,2 milhão de refugiados ucranianos na Rússia. Boa parte deles começou a chegar antes da guerra, vindos dos territórios que desde 2014 estavam em mãos de separatistas pró-Kremlin, num conflito civil estimulado pelo Kremlin para manter Kiev longe das estruturas ocidentais, como a Otan (aliança militar) e a União Europeia (bloco político).

Segundo disse no começo do mês o chefe do comitê internacional do Conselho da Federação (o Senado russo), Grigori Karazin, há cerca de 700 mil crianças ucranianas no país -mas ele não estabeleceu qual o período de tempo da chegada delas. A acusação da ONU é específica sobre o período pós-invasão, para caracterizar crime de guerra.

No fim de maio, a África do Sul havia dito que concederia imunidade a todos os líderes do Brics para a reunião de agosto, garantindo assim a segurança de Putin. Mas a pressão sobre Pretória continuou, inclusive internamente.

Não seria, contudo, a primeira vez que os sul-africanos aliviavam a situação de um acusado no TPI. Em 2015, o governo local permitiu a entrada no país de Omar al-Bashir, o ditador sudanês acusado de crimes de guerra contra sua população pela corte que forma com Putin e o líbio Muammar Gaddafi (morto em 2011) o grupo de líderes em exercício que foram processados pela corte.

Houve especulações de que a reunião poderia ser movida para a China, principal aliada de Putin e que não reconhece o TPI e convidou o russo para visitar o país ainda neste ano. No Brics, só a África do Sul e o Brasil integram o grupo de 123 nações signatárias do Estatuto de Roma, que criou o tribunal. Mas Pretória insistiu em sediar o encontro.

A Aliança Democrática, maior partido de oposição no país africano, foi à Justiça para tentar forçar o governo a cumprir a ordem de prisão caso Putin viesse para a reunião. O presidente Cyril Ramaphosa, que havia sido acusado de fornecer armas secretamente para a Rússia pelos EUA, enviou uma explicação para a corte, que foi tornada pública na terça (18), gerando grande polêmica no país.

"A África do Sul tem problemas óbvios com a execução do pedido de prisão e entrega do presidente Putin. A Rússia deixou claro que prender um presidente em exercício seria uma declaração de guerra. Seria inconsistente com nossa Constituição arriscar uma guerra com a Rússia", afirmou.

Ante o barulho político, aparentemente as partes concordaram que o melhor seria a ausência de Putin. Nesta terça, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, negou que seu país tenha feito a ameaça de guerra. Isso havia sido dito, publicamente, pelo ex-presidente Dmitri Medvedev, que sugeriu inclusive bombardear o prédio do TPI na Holanda caso Putin fosse preso.

O constrangimento endossa o simbolismo do pedido de prisão, mas também dará munição para a Rússia manter seu discurso de que há uma perseguição política estimulada pelo Ocidente, ao menos para seu público. Isso porque o TPI não é reconhecido pelos Estados Unidos ou pela Ucrânia, para começar.

A acusação contra Putin é de difícil comprovação, ao contrário do caso mais famoso processado na corte internacional, do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, que acabou morrendo durante o julgamento pelo amplamente documentado genocídio de muçulmanos na guerra civil bósnia. A criação de um tribunal específico para a Ucrânia, nos moldes do da ex-Iugoslávia, sofre resistências.

Para o Brasil, é o proverbial bode tirado da sala. Como signatário do Estatuto de Roma, o país teoricamente deveria prender Putin caso o russo pisasse em seu solo. Mas a posição brasileira, desde a crise que desaguou na guerra, é de neutralidade crítica -condenou a invasão na ONU ainda no governo de Jair Bolsonaro (PL), que esteve em Moscou uma semana antes da agressão, mas não aderiu a sanções.

Lula manteve e reforçou, sempre que pôde, a posição. Enviou para Moscou seu assessor internacional Celso Amorim depois que Putin foi indiciado pelo TPI. Recebeu críticas diretas da Ucrânia e de países europeus, e baixou o tom de seu esforço para apresentar-se como um mediador para a solução do conflito após isso.

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