"Pai, atiraram em mim". Sobrevivente do massacre recorda ataque
Shimon Portal, polícia israelita, estava envolvido num tiroteio na cidade vizinha de Sderot, quando recebeu o primeiro pedido de ajuda da filha
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Mundo Israel/Palestina
Há seis anos que Neta Portal, de 22 anos, não falava com o pai, Shimon, depois do divórcio dos pais. Mas quando a jovem foi alvejada seis vezes por militantes do Hamas que invadiram o kibutz de Kfar Aza, no sul de Israel, no sábado, ela sabia que o pai era a única pessoa que a poderia ajudar.
Shimon, que é policial israelense, estava envolvido num tiroteio na cidade vizinha de Sderot quando recebeu o primeiro pedido de ajuda da filha.
"Eles estão tão perto", escreveu Neta, conforme comprovam as mensagens divulgadas pela BBC.
"Tranca as portas. Por favor. Responde. Por favor", replicou o pai.
Em tratamento num hospital em Tel Aviv, depois que os médicos retiraram cinco balas que atingiram a sua perna esquerda e uma outra que perfurou a perna direita, Neta recordou, entre calafrios, o momento em que os militares do Hamas abriram fogo.
"Eles estavam atirando em pessoas. Estavam atirando em crianças. E as pessoas estavam gritando, 'Por favor, não'. Tentei despertar, porque não queria morrer", confessou à BBC.
Ao lado de Neta estava o namorado, Santiago, que procurava conter as lágrimas. O casal estava há quatro meses em Kfar Aza, que consideram ser o lugar mais bonito do mundo.
"O Santi me disse, 'Neta, por favor abre a janela, por favor salta'. Comecei a abrir a janela e vi 10 a 15 terroristas. Estavam em cima de um carro com uma metralhadora, fumando e rindo como se estivessem de férias. Nos viram e começaram a disparar como se fôssemos nada", complementou.
O jovem conseguiu transportar Neta para outra rua, onde o casal se escondeu debaixo de uma pilha de lixo, procurando manter-se calados e sossegados.
Enquanto Santiago tentava estancar o sangue que jorrava dos seus ferimentos, Neta contactou novamente o pai.
"Pai, atiraram em mim. Ajuda", escreveu.
"Estou indo", respondeu o pai.
Sentado ao lado da filha, o homem revelou que, ao receber as mensagens, o seu coração "parou".
"O meu coração parou. O meu cérebro ficou rodando. Fiquei louco", disse.
O polícia, que estava à paisana, foi atacado pelos homens armados quando chegou a Kfar Aza, mas conseguiu fugir. Quando chamou Neta, três crianças que o ouviram falar hebraico correram para pedir ajuda.
"Começaram a entrar no carro, mas dois terroristas apareceram e atiraram contra nós", recordou.
Ainda assim, o homem, que foi atingido na perna, e as três meninas escaparam, acabando este por encontrar a filha.
"Recuperei a minha linda filha", disse.
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