Cerca de 600 norte-coreanos 'desaparecem' após serem deportados da China
Organizações de direitos humanos alertaram para as condições degradantes que os prisioneiros políticos enfrentam na Coreia do Norte, incluindo tortura, violência de gênero, abortos forçados e execuções sumárias
© Chandan Khanna/AFP via Getty Images
Mundo Coreia do Norte
Cerca de 600 cidadãos norte-coreanos, que conseguiram escapar da Coreia do Norte pela China, teriam 'desaparecido' em outubro depois de terem sido deportados da China, com uma organização de direitos humanos considerando que esta é a maior repatriação em massa nos últimos anos.
As deportações ocorreram por volta do dia 9 de outubro, com o grupo de justiça TJWG, baseado em Seul, na Coreia do Sul, explicando que não foi possível estabelecer qualquer comunicação com os cidadãos deportados.
Nesse dia, foram vistos vários ônibus e carros partindo de centros de detenção chineses, em cinco pontos de passagem entre os dois países.
A mesma organização contou, citada pela NBC News, que muitos dos que foram deportados de volta para a Coreia do Norte foram detidos enquanto tentavam escapar para a Coreia do Sul e outros países. Apesar da identidade dos prisioneiros não ter sido relevada, estima-se que mais de 70% sejam mulheres.
A Coreia do Norte mantêm-se como um dos regimes mais isolados do mundo, e as condições nos campos de concentração têm sido documentadas com dificuldade por várias organizações não-governamentais. Nestes campos, cheios de presos políticos, as condições são habitualmente degradantes e precárias, e os prisioneiros são obrigados a suportar anos de tortura física, isolamento solitário, violência de gênero, abortos forçados para as mulheres e execuções sumárias - tudo isto por atitudes contra o regime, desde tentar fugir do país a quebrar as regras sobre propaganda e liberdade de expressão (que não existe).
A TJWG criticou duramente o governo chinês, um dos únicos países que apoiam Pyongyang, por supostamente ir contra normas internacionais, pedindo que os Estados Unidos e outros governos apelem ao respeito por fugitivos norte-coreanos.
"Ao contrário da Coreia do Norte, a China de fato preocupa-se com a sua reputação internacional, e acreditamos que uma crítica mais forte e uma ação mais forte do lado dos EUA pode obrigar Pequim a repensar a sua política", considerou Ethan Hee-Seok Shin, analista na organização sul-coreana.
Nem a China, nem o regime de Pyongyang reconheceram a deportação em massa. Em outubro, o governo chinês negou a existência de "desertores" e garantiu que o assunto foi tratado de acordo com a lei doméstica e internacional. No entanto, como explicou a NBC News, as autoridades chinesas não reconhecem os refugiados norte-coreanos como tal, classificando-os como 'migrantes econômicos' que chegaram ao país ilegalmente.
A perigosa travessia entre a Coreia do Norte e a China é um trajeto extremamente difícil, sendo que a fronteira é das mais vigiadas do mundo e as autoridades chinesas têm o hábito de devolver os fugitivos, que são depois catalogadas pelo regime como traidores e criminosos. Houve uma pausa de três anos nestas deportações, dadas as restrições impostas pela Coreia do Norte até agosto deste ano para conter a pandemia da Covid-19.
A TJWG acredita que possam estar presos na China cerca de 1.500 norte-coreanos, aguardando para serem deportados e pelo duro castigo que provavelmente os espera.