Saiba quem foi Alexei Navalni, líder opositor russo morto na cadeia
Em 2011, ele já atuava como blogueiro denunciando a corrupção no governo federal, e foi preso pela primeira vez por participar de um protesto não autorizado. Em 2013, o ativista surpreendeu chegando em um robusto segundo lugar (27% dos votos) na eleição para prefeito de Moscou.
© REUTERS/Tatyana Makeyeva
Mundo ALEXEI-NAVALNI
(FOLHAPRESS) - Morto nesta sexta (16), o opostior russo Alexei Navalni surgiu na vida pública de seu país nos protestos de 2012 contra a segunda das três reeleições do presidente Vladimir Putin, que chegou ao poder em 1999 como primeiro-ministro.
Em 2011, ele já atuava como blogueiro denunciando a corrupção no governo federal, e foi preso pela primeira vez por participar de um protesto não autorizado. Em 2013, o ativista surpreendeu chegando em um robusto segundo lugar (27% dos votos) na eleição para prefeito de Moscou.
Mas foi cinco anos depois que ele ganhou real notoriedade mundial, ao liderar protestos organizados pela internet em todo o país primeiro contra autoridades do governo, depois contra Putin. Barrado de disputar a eleição presidencial de 2018 por ter uma condenação suspensa em um nebuloso caso regional de corrupção, ele passou a trabalhar por candidatos anti-Kremlin em pleitos locais e nacionais.
Foi numa dessas missões, no final de 2020 em Tomsk (Sibéria), que ele foi envenenado naquilo que é amplamente descrito como um complô de serviços de segurança –que Putin desdenhou, dizendo que se o Estado quisesse matar Navalni, ele já estaria morto.
Levado para a Alemanha em coma, ele foi tratado e voltou a Moscou em janeiro de 2021, só para ser preso de forma bizantina, porque tecnicamente descumpriu sua liberdade condicional daquela primeira condenação. Voltou para a cadeia, o que disparou uma onda nacional de protestos que foi violentamente reprimida pela polícia.
Navalni fez greve de fome, mas acabou tendo sua pena ampliada para 11 anos e meio. Desde que Putin invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, ele mudou sua instância crítica ao governo de Kiev e passou a denunciar, por meio de advogados ou em audiências, a guerra.
Recentemente, outro crítico de Putin, o ativista Vladimir Kara-Murza, foi condenado a 25 anos de prisão sob a acusação de traição ao país. Na Rússia, o Judiciário é teoricamente independente, mas as ligações com o poder central são notórias –o filme "Leviatã", de 2015, mostra as minúcias da engrenagem.
Navalni nasceu em 4 de junho de 1976 em Butin, uma vila na região de Moscou. Formou-se em direito e finanças, e estudou por um período nos EUA. Era casado com Iulia Navalnaia e era pai de Dasha e Zakhar.
Morto a menos de um mês da eleição presidencial que dará mais um mandato de seis anos ao líder russo, Navalni consolida seu posto de mártir do putinismo no Ocidente. O documentário acerca de sua trajetória, focado no caso do envenenamento, ganhou o Oscar da categoria no ano passado.
Apesar de lograr mobilizar milhares de pessoas na Rússia, em especial nos protestos contra sua prisão em 2021, ele nunca foi um político muito popular no país. Pesquisas independentes nunca lhe deram mais de 5% de intenções de voto para presidente, embora apontem simpatia por sua figura em proporção maior.
Navalni também é polêmico. Já namorou o ultranacionalismo de direita russo, fez declarações xenofóbicas e racistas, e o esquema de financiamento de sua rede de ativismo, um dos pontos das acusações contra si, é bastante opaco, como a Folha de S.Paulo mostrou em reportagem de 2017.
Isso dito, era o maior símbolo da repressão aos opositores de Putin, um movimento que só fez crescer com as medidas extraordinárias tomadas para reprimir o dissenso e a crítica à guerra.
Nas mensagens passadas por seus advogados, ele disse que a sua última sentença "foi para intimidar você [o público russo], não eu". "Nós sabemos com certeza que se uma em cada dez pessoas que se ultrajam com a corrupção de Putin fossem às ruas, o governo cairia amanhã. Sabemos que se todos que são contra a guerra forem às ruas, eles a parariam imediatamente", afirmou.
Segundo o Centro Levada, instituto independente de pesquisas russo, mais de 80% dos russos apoiam Putin e cerca de 75%, a guerra na Ucrânia.
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