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Otan faz 75 anos renovada pela Guerra da Ucrânia, mas sob sombra de Trump

Nesta quinta, o Kremlin marcou o aniversário do bloco rival com críticas e a renovada ameaça de confronto, potencialmente nuclear e apocalíptico dado o pacto de defesa mútua que envolveria as duas maiores potências atômicas do planeta

Otan faz 75 anos renovada pela Guerra da Ucrânia, mas sob sombra de Trump
Notícias ao Minuto Brasil

10:36 - 04/04/24 por Folhapress

Mundo OTAN-DEFESA

(FOLHAPRESS) - Quando a Otan fez 70 anos, em 2019, seus integrantes, como de costume, não pareciam falar a mesma língua e revelavam fraturas da aliança militar ocidental.

O vaticínio de que o grupo estava em "morte cerebral", como disse Emmanuel Macron naquele ano, era rejeitado pela primeira-ministra alemã Angela Merkel; o ambíguo líder turco, Recep Tayyip Erdogan, entrava em rota de colisão com a aliança por ações na Síria e desejos atômicos; e do outro lado do Atlântico havia Donald Trump, então presidente da potência que coordena a Otan -e crítico da organização.

É novamente o americano que lança uma sombra nos 75 anos da Otan, completados nesta quinta-feira (4), com declarações recentes de que, se eleito novamente à Casa Branca em novembro, não protegeria de uma eventual invasão aliados que não cumprissem metas de gastos de defesa estabelecidas pela organização -o Artigo 5 da aliança prevê defesa mútua dos integrantes em caso de ataque.

O risco de fratura, no entanto, pega a Otan em momento diferente de cinco anos atrás, agora renovada pelo mesmo inimigo existencial que motivou sua criação em 1949: o expansionismo russo (soviético na ocasião). Naquele fim de década, os vencedores da Segunda Guerra Mundial vislumbravam suas grandes diferenças ideológicas e o início da Guerra Fria.

Hoje, o resultado até aqui da guerra territorial lançada pelo presidente russo, Vladimir Putin, contra a Ucrânia em fevereiro de 2022 tem sido o oposto do que ele almejava em relação ao Ocidente: a Otan cresceu, renovou seus votos de união e mascara desavenças internas com financiamento a Kiev, um não membro.

Evitar a possível adesão ao grupo do país liderado por Volodimir Zelenski foi ponto central das justificativas do Kremlin para lançar o que, inicialmente, chamou de "operação militar especial" mas hoje já nomeia como guerra no resto do mundo.

Nesta quinta, o Kremlin marcou o aniversário do bloco rival com críticas e a renovada ameaça de confronto, potencialmente nuclear e apocalíptico dado o pacto de defesa mútua que envolveria as duas maiores potências atômicas do planeta.

"[A Otan] já está envolvida no conflito acerca da Ucrânia e continua a expandir sua infraestrutura militar e se mover em direção às nossas fronteiras. Na verdade, as relações [entre Rússia e o bloco] agora entraram no nível de confronto direto", disse a repórteres o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Até janeiro deste ano, a ajuda nominal militar à Ucrânia alcançou R$ 225,7 bilhões só dos EUA, mais R$ 94,7 bilhões da Alemanha e R$ 48,7 bilhões do Reino Unido, os principais fornecedores. Financeiramente, a União Europeia contribuiu com R$ 413 bilhões.

Mesmo países menores têm ajudado com proporção relevante de sua produção. Estônia contribuiu com 3,6% de seu PIB, Dinamarca com 2,4% do seu, e Lituânia, 1,5%.

Isso sem contar a ampliação dos gastos internos de defesa em cada país da aliança. Em conta feita pelo think tank britânico IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, em inglês), a Otan teve aumento de 8,5% em seus gastos militares, excluindo os EUA, embora com diferenças internas. A belicista Polônia prometeu gastar 4% de seu PIB com defesa, enquanto a Alemanha não tem cumprido a meta da aliança de 2%.

É esse descumprimento da meta que é usado por Trump em suas declarações relativas à Otan. Aparentemente relembrando uma reunião com líderes da aliança, o republicano mencionou o presidente de "um grande país", sem especificar qual, que o teria questionado sobre o apoio de Washington em caso de uma agressão russa. "Se não pagarmos e formos atacados pela Rússia, você nos protegerá?", teria perguntado o líder, segundo Trump disse em fevereiro.

"Eu disse: 'Vocês não pagaram? Vocês estão inadimplentes?' Ele disse: 'Sim, digamos que isso aconteceu.' Não, eu não os protegeria. Na verdade, eu os encorajaria [os russos] a fazer o que diabos eles quisessem. Vocês têm de pagar", afirmou o ex-presidente dos EUA e atualmente candidato a voltar ao cargo.

Nesta quarta-feira (3), o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, propôs a criação de um fundo de € 100 bilhões (R$ 543 bilhões) para ajuda militar de longo prazo a Ucrânia, medida que ele não esconde se tratar de uma mudança no controle da organização sobre o auxílio a Kiev, de certo de olho em possível mudança no comando da Casa Branca.

"Precisamos mudar a dinâmica de nosso apoio. Devemos garantir assistência securitária confiável e previsível à Ucrânia a longo prazo, menos ofertas de curto prazo e mais compromissos de vários anos", disse Stoltenberg. Ele disse esperar que uma decisão sobre o fundo seja tomada na cúpula de líderes do bloco em julho.

Apesar da expectativa com a eleição americana e de divergências entre os integrantes, o saldo até o momento para a Otan tem sido de fortalecimento em meio à mobilização pela ajuda a Kiev.

Foi justamente o receio de que Putin não pare na Ucrânia que fez a Finlândia aderir em abril de 2023, tornando-se o 31º membro do grupo e efetivamente dobrando a fronteira da Rússia com a aliança; em março deste ano, foi a vez de a Suécia abrir mão de sua longeva política de neutralidade e se tornar o 32º integrante -depois de forte resistência turca.

É fundamento do argumento do russo contra o Ocidente em geral o expansionismo não de Moscou, mas da própria Otan em direção às suas fronteiras a partir do fim da década de 1990. Em 1999, Polônia, Hungria e República Tcheca, países na esfera de influência da falecida União Soviética, entraram na aliança.

Em 2004, ingressaram os três Estados Bálticos. Em 2007, a proximidade da Geórgia com a aliança terminou com uma vitória esmagadora de Moscou em um conflito de cinco dias contra Tbilisi. Em 2014, a primeira intervenção na Ucrânia, após a derrubada de um presidente pró-Rússia: anexação da península da Crimeia e apoio a separatistas no leste ucraniano.

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