Espanha, Irlanda e Noruega vão reconhecer Palestina como Estado
A medida foi rapidamente retaliada por Tel Aviv, que chamou seus embaixadores nos respectivos países para consultas e afirmou que repreenderia os representantes das três nações
© Reuters / Ibraheem Abu Mustafa
Mundo ISRAEL-PALESTINA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Espanha, Irlanda e Noruega anunciaram nesta quarta-feira (22) a decisão de reconhecer a Palestina como um Estado no final do mês. Os países esperam que outras nações façam o mesmo em meio à guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, que minou a perspectiva de uma solução de dois Estados na região.
A medida foi rapidamente retaliada por Tel Aviv, que chamou seus embaixadores nos respectivos países para consultas e afirmou que repreenderia os representantes das três nações.
O primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Støre, foi o primeiro a anunciar a decisão, em Oslo -cidade em que foram negociados, em 1993, os acordos fracassados para obrigar israelenses e palestinos a aceitar a coexistência pacífica entre dois Estados independentes.
O político afirmou que os países darão esse passo em 28 de maio e fez um "forte apelo" a outras nações para que façam o mesmo. "Devemos tornar realidade a única alternativa que oferece uma solução política, tanto para israelenses como para palestinos: dois Estados, que vivam um ao lado do outro, em paz e segurança", disse.
Chamando este dia de "histórico e importante", o primeiro-ministro da Irlanda, Simon Harris, anunciou a sua decisão pouco depois, tal como o seu homólogo da Espanha, Pedro Sánchez, perante o Parlamento, em Madri.
Uma das vozes mais críticas na União Europeia contra a operação militar lançada por Tel Aviv após os ataques terroristas do Hamas, Sánchez anunciou no fim do ano passado a intenção de trabalhar para o reconhecimento da Palestina e negociou durante meses com outras capitais europeias para adotar a medida.
Ao justificar a decisão, o espanhol disse esperar que o reconhecimento acelere a imposição de um cessar-fogo e a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas em Gaza e fez duras críticas ao primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu.
"Ele segue bombardeando hospitais, colégios, casas. A procuradoria do Tribunal Penal Internacional pediu sua prisão por crimes de guerra. Estou há semanas envolvido com essa questão, falando com muitos líderes, e se tenho algo claro é que Netanyahu não tem um projeto de paz para a Palestina", disse o espanhol.
Na última segunda-feira (20), o procurador do TPI, Karim Khan, disse que solicitou mandados de prisão para Bibi, como o premiê israelense é chamado, e três líderes do Hamas. O pedido desagradou aos dois lados -tanto o grupo terrorista, que matou cerca de 1.200 pessoas, segundo Tel Aviv, ao invadir o sul de Israel em outubro, quanto o Bibi, cuja operação em Gaza já matou mais de 35 mil pessoas, de acordo com a facção, e deixou o território palestino em ruínas.
Criticado pela ultradireita espanhola por sua posição em relação à guerra, Sánchez reafirmou que o Hamas é "um grupo terrorista que não tem espaço no futuro da Palestina" e disse que a Autoridade Palestina, que governa a também ocupada Cisjordânia, é o "sócio para a paz" da Espanha.
"Temos uma dívida histórica com o povo palestino. Durante mais de meio século as resoluções da ONU foram ignoradas. Essa passividade deve acabar", afirmou. "Defendemos a mesma posição na Ucrânia e na Palestina", continuou o premiê, em referência à nação do Leste Europeu invadida pela Rússia em 2022 e apoiada por grande parte da Europa e pelos Estados Unidos.
O reconhecimento da Espanha acontecerá com base em uma resolução aprovada em 2014 por todos os grupos políticos representados no Parlamento, mas que, na prática, não se concretizou.
A possibilidade de outros países europeus aderirem à iniciativa está aberta. Em março, por exemplo, os líderes da Eslovênia e de Malta assinaram uma declaração conjunta em Bruxelas com Espanha e Irlanda na qual expressavam o desejo de reconhecer a Palestina como um Estado. No começo de maio, o governo esloveno adotou um decreto nesse sentido com a intenção de enviá-lo ao Parlamento para aprovação até 13 de junho.
Ao chamar os embaixadores nos países para consultas, o chanceler israelense, Israel Katz, afirmou que enviava a mensagem de que Tel Aviv não ficará calado diante daqueles que "minam sua soberania e colocam em perigo sua segurança". "Os passos precipitados dos dois países terão consequências mais graves", afirmou o ministro.
Do lado do Hamas, um alto funcionário saudou os anúncios. "Esses sucessivos reconhecimentos são o resultado direto da corajosa resistência e da lendária perseverança do povo palestino. Acreditamos que será um ponto de virada na posição internacional sobre a questão palestina", disse Bassem Naim, um alto funcionário do gabinete político do movimento islâmico palestino.
Já o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Hussein al-Sheikh, afirmou na rede social X que esse é um momento histórico de triunfo após décadas de "opressão, abuso e destruição a que o povo da Palestina foi submetido". "Agradecemos aos países do mundo que reconheceram e reconhecerão o Estado independente da Palestina. Afirmamos que este é o caminho para a estabilidade, a segurança e a paz na região", afirmou.
Os palestinos demandam a criação de um Estado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém Oriental como sua capital. A ideia, porém, é publicamente rechaçada pelo atual governo de Israel, incluindo seu chefe. "Em qualquer acordo futuro, Israel precisa ter controle de segurança sobre todo o território a oeste do [rio] Jordão", disse Netanyahu em janeiro deste ano. "[A criação de um Estado palestino] se choca com nossa ideia de soberania."
Mais importante aliado de Israel, os EUA vetaram no mês passado uma tentativa de reconhecimento de um Estado palestino na ONU, argumentando que uma solução de dois estados só pode vir de negociações diretas entre as partes.
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