Ucrânia ataca radares de defesa nuclear da Rússia
Os drones fizeram o mais distante ataque até aqui na guerra, voando 1.800 km
© REUTERS/Gleb Garanich
Mundo Guerra
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Perdendo terreno no norte e no leste de seu território, o governo da Ucrânia adotou uma nova e arriscada tática no seu combate assimétrico contra a Rússia, passando a atacar radares da rede de proteção contra mísseis nucleares do país vizinho.
Como de costume, Kiev ainda não assume oficialmente a prática. Nesta segunda (27), contudo, vazou à imprensa ucraniana dados sobre um ataque ocorrido no domingo (26) contra a estação de radar de Orsk, na região de Orenburg (centro-sul da Rússia).
Os drones, segundo as informações extraoficiais, fizeram o mais distante ataque até aqui na guerra, voando 1.800 km. A Rússia não comentou o caso, mas blogueiros militares do país confirmaram que houve a ação, embora não tenham certeza acerca dos danos.
Não foi a primeira vez. Na sexta (24), imagens de satélite da empresa Planet Labs divulgadas pelo site americano The War Zone mostraram danos a uma outra estação, mas próxima da Ucrânia, na região de Krasnodar (sul russo).
Elas batiam com fotos divulgadas em redes sociais mostrando os enormes edifícios dos radares danificados. Não é preciso botá-los ao chão para inutilizar o sistema, dada a fragilidade dos componentes do equipamento.
A Rússia opera ao menos dez bases do sistema Voronej, batizado em homenagem a uma cidade próxima da fronteira ucraniana. Eles formam o guarda-chuva nuclear de Moscou, identificando lançamentos de mísseis balísticos a distâncias que podem chegar até a 10 mil km caso o alvo esteja em grande altitude, com um horizonte de ação ao nível do solo de 6.000 km.
Eles começaram a ser implantados em 2009, com as mais recentes estações finalizadas em 2020, para substituir o antigo sistema soviético. Os EUA têm sistema semelhante, com maior grau de sofisticação segundo analistas. Ambos os países somam quase 90% das ogivas nucleares do mundo.
A tática ucraniana é arriscada. A doutrina nuclear atualizada por Vladimir Putin em 2020, prevê o emprego de armas atômicas em caso de ataques considerados existenciais à Rússia. É discutível se danos à rede que permite prever um ataque com mísseis nucleares se encaixa nessa definição.
Seja como for, os ataques vêm em um momento em que as cartas nucleares têm sido manuseadas com frequência. Putin realizou na semana passada exercícios com armas táticas, de emprego considerado limitado, em resposta à ameaça francesa de enviar tropas para a Ucrânia e às autorizações dadas por Reino Unido e EUA de uso de suas armas contra solo russo -um tabu até aqui.
A França entrou no jogo, fazendo na sequência o primeiro teste de um novo míssil para ataques nucleares lançado por um caça, também na semana passada.
Militares ucranianos afirmaram, de forma anônima, que os radares podem ser usados para identificar lançamentos de mísseis americanos ATACMS (Sistema de Míssil Tático do Exército, na sigla inglesa), cuja novo carregamento entregue a Kiev tem feito estragos contra alvos russos dentro da área ocupada da Ucrânia.
São radares difíceis de repor e caros. Em Orsk há radares do tipo Voronej-M, que operam na banda UHF e custam estimados R$ 170 milhões, enquanto em Armavir, a estação de Krasnodar, os modelos são Voronej-DM, que rastreiam em VHF, e custam R$ 280 milhões cada.
As ações ocorrem enquanto a Ucrânia perde terreno lentamente para os russos, que retomaram a iniciativa na guerra neste ano. Nesta segunda, o Ministério da Defesa em Moscou afirmou ter capturado mais uma cidade na região de Kharkiv (norte), a nova frente da invasão, e outra em Donetsk (leste).
Kiev não confirmou as perdas, mas elas seguem um padrão de desgaste lento em vários pontos de atrito entre suas forças e as de Putin, que invadiram a Ucrânia em 2022. No fim de semana, ao menos 16 pessoas morreram em um ataque russo que atingiu um supermercado de construção em Kharkiv.