Macron desconsidera indicada da esquerda para cargo de premiê na França
O presidente disse ainda que o governo atual permanecerá em vigor até meados de agosto
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Mundo França
CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) - O presidente da França, Emmanuel Macron, desconsiderou nesta terça-feira (23) a indicação do bloco de esquerda Nova Frente Popular (NFP) para o cargo de primeiro-ministro, afirmando que a formação de um governo não se dará pela sugestão de um nome, mas a partir da constituição de uma maioria na Assembleia Nacional.
Em entrevista concedida ao canal France 2 em terraço próximo à torre Eiffel, o presidente disse ainda que o governo atual permanecerá em vigor até meados de agosto, enquanto a França estiver sediando os Jogos Olímpicos de Paris.
"Até meados de agosto, não estamos em posição de mudar as coisas, porque isso criaria desordem", acrescentou Macron. O atual premiê, Gabriel Attal, já teve sua renúncia aceita pelo presidente, mas também segue no cargo até o fim das Olimpíadas.
A NFP, que conquistou o maior número de cadeiras no Parlamento nas eleições legislativas no início deste mês, propôs a economista e servidora pública Lucie Castets, 37, como sua candidata a primeira-ministra apenas uma hora antes de Macron conceder a entrevista.
Quando perguntado sobre Castets, um nome pouco conhecido, Macron disse que o nome não estava em questão. "O nome não é o problema. A questão é: qual maioria pode surgir na Assembleia Nacional para que um governo da França possa aprovar reformas, aprovar o orçamento e fazer o país avançar?", disse o presidente.
Na resposta, ele lembrou a definição de um nome da esquerda para a presidência da Assembleia Nacional, André Chassaigne, 74 -que, apesar da maior bancada canhota na Casa, foi preterido pela candidata do bloco governista, Yaël Braun-Pivet.
Castets afirmou em publicação no X que aceita a indicação da NFP ao cargo. "A esquerda venceu, ela é chamada a governar. Colocarei toda minha energia e convicção nisso", disse.
A indicada é diretora de finanças e compras na prefeitura de Paris. Ela se formou em 2013 na Escola Nacional de Administração, de onde sai grande parte da elite política e administrativa da França, mas não tem experiência na política partidária.
Em comunicado, a NFP diz que Castets é uma "instigadora das lutas associativas pela defesa e a promoção dos serviços públicos, ativamente engajada no combate à aposentadoria aos 64 anos e alta funcionária que trabalhou com a repressão a fraudes fiscais e crimes financeiros".
A França vive um impasse parlamentar desde os resultados da eleição. Apesar da maior bancada a aliança de esquerda, nenhum partido conquistou uma maioria absoluta de cadeiras na Assembleia Nacional, que ficou fragmentada em três blocos de tamanhos mais ou menos similares –a coalizão governista em segundo lugar e o partido de ultradireita Reunião Nacional (RN) em terceiro.
A coalizão de esquerda buscou propor um novo primeiro-ministro que suceda o premiê Gabriel Attal, mas descartou fazer acordos com outras forças políticas.
Cabe ao presidente, segundo a Constituição francesa, nomear um primeiro-ministro, o que significa que a coalizão de esquerda não tem como forçar Macron a escolher a indicada da aliança. Mesmo que ele o fizesse, a esquerda enfrentaria sem maioria um Parlamento no qual, sem alianças, poderia ver rejeitado seu governo com uma moção de censura.
Os quatro partidos da NPF -a França Insubmissa, os socialistas, os verdes e os comunistas– têm discutido há semanas sobre quem propor como primeiro-ministro, e o nome de Chassaigne, citado por Macron, foi o primeiro grande consenso do fragmentado campo gauche.