Rússia anuncia envio de reforços para região no sul invadida pela Ucrânia
Analistas sugerem que as tropas de Volodimir Zelenski podem ter adentrado até 35 km da Rússia a partir da fronteira. As classes política e militar de Moscou falam em uma "invasão ucraniana", e entre vários dos civis obrigados a sair das áreas fronteiriças ameaçadas, a percepção é de que a guerra enfim chegou à sua pátria.
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Mundo UCRÂNIA-RÚSSIA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Ucrânia continuou a avançar sobre o sul da Rússia nesta sexta-feira (9). Esta é a maior ofensiva de Kiev em solo russo desde o início do conflito -uma guerra que, até a semana passada, vinha sendo travada quase inteiramente em território ucraniano.
Analistas sugerem que as tropas de Volodimir Zelenski podem ter adentrado até 35 km da Rússia a partir da fronteira. As classes política e militar de Moscou falam em uma "invasão ucraniana", e entre vários dos civis obrigados a sair das áreas fronteiriças ameaçadas, a percepção é de que a guerra enfim chegou à sua pátria.
A ofensiva, iniciada quatro dias atrás, na terça-feira (6), ocorre primariamente em Kursk. O Kremlin -que na quarta (7) já tinha decretado emergência na região-, anunciou nesta sexta o envio de mais tropas para conter a incursão, além de uma lista de equipamentos militares que incluía lançadores BM-21 Grad e caminhões Ural e Kamaz.
No sábado (10), medidas antiterrorismo foram implementadas em Kursk e em outras duas regiões que fazem divisa com a Ucrânia, Belgorodo e Briansk.
O presidente russo, Vladimir Putin, denunciou uma "provocação em grande escala" por parte da Ucrânia. Como em ocasiões anteriores, Kiev não assumiu oficialmente a autoria pelos ataques.
O país não informou números de mortes militares, mas disse que 31 civis ficaram feridos em meio aos combates. Por outro lado, disse ter causado a morte de até 945 soldados ucranianos desde o começo da incursão, sendo 280 delas apenas nas últimas 24 horas, segundo reportou o jornal americano The Washington Post.
Já Zelenski se referiu indiretamente à incursão em seu pronunciamento à nação na quinta: "A Rússia trouxe a guerra para o nosso país. Agora, deve sentir os seus efeitos", disse ele.
Evidências dos danos em território russo começaram a se alastrar na internet em seguida.
Um vídeo do Telegram cuja autenticidade foi verificada pela agência Reuters mostrava um comboio de cerca de 15 veículos militares russo carbonizados ao longo de uma rodovia em Kursk, alguns deles com cadáveres a bordo.
O canal que publicou o registro, ucraniano, afirmou que os veículos supostamente foram atingidos por sistemas de foguetes Himars, fornecidos pelos Estados Unidos, uma hipótese compartilhada por blogueiros militares russos.
Um outro vídeo, este não verificado, exibia soldados de Kiev anunciando que tinham tomado um centro de medição de gás em Sudja, cidade estratégica de 5.500 habitantes também localizada em Kursk. Situada a cerca de 10 km da fronteira, é dela que saem as ramificações de gasodutos russos rumo à Europa. Mesmo com a guerra, Moscou continua enviando gás para os europeus e pagando pedágio a Kiev pelo trânsito do produto, cujo consumo no continente caiu a 25% do que era antes da crise.
Outra instalação energética russa em Kursk, uma subestação elétrica na cidade de Kutchatov, ficou sem energia depois de a queda de fragmentos de um drone ucraniano sobre o local provocar um incêndio no local.
O incidente preocupou a AIEA, agência nuclear da ONU, uma vez que Kursk abriga uma usina atômica. "Gostaria de fazer um apelo a todas as partes para que exerçam moderação máxima e evitem um acidente nuclear com potencial de graves consequências radiológicas", afirmou o diretor-geral do órgão, Rafael Grossi, em comunicado, acrescentando que estava monitorando a situação pessoalmente junto a autoridades de ambos os países.
Ainda foram registrados ataques aéreos a outras localidades controladas por Moscou. O governador da região russa de Lipetsk, Igor Artamonov, afirmou que um "ataque maciço de drones" danificou uma central energética local, prejudicando temporariamente o fornecimento de eletricidade, e ordenou o esvaziamento de quatro municípios.
Mais tarde, agências de notícias russas como Ria Novosti e Tass relataram que uma base aérea militar russa em Lipetsk tinha sido incendiada. O Exército ucraniano assumiu a autoria de um bombardeio contra o local, que segundo as forças servia de depósito para bombas aéreas guiadas e abrigava bombardeiros táticos e aviões de combate.
Governadores das regiões de Belgorodo, na fronteira com a Ucrânia, e da Crimeia, península ucraniana anexada pela Rússia em 2014, também relataram ataques de drones aéreos e marinhos.
Talvez se preparando para uma retaliação, Kiev anunciou a retirada de 20 mil pessoas de 28 diferentes localidades na região de Sumi, do outro lado da fronteira com Kursk.
Enquanto isso, os enfrentamentos seguiam na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, onde as forças ucranianas vêm perdendo cada vez mais territórios. Nesta sexta, um míssil russo atingiu um supermercado em Kostiantinivka, matando pelo menos 14 pessoas e deixando outras 43 feridas, segundo autoridades de Kiev.