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Uso de mísseis da Otan na Rússia significa guerra, diz Putin

Foi a mais dura advertência feita pelo russo contra os Estados Unidos e seus aliados na Otan em meses

Uso de mísseis da Otan na Rússia significa guerra, diz Putin
Notícias ao Minuto Brasil

21:15 - 12/09/24 por Folhapress

Mundo Guerra

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente Vladimir Putin disse nesta quinta-feira (12) que o Ocidente estará em guerra direta com a Rússia caso autorize o emprego de suas armas de longo alcance doadas à Ucrânia contra alvos distantes em seu país, como bases aéreas e centros logísticos.

 

Foi a mais dura advertência feita pelo russo contra os Estados Unidos e seus aliados na Otan em meses. "Não é uma questão de deixar ou não o regime ucraniano atacar a Rússia com essas armas. É uma questão de decidir se os países da Otan estão ou não envolvidos diretamente em um conflito militar", disse ele na TV estatal.

"Se tal decisão for tomada, não significará nada menos que o envolvimento direto na Guerra da Ucrânia. Isso vai mudar significativamente a essência, a natureza do conflito", disse, prometendo "medidas apropriadas" se isso ocorrer.

Putin comanda o maior arsenal de ogivas nucleares do mundo e está revendo a doutrina do emprego dos modelos de uso tático, limitado ao campo de batalha, devido ao novo cenário de segurança europeu desde que invadiu o vizinho em 2022.

O russo sacou diversas vezes a carta nuclear para demover ou retardar o envio de armas ocidentais à Ucrânia, e não é a primeira vez que diz que a Otan está em confronto com o Ocidente. Sua fala nesta quinta ocorreu após encontro com o chanceler Wang Yi, da China, sua principal aliada, e em meio ao maior exercício naval russo desde a Guerra Fria.

O governo de Volodimir Zelenski recebeu mísseis de longo alcance, como os ATACMS americanos e os modelos de cruzeiro franco-britânicos Storm Shadow/Scalp-EG, mas sob o compromisso de não dispará-los sobre alvos na Rússia.

Alguns ATACMS foram empregados num test-drive de Kiev, a invasão da região meridional russa de Kursk, mas sob a alegação de que ali armas ocidentais eram permitidas por se tratar de uma fronteira direta.

Agora, Zelenski implora aos aliados dia sim, dia sim, para que autorizem um ataque mais devastador com valor militar e simbólico, como por exemplo bases de bombardeiros que operam contra a Ucrânia, hoje alvos apenas de seus pequenos drones domésticos.

Os EUA e aliados já disseram não a isso, temendo uma escalada que possa levar à Terceira Guerra Mundial, e Putin tocou exatamente essa nota para assustar os ocidentais. Seja como for, há discussões sobre o tema, tanto que os chefes das diplomacias americana e britânica foram a Kiev na quarta (11) para debater o assunto com Zelenski.

Em junho, quando os ocidentais deram permissão para Zelenski usar armas na fronteira, Putin disse que sua resposta poderia ser o envio de armas sofisticadas para inimigos dos EUA. Agora, parece estar elevando o tom da ameaça.

Putin está em um momento de agressividade no conflito. A Rússia está avançando na região de Donetsk de forma inaudita, e pode ficar em posição de conquistar toda aquela área no leste ucraniano.

Tem dobrado a aposta nos ataques à rede energética do vizinho, que já perdeu 2/3 de sua capacidade de geração. E, nesta quinta (12), Zelenski e o Ministério da Defesa da Rússia confirmaram que Moscou iniciou uma contraofensiva em Kursk, região meridional russa invadida por Kiev.

A invasão, que empregou as melhores forças à sua disposição, já é alvo de críticas por ter enfraquecido a defesa em Donetsk. O presidente já trocou metade de seu gabinete para concentrar poderes.

RÚSSIA ATACA NAVIO, DIZ UCRÂNIA

Mais cedo, em outro sinal aparente do Kremlin, a Ucrânia havia acusado a Rússia de atacar um navio carregado de grãos que ia da região de Odessa para o Egito na noite de quarta (11) para quinta (12), uma ação que renova um flanco da guerra no mar Negro que vivia meses de relativa tranquilidade.

Kiev disse que o navio estava em águas da Romênia, país que integra a Otan. Isso poderia configurar uma grande crise, dados os protocolos de defesa mútua da aliança militar liderada pelos EUA, mas Bucareste correu para negar a informação.

Segundo a Autoridade Naval Romena, o navio nem estava em suas águas territoriais, nem pediu socorro. Já a Marinha da Ucrânia afirma que a embarcação estava na zona econômica exclusiva da Romênia, uma área bem mais ampla de exploração comercial, mas não de soberania plena.

Segundo a Marinha ucraniana, o navio não estava ainda no corredor marítimo estabelecido nas costas romenas e búlgaras rumo ao Mediterrâneo, mas não está claro ainda onde de fato o incidente ocorreu.

No X (ex-Twitter), Zelenski havia dito que a ação ocorreu após o cargueiro deixar a foz do rio Danúbio, que separa a Ucrânia da Romênia. A área é pródiga em incidentes perigosos: com frequência drones russos ou seus destroços caem do lado romeno da fronteira, durante ataques aos portos ucranianos do curso d'água.

A Marinha disse que foram empregados no ataque bombardeiros Tu-22M3, provavelmente disparando mísseis antinavio. Não há relato da extensão do dano à embarcação, apenas imagens divulgadas mostrando ferro retorcido no seu convés, e Zelenski disse que não houve vítimas.

"Nós vamos fazer todos os esforços para salvaguardar nossos portos, o mar Negro, as exportações de comida para o mercado global. Trigo e segurança alimentar nunca devem ser alvo para mísseis", escreveu o presidente.

Moscou não comentou o episódio. No ano passado, Putin deixou um acordo mediado pela ONU e pela Turquia que permitia um corredor de exportação de grãos ucranianos, principal commodity do país.

Passou então a atacar a infraestrutura portuária tanto no Danúbio quanto na região de Odessa, maior terminal do vizinho. Aos poucos, contudo, o tráfego de navios na região foi retomado, sem um incidente tão grave registrado.

Os navios passam pelo corredor, e cerca de quatro milhões de toneladas de grãos são exportadas todo mês desde que o mecanismo foi estabelecido, em agosto do ano passado.

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