Presidente da Geórgia exige novas eleições e repete acusações à Rússia
Salome Zurabishvili voltou a acusar o Kremlin de promover uma "operação especial, uma guerra híbrida contra o povo georgiano"
© REUTERS/David Mdzinarishvili
Mundo Eleições
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Salome Zurabishvili, presidente da Geórgia, afirmou à imprensa alemã que a Rússia manipulou as eleições legislativas em seu país e pediu que um novo pleito fosse convocado. "Para essas novas eleições precisamos do apoio dos nossos parceiros europeus para que a Geórgia consiga o que merece: eleições livres e justas", declarou em entrevista à emissora RND.
Zurabishvili, que defende a adesão de seu país à União Europeia, pano de fundo da disputa eleitoral no país, voltou a acusar o Kremlin de promover uma "operação especial, uma guerra híbrida contra o povo georgiano", sem dar detalhes ou evidências. Ataque híbrido é uma estratégia militar em que não são empregados instrumentos bélicos, mas recursos como sabotagem, manipulação e desinformação.
Dmitri Peskov, porta-voz de Vladimir Putin, declarou que as afirmações são fantasiosas.
Os resultados divulgados pela comissão eleitoral, contestados por Zurabishvili e pelos partidos de oposição, indicam que o Sonho Georgiano, sigla majoritária no Parlamento e alinhada à Rússia, conquistou 54% dos votos. O resultado é contestado pela presidente, que chegou a dizer em redes sociais, logo após o fechamento das urnas no sábado (26), que "uma Geórgia europeia" havia vencido com 52% dos votos.
Fazia referência a uma pesquisa boca de urna realizada por um instituto americano. O dia de eleições foi marcado por episódios de violência e constrangimento. Observadores europeus e da Otan, a aliança militar ocidental, relataram diversas ocorrências de manipulações, constrangimentos e compra de votos.
Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, emitiu comunicado no domingo (27) corroborando as denúncias dos observadores e pedindo investigações das autoridades georgianas. Anthony Blinken, secretário de Estado americano, escreveu no X que a Geórgia deveria confiar em suas leis, encarar as irregularidades do pleito "e continuar seu caminho Euro-Atlântico".
Bidzina Ivanishvili, oligarca fundador do Sonho Georgiano e que patrocina as aspirações autoritárias do partido, festejou a vitória antes do final da apuração. O bilionário prega uma aproximação pragmática com a Rússia, para "evitar que a Geórgia se transforme em uma nova Ucrânia", como declarou em campanha.
O país, que já possui uma localização estratégica no meio do Cáucaso, ganhou ainda mais importância para os negócios russos, que viram na região um caminho comercial e financeiro para escapar das sanções econômicas impostas por EUA e União Europeia.
Zurabishvili, a oposição e até o ex-presidente Mikheil Saakashvili, que está preso, mas se manifestou pela sua página do Facebook, convocaram protestos para a noite desta segunda-feira (28). Multidões tomaram as ruas da capital Tbilisi.
Em discurso proferido durante a manifestação, Giorgi Vashadzi, líder do principal partido de oposição, o MNU, afirmou "que o mundo inteiro sabe que o povo da Geórgia não reconhece os resultados que foram divulgados".
"Bidzina Ivanishvili, o governo não é seu, não é do Sonho Georgiano. O governo é nosso, e nós estamos nos movendo em direção à Europa, não vamos desistir", declarou o dirigente, segundo a agência Internewspress.
Em contraste aos protestos, Viktor Orbán, o primeiro-ministro da Hungria, desembarcou em Tbilisipara uma visita de dois dias. Borrell, em entrevista a uma rádio espanhola, afirmou que o húngaro "não representa a Europa", apesar de deter a presidência temporária do bloco.
Orbán foi o único líder da União Europeia a celebrar a contestada vitória do partido majoritário georgiano, que persegue uma trilha autoritária semelhante à que ele promove na Hungria. Ele foi recebido pelo primeiro-ministro, Irakli Kobakhidze, do Sonho Georgiano, que acusa a a oposição de "perturbar a ordem constitucional" do país.
Ele voltou a afirmar que a sigla também quer a integração à Europa. Em comunicado conjunto, ministros de relações exteriores de diversos países do bloco disseram que a "violação da integridade eleitoral não se encaixa no padrão exigido de um estado candidato a integrar a União Europeia".
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