Suspeito de estuprar Gisèle Pelicot planejava violar a própria mãe
Um jovem trabalhador de uma vinícola, que mais tarde trabalhou para uma empresa de cimento, e que é o suspeito de ter estuprado Gisèle em seis ocasiões diferentes, ao longo de quatro anos, também propôs drogar e violar a própria mãe.
© CHRISTOPHE SIMON/AFP via Getty Images
Mundo Caso Pelicot
O caso de violação de Gisèle Pelicot, a mando do marido, continua a ganhar contornos em tribunal à medida que mais pormenores são desvendados.
Desta vez, foi revelado que um jovem trabalhador vinícola, que mais tarde trabalhou para uma empresa de cimento, e que é suspeito de ter violado Gisèle em seis ocasiões diferentes, ao longo de quatro anos, também propôs drogar e violar a própria mãe.
Charly A., de 30 anos, é um dos 51 homens acusados do crime de violação de Gisèle Pelicot, de 72 anos. O homem, alegadamente, conduziu até à casa dos Pelicot entre 2016 e 2020 para cometer o crime. A primeira vez que o fez tinha 22 anos.
O suspeito está ainda acusado, assim como o marido da vítima, de violar Gisèle Pelicot no dia em que esta celebrava o seu 66.º aniversário.
Charly A. nega as acusações e afirma que "nunca tive intenção de a violar". O homem garante que Dominique Pelicot, que conheceu online, o convidou para ir a casa do casal, que ficava a cerca de 30 minutos de distância de carro da sua habitação, e lhe disse que Gisèle estava "a fingir" que estava a dormir.
"Disseram-me que era um cenário onde ela estava a dormir. Nesse cenário, ela consentia. Para mim, eu não tinha intenções de a violar. Não a queria violar, não queria fazer nada de mal à família", disse.
Provas em vídeo do crime mostram uma conversa sussurrada entre Charly A. e Dominique onde os dois homens discutem um plano para drogar e violar a mãe do arguido através do mesmo método usado nas violações de Gisèle.
Nas provas, o homem de 30 anos refere que dará uma data e a morada para que o plano seja executado. Apesar de confirmarem a factualidade do que foi discutido, garantem que não violaram a mãe de Charly A., uma assistente de cuidados pessoais que tem outros dois filhos.
Questionado em tribunal sobre a origem da conversa, o rapaz afirmou ter medo de Dominique Pelicot. Refere que este lhe perguntou se existia uma outra mulher na sua família ou no seu meio que ele gostasse de violar ou que tivesse pretensões de ver a ser.
A mãe foi a escolhida, de acordo com Charly A. "porque era a única mulher que lhe veio à cabeça" e afirma que deu ainda uma foto da sua parente a Dominique porque este foi "insistente". Em tribunal, reiterou que nunca teve intenções de seguir com o plano e que foi dando desculpas para o impedir.
"Eu dei a desculpa de que o meu irmão mais novo estava em casa e que a minha mãe tinha de olhar por ele, por isso ele (Dominique) não podia vir. Eu não estava ok com isso".
A conversa tornou-se mais real quando Dominique Pelicot entregou três sedativos embrulhados em papel de alumínio ao suspeito para dar à sua mãe, e lhe explicou que teria de os esmagar na comida dela.
Charly A. indicou em tribunal que deitou os comprimidos fora, pela janela do carro, na mesma noite em que os recebeu, o que foi contestado pelo marido da vítima que afirma que este lhe devolveu os comprimidos.
"Eu amo a minha mãe da mesma maneira que qualquer filho ama a sua mãe, nada de especial", revelou Charly A. durante o julgamento, em resposta a perguntas sobre se estava zangado com a sua mãe ou se a odiava.
Testes em amostras de cabelo da mãe do arguido de 30 anos concluíram que existia uma baixa presença de sedativos consistentes com uso esporádico ou único destes comprimidos. A mulher disse às autoridades que nunca tinha usado esse tipo de medicação.
"Não sei como é que isso poderia estar no meu corpo. Não entendo", revelou.
Um psiquiatra judicial, que entrevistou Charly A., revela que o seu "uso intenso de pornografia" na adolescência desempenhou um papel na sua objetificação das mulheres.
Ao longo de cerca de dois meses de testemunhos, em tribunal já foram ouvidas dezenas de homens acusados do crime. No entanto, a maioria negou ter violado a mulher, alguns destes disseram que achavam que a francesa estaria a dormir ou a jogar um jogo, ou que tinham sentido que o consentimento dado pelo marido dela era suficiente.
O julgamento está previsto continuar até ao dia 20 de dezembro.
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