Meteorologia

  • 05 DEZEMBRO 2024
Tempo
--º
MIN --º MÁX --º

Edição

Parlamento francês aprova destituição de premiê apenas 90 dias após assumir cargo

Parlamento francês aprova destituição de premiê apenas 90 dias após assumir cargo

Parlamento francês aprova destituição de premiê apenas 90 dias após assumir cargo
Notícias ao Minuto Brasil

04/12/24 17:36 ‧ Há 6 Horas por Folhapress

Mundo França

PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Em mais um capítulo de uma prolongada crise política, a França está de novo sem primeiro-ministro, apenas 90 dias depois da nomeação de Michel Barnier. As duas extremidades do plenário da Assembleia Nacional, esquerda e ultradireita, aprovaram uma moção de censura ao governo nesta quarta-feira (4).

 

Na sessão, 331 dos 577 parlamentares votaram pela censura, derrubando o frágil gabinete de centro-direita de Barnier, o mais breve desde 1958.

"Esta moção de censura deixará tudo mais grave e mais difícil", discursou Barnier no plenário antes da votação, referindo-se à situação econômica da França. Em tom de despedida, citou Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), autor do "Pequeno Príncipe": "Cada um é responsável por todos. Cada um é o único responsável. Cada um é o único responsável por todos."

Na prática, o premiê continua no cargo apenas para cuidar dos "assuntos correntes", até o presidente Emmanuel Macron indicar seu sucessor.

Entre os vários nomes especulados estão François Bayrou, veterano centrista e próximo a Macron; Sébastien Lecornu, ex-ministro do Exército, também fiel ao presidente; e Bernard Cazeneuve, ex-primeiro-ministro, da esquerda moderada. Macron também pode pedir ao próprio Barnier que forme um novo gabinete.

O pretexto para o voto de censura foi a decisão de Barnier de impor o orçamento de 2025 sem passar por votação no Parlamento, invocando o artigo 49, alínea 3, da Constituição francesa.

O recurso ao "49.3", como é chamado, era inevitável porque Barnier não conseguiu convencer a líder da ultradireita, Marine Le Pen, a apoiar o orçamento proposto, que prevê economia de € 18 bilhões (cerca de R$ 115 bilhões).

O partido de Le Pen, a Reunião Nacional (RN), exigiu uma série de mudanças no orçamento, como a anulação de um aumento na conta de luz, para votar a favor. O governo aceitou algumas, mas não todas. De olho na eleição presidencial de 2027, cujas pesquisas lidera, e ameaçada de inelegibilidade pela acusação de desvio de fundos do Parlamento Europeu para o caixa da RN, Le Pen anunciou que votaria pela censura.

"Nós tínhamos uma escolha a fazer, e a escolha que fizemos foi proteger o povo francês", disse ela logo após a sessão.

O cálculo eleitoral explica a incongruente aliança entre os extremos da esquerda e direita para derrubar Barnier. Jean-Luc Mélenchon, líder do maior partido de esquerda, A França Insubmissa (LFI), também tem ambições presidenciais. Macron, já no segundo mandato, não pode se candidatar.

Tanto LFI quanto RN apresentaram moções de censura. Por razões regimentais, a primeira a ser votada foi a da esquerda.

Na tentativa de se salvar, o governo brandiu a ameaça de uma crise econômica e argumentou que o descumprimento dos prazos orçamentários impactará contribuintes e funcionários públicos e assustará investidores, prejudicando a economia.

"Os engenheiros do caos vão privar de orçamento nossos policiais, nossos militares, nossos agricultores", declarou a deputada Maud Bregeon, porta-voz do governo, referindo-se à RN e à LFI.

"A crise já está aqui. A única chance de o país sair da crise é rejeitar este governo, e se isto não bastar, rejeitar Macron", disse à Folha o deputado Eric Coquerel (LFI), presidente da Comissão de Finanças da Assembleia e responsável pela análise do orçamento.

Durante visita oficial à Arábia Saudita, Macron qualificou de "ficção política" o clamor da oposição pela sua renúncia. "Fui eleito duas vezes pelo povo francês", declarou o presidente, que chegou a Paris pouco antes da votação.

O risco de um "shutdown" à americana, em caso de não aprovação do orçamento, é reduzido, pois o governo dispõe de mecanismos para manter a máquina pública funcionando.

Mas os problemas econômicos franceses são reais. O déficit público é de 6% do PIB, e a dívida pública, de 112%, ou € 3,2 trilhões (cerca de R$ 20 trilhões). Em maio, a agência Standard & Poor's rebaixou a nota da dívida francesa de AA para AA-.

"A França virou Grécia-sur-Seine?", brincou esta semana em editorial o Wall Street Journal americano, uma referência à gigantesca crise da dívida grega 15 anos atrás. A França de 2024 ainda está longe, porém, da Grécia de 2009.

O risco de agitação popular existe. Agricultores ocuparam estradas contra um possível acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Taxistas têm feito operações-tartaruga (ou "escargot", como dizem os franceses) nas grandes cidades, contra uma redução da tarifa pelo transporte de enfermos.
O governo tentou cooptar deputados moderados de esquerda, sobretudo do Partido Socialista, para evitar a censura.

Barnier foi o mais efêmero primeiro-ministro da Quinta República, nome dado ao sistema político francês instaurado em 1958. Nele, apelidado de "semipresidencialismo" por alguns cientistas políticos, o chefe de governo é o primeiro-ministro, mas na prática o presidente, chefe de Estado, detém muitas prerrogativas.

A crise política francesa começou em junho. Diante do mau resultado do partido do governo, Juntos pela República, nas eleições para o Parlamento Europeu, Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições legislativas.

Sua esperança era formar uma nova e robusta maioria, aproveitando a divisão da esquerda e o temor de uma vitória da ultradireita. O tiro saiu pela culatra: os partidos de esquerda montaram uma coalizão de ocasião e conquistaram um terço da Assembleia, enquanto o Juntos perdeu mais de 70 cadeiras.

Qualquer que seja o novo governo, a crise deve perdurar, pois o Parlamento continuará rachado em três blocos mais ou menos equivalentes: esquerda, centro-direita e ultradireita.

Uma nova eleição legislativa, que poderia fazer surgir uma maioria clara, não pode ocorrer antes de junho de 2025, pois a Constituição veda duas dissoluções da Assembleia Nacional em menos de um ano.

Campo obrigatório