Europa diz que defenderá fronteiras após Trump ameaçar Groenlândia
Nesta quarta-feira (8), Múte Egede, primeiro-ministro do território, se encontraria com o rei Frederik, que recentemente alterou o brasão da família real dinamarquesa para contemplar a Groenlândia e as Ilhas Färoe
© Ralph Orlowski/Reuters
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(FOLHAPRESS) - O ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, afirmou nesta quarta-feira (8) que a Europa não permitirá "ataques a suas fronteiras soberanas" um dia depois de Donald Trump se recusar a descartar uma ação militar na Groenlândia. Quase na mesma hora, um porta-voz do governo alemão declarou em Berlim que "mover fronteiras pela força" contraria os princípios e regras da política internacional.
O presidente americano, que toma posse para seu segundo mandato no dia 20, havia dito que o território autônomo, há 600 anos parte da Dinamarca, é vital para a segurança dos EUA, assim como o Canal do Panamá. ""Não, não posso garantir [que não usaria coerção militar ou econômica]... Mas posso dizer o seguinte: precisamos deles para a segurança econômica."
No mesmo dia, seu filho, Donald Trump Jr., fazia uma "visita privada" à ilha.
A retórica da "Rambopolitik", como descreveu uma jornalista alemã, inclui também o Canadá e parte da constatação dos estrategistas de Trump de que essas áreas, sujeitas à crise climática, ganharam ainda mais peso na geopolítica dos EUA. A seca prejudica a passagem de navios de grande calado no Panamá, e o derretimento do gelo no Ártico propicia novas rotas e explorações comerciais e militares.
A movimentação carrega uma dose de ironia, já que Trump posa como negacionista do aquecimento global e promete reverter boa parte das políticas ambientais e de transição energética da administração Joe Biden.
"Obviamente, não há dúvida de que a UE não permitirá que outras nações do mundo, sejam elas quais forem, a começar pela Rússia, ataquem suas fronteiras soberanas", disse Barrot à Rádio France, quando perguntado sobre o assunto. "Somos um continente forte, precisamos nos fortalecer ainda mais."
A maior ilha do mundo, na verdade, não faz parte da União Europeia, mas é território dinamarquês, com presença militar americana desde o fim da Segunda Guerra. Leis ambientais impedem a exploração de petróleo e de certos tipos de minérios, mas seu subsolo é rico em materiais de importância estratégica, como "terras raras" e lítio. Esse seria um dos fatores a impulsionar a investida atual de Trump _em 2019, em seu primeiro mandato, ele já havia sugerido comprar o território.
O interesse americano também alimenta o movimento separatista na ilha, que ganhou autonomia em 2009, mas depende em quase tudo de Copenhague. A economia gira em torno da pesca, insuficiente para manter a população, de 57 mil pessoas. A Dinamarca, apesar da importância estratégica do território, gasta anualmente menos de US$ 1 bilhão com a região, cerca de metade do orçamento público local.
A premiê dinamarquesa, Mette Frederiksen, que há cinco anos chamou de "absurda" a oferta de compra de Trump, desta vez foi mais diplomática. "Precisamos de cooperação muito próxima com os americanos", disse, ponderando que a ilha pertence a seus próprios habitantes. "Só a Groenlândia pode determinar o futuro da Groenlândia."
Nesta quarta-feira (8), Múte Egede, primeiro-ministro do território, se encontraria com o rei Frederik, que recentemente alterou o brasão da família real dinamarquesa para contemplar a Groenlândia e as Ilhas Färoe. O novo design surgiu no mesmo momento em que a retórica sobre a ilha foi retomada por Trump.
A propalada anexação da Groenlândia aumenta a lista de pendências da UE gerada pela volta do empresário à Casa Branca. Também na terça-feira (7), Trump instou os países europeus a aumentar seu orçamento militar, para 5% do PIB, como condicionante para sua permanência na Otan, a aliança militar ocidental. O presidente americano também prometeu aumentar tarifas de importação de diversos produtos, o que afeta particularmente a Alemanha.
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