Ucrânia e Rússia ignoram trégua enquanto negociam com os EUA

Nesta segunda, uma delegação russa encontrou-se com o time negociador americano em Riad, a capital saudita

Ucrânia e Rússia ignoram trégua enquanto negociam com os EUA

© Shannon Stapleton/Reuters

Folhapress
24/03/2025 20:00 ‧ há 1 dia por Folhapress

Mundo

Guerra

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enquanto os Estados Unidos buscavam fazer avançar as negociações de paz para encerrar a Guerra da Ucrânia com nova rodada de conversas nesta segunda (24), Ucrânia e Rússia seguiram ignorando o cessar-fogo parcial a que ambos se comprometeram com Donald Trump.

 

Teoricamente, ambos os lados deveriam evitar ataques à infraestrutura energética do vizinho, mas durante a noite domingo (23) até esta manhã as ações continuaram de forma indiscriminada.

A Rússia disse ter abatido 227 drones ucranianos, sem revelar quantos haviam sido lançados. Alguns deles miraram uma estação de bombeamento de petróleo em Krasnodar (sul), que já havia sido atingida na semana passada ao lado de centrais de trânsito de gás.

Mais importante, ainda que aí não entre no escopo proposto pelos EUA para a trégua, foi o emprego de mísseis americanos Himars com munições de fragmentação contra um campo de aviação em Belgorodo, no sul russo. Segundo as Forças Especiais da Ucrânia, dois helicópteros de ataque e dois de transporte foram destruídos na noite de domingo.

A questão aqui é outra: antes de assumir, Trump criticou a autorização dada pelo então presidente Joe Biden para ataques com armas de longo alcance americanas a alvos no território da Rússia. Não se falou mais nisso, mas o ataque na região fronteiriça não deverá ser bem recebido pela Casa Branca.

Na mão inversa, Moscou lançou 99 drones contra alvos em toda a Ucrânia, com a Força Aérea local relatando a derrubada de 57 deles.

Ao menos quatro pessoas morreram, disse Kiev. Em Sumi (nordeste), uma ação com mísseis feriu 88 pessoas, segundo a prefeitura. O Kremlin diz que a ordem para não atacar infraestrutura energética está valendo, mas os ucranianos relataram danos à distribuição elétrica.

Nesta segunda, uma delegação russa encontrou-se com o time negociador americano em Riad, a capital saudita. É a terceira vez que isso ocorre: houve uma reunião de mais alto nível, com os chefes da diplomacia dos dois lados presentes, na mesma cidade há mais de um mês, e depois um encontro de nível técnico na Turquia.

Ainda que oficialmente todos os itens de uma eventual paz possam estar na mesa, o foco segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, é a volta da chamada Iniciativa de Grãos do Mar Negro. Não houve anúncios, que poderão ser feitos nesta terça (25).

O arranjo mediado pela Turquia e pela ONU permitiu, de julho de 2022 a julho de 2023 que a Ucrânia escoasse sua produção de grãos até o Mediterrâneo e, dali, para mercados globais. A Rússia queria o mesmo para seus fertilizantes, mas sempre se queixou que Kiev não cumpria sua parte, atacando com drones marítimos seus navios.

Vladimir Putin determinou a saída do acordo, mas na prática Kiev tem mantido suas exportações, usando principalmente portos da foz do Danúbio, onde seus navios podem sair rapidamente para o mar territorial da Romênia, membro da aliança militar ocidental Otan.

Os ataques aos portos, contudo, continuam. Odessa, o principal da Ucrânia, foi alvo de ataques duros na semana passada, por exemplo. Para os russos, a retomada do uso do mar Negro para sua exportação de fertilizantes pode baratear o custo do escoamento por outros pontos e países.

Depois da conversa com os russos, a equipe americana se encontrou com um grupo ucraniano, hospedado no mesmo local, o hotel Ritz-Carlton. Não houve relatos objetivos sobre o que foi debatido.

Coube a Trump, em Washington, repetir a repórteres sua lista de desejos já citada anteriormente, além de afirmar que o acordo para exploração de minerais estratégicos com Kiev estava pronto para ser assinado.

"Nós estamos falando sobre território agora. Estamos falando sobre linha de demarcação, sobre energia, propriedade de usinas de energia", afirmou, numa provável referência à planta nuclear de Zaporíjia, ocupada por Moscou e que ele sugeriu ser transferida para os EUA.

São encontros em tese mais técnicos, sem altas autoridades, embora o enviado americano para o conflito, Steve Witkoff, esteja presente. O ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, também tenha ido a Riad.

Na véspera, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, havia se encontrado com o poderoso chefe de gabinete de Volodimir Zelenski, Andrii Iermak, em Jiddah, também na Arábia Saudita. O teor das conversas não transpareceu ainda, mas ambos os lados disseram o protocolar "foram produtivas".

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