Brasileiros que vivem no Reino Unido dizem que separação é 'xenofóbica'
Jovens brasileiros com cidadania europeia revelam que não pretendem permanecer no Reino Unido após a decisão de separação
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Mundo União Europeia
Os brasileiros que moram atualmente no Reino Unido consideram que a
decisão de o país deixar a União Europeia é xenofóbica e excludente. Em entrevista ao G1, eles destacaram que estão incertos sobre seu futuro depois do resultado do referendo.
A reportagem conversou com Renata Silva, de 25 anos. Ela saiu de São Paulo há nove meses para fazer mestrado em sociologia urbana em Londres. A jovem teve algumas facilidades em relação à entrada no país pois possui cidadania italiana.
Renata contou que os seus planos eram terminar o curso e ficar mais um ano trabalhando em Londres. No entanto, após a decisão do Reino Unido de se separar da União Europeia (UE), seu futuro se tornou incerto. “Até então, tinha certeza de que faria isso, mas hoje eu já não sei. Não se sabe ao certo o que isso significa para os europeus”, disse.
A jovem acredita que a saída do bloco europeu foi bastante negativa. “Há um pensamento de que o imigrante está roubando emprego dos locais, utilizando o sistema de saúde de graça e se aproveitando dos impostos. Para mim, é evidente o quão xenofóbico isso é”, criticou. “Estão chamando de Dia da Independência. Vindo de um dos maiores colonizadores do mundo, isso é no mínimo muito insensível.”
A publicação também conversou com o paulistano e cidadão português Francisco Torres Neto, 24 anos. O jovem mora na capital inglesa há dois anos e conta que também vê a medida como um ato xenofóbico. “Eu mesmo não me sinto bem-vindo aqui”, afirmou.
Francisco está à procura de emprego e avalia que a busca deve ficar ainda mais difícil com a desvinculação da UE. “Por mais que o governo tenha dito que nada vai mudar em dois anos, acho que as empresas ficarão com um pé atrás [em contratar pessoas da UE] por pensar que vai ser mais difícil conseguir o visto para esse trabalhador”, considerou.
O jovem revela que já mudou de planos. “Não quero ficar num lugar que não quer receber estrangeiros. Penso em procurar algo em Portugal ou na Alemanha”, conta. "Estão pedindo calma, pois não sabem o que de fato vai acontecer, mas assim não posso planejar minha vida. É um sentimento horrível."
A decisão também gerou um clima de incerteza para quem já tem um emprego. Martina Gurgel, 24 anos, saiu de Campinas (SP) para Londres há seis meses e logo conseguiu uma vaga numa pequena empresa italiana do setor de moda. A jovem possui cidadania italiana, mas ser cidadã europeia já não é garantia para morar no Reino Unido.
“Como a empresa onde trabalho faz parte da UE, ela tinha as mesmas regulamentações, as mesmas regras para impostos que a Inglaterra. Agora o país vai propor outras leis, que não serão necessariamente convenientes para a marca ficar aqui”, explica.
A jovem acredita que a decisão é um atraso na globalização. “É como dar trinta passos para trás. As pessoas têm medo da quantidade de imigrantes aqui. No fim, acho que foi um tiro no pé deles mesmos”, disse Martina ao G1.
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