Saiba como vive a única família brasileira que mora na Coreia do Norte
Acesso limitado, dificuldade para obter produtos ocidentais e diferenças culturais são algumas das dificuldades de viver em Pyongyang, segundo embaixador
© Yuri Maltsev/Reuters
Mundo em meio à tensão
O Brasil é um dos poucos países que mantém negócios com a Coreia do Norte após as sanções internacionais impostas ao país. Para garantir que as negociações fluam normalmente, um embaixador brasileiro e a sua família vivem no local, que é o principal foco de tensões globais.
O gaúcho Cleiton Schenkel, de 46 anos, encarregado de negócios da embaixada, a mulher dele, servidora pública em licença, e o filho pequeno moram em Pyongyang, capital do país, há pouco mais de um ano. Além deles, mais uma brasileira vive na Coreia do Norte: a mulher do embaixador da Palestina, que nasceu no Brasil e tem cidadania, mas saiu do país quando criança.
Schenkel trabalha há 11 anos no Itamaraty e chegou a Pyongyang em junho do ano passado para liderar sozinho a representação diplomática, que possui com seis funcionários locais. O gaúcho trabalha na embaixada diariamente e, ocasionalmente, tem reuniões com membros do governo ou com representantes dos outros postos e organizações internacionais no país.
"Minha função é, predominantemente, de observação política. O Brasil é o único país das Américas com embaixadas nas duas Coreias. Nossa presença aqui nos permite formar uma visão própria sobre as questões na península", contou Schenkel em entrevista à "BBC".
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A família vive no bairro diplomático, que tem uma estrutura completa, onde só é permitida a entrada de diplomatas ou funcionários das embaixadas.
Segundo Schenkel, os produtos ocidentais são escassos, assim como entretenimento. Nos cinemas, por exemplo, só passam filmes locais sem legenda. A internet também não é completamente liberada, mas sites como Google, Facebook e Instagram funcionam normalmente. "Acabamos ficando bastante em casa pelas peculiaridades do país", diz ele.
Em geral, os estrangeiros que vivem no país não utilizam o won, que é a moeda local. A maior parte dos gastos só podem ser feitos em euro, dólar ou yuan chinês.
Outra limitação é o acesso a regiões fora do bairro diplomático, que, muitas vezes, são monitorados e, dependendo do local, só podem ir acompanhados por funcionários do governo norte-coreano. É preciso pedir autorização para frequentar os museus e até usar o metrô.
Quando questionado sobre a principal diferença que sentiu ao chegar à Coreia do Norte, o embaixador diz que é a "cultura militar" do povo. "Eles são muito disciplinados. Existe uma cultura militar que é muito forte aqui e isso se reflete em toda a sociedade. (...) É normal passar de carro diante de um ponto de ônibus aqui e ver 50 norte-coreanos esperando pelo transporte em fila indiana", explicou.
Sobre um possível fechamento da embaixada brasileira em Pyongyang, o Itamaraty informou à reportagem em nota que "dedica atenção constante àqueles postos nos quais possam vir a ocorrer situações capazes de colocar em risco nacionais brasileiros".
Apesar das tensões crescentes, Schenkel afirma que tem "a exata noção da sensibilidade da situação", mas não vivem com "medo ou pânico". Ele diz que estão "apreensivos".
De acordo com dados do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços), o fluxo comercial no ano passado foi de US$ 10,75 milhões (cerca de R$ 34 milhões em valores atuais). Em 2008, as transações atingiram o seu auge e somaram US$ 375,2 milhões.